Dois dias após a reeleição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a situação no país vizinho evoluiu para um golpe de Estado aberto. Líder da direita pró-imperialista venezuelana, María Corina, afirmou que o candidato do imperialismo teria ganho com 70% dos votos, versão rapidamente difundida por toda a máquina de propaganda dos monopólios internacionais. No X, Corina reforçou a campanha golpista, aumentando o desafio contra o movimento bolivariano e convocando uma manifestação para esta quarta-feira (31):
“Queridos venezuelanos, amanhã nos encontraremos; como família, organizados, demonstrando a determinação que temos em fazer valer cada voto e defender a verdade. Encontramo-nos em frente às Nações Unidas, na Av. Francisco de Miranda em Los Palos Grandes, das 11h00 às 12h00. Ganhamos, temos as provas e agora vamos cobrar e celebrar! Edmundo González é Presidente da Venezuela!”
Também no X, o perfil Observatorio de Conflictos informou que “até às 18 horas [do dia 30], foram registados 187 protestos em 20 estados do país”. Já a ONG Foro Penal informou, na mesma rede social, que ao menos seis pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e 132 foram presas durante os protestos.
Contrariando a propaganda imperialista quanto à situação do país e quebrando o silêncio sobre o tema, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, minimizou os eventos dizendo “não ter nada de grave” na nação vizinha. Na terça-feira, o presidente concedeu uma entrevista à TV Centro América (afiliada da Rede Globo), declarando:
“É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar.
Não tem nada de grave, nada assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a terceira guerra mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que teve 51%. Teve uma pessoa que diz que teve quarenta e pouco por cento. Um concorda, outro não. Entra na Justiça.”
Do lado dos golpistas, um órgão que se destacou pelo cinismo foi o britânico The Economist, que, em matéria intitulada Nicolás Maduro claims implausible victory in Venezuela’s election (29/7/2024), declarou:
“Esta afirmação [a vitória de Maduro] é inacreditável. O Sr. Maduro é impopular e incompetente. A sua ‘revolução bolivariana’, herdada do seu antecessor Hugo Chávez, já falecido e igualmente autocrático, prometia prosperidade e poder popular. Em vez disso, imiscuiu-se na Venezuela, graças à má gestão do sector petrolífero estatal (o principal produto de exportação), à asfixia da iniciativa privada e a um clientelismo e corrupção desenfreados. A hiperinflação registada no início do governo de Maduro diminuiu, mas a inflação continua a atingir 50% ao ano. Nos oito anos até 2021, o PIB caiu três quartos. Outrora o país mais rico da América do Sul, os venezuelanos lutam agora para ganhar a vida. O Sr. Maduro geriu a economia de forma tão desastrosa que, na última década, cerca de um quarto da população emigrou. (As sanções americanas também têm sido dolorosas para a população).”
Em um esforço para manter as aparências, o semanário britânico lembra que a Venezuela sofre os efeitos de uma ingerência genocida, na forma de sanções, porém joga ao regime nacionalista a responsabilidade pela desorganização da economia venezuelana, e não do bloqueio criminoso. A política do imperialismo, que castiga a população civil, foi também criticada pelo presidente Lula:
“Acho que é preciso acabar com a ingerência externa em outros países. A Venezuela tem o direito de construir seu momento de crescimento sem que haja bloqueio”, disse o mandatário brasileiro.
Apesar de Lula declarar não ver “nada grave”, manifestantes fascistas têm tentado provocar caos no país vizinho. Em um momento análogo ao golpe do Euromaidan, ocorrido na Ucrânia em 2014 e responsável por levar a extrema direita ao poder, manifestantes atearam fogo em um hospital de Caracas. Segundo o parlamentar russo e observador do processo eleitoral em Caracas Alexei Volotskov, existe uma mentalidade de “hooligan” nas manifestações, que “definitivamente” recebem “financiamento do exterior”:
“Isso é definitivamente financiamento do exterior, e tais visões radicais de jovens com mentalidade de hooligans que podem estar procurando ganho econômico nesta questão – pegar alguma propriedade, quebrar algo e roubar, provavelmente tudo isso é multiplicado”
A esquerda latino-americana precisa se unir ao regime bolivariano e apoiar o governo do PSUV que, nesse momento, é alvo de uma tentativa de golpe por parte do imperialismo. A vacilação na luta contra a opressão vinda dos monopólios norte-americanos e europeus coloca um alvo sobre cada país da região e fortalece os intentos golpistas da ditadura imperialista. É preciso reafirmar o apoio a Maduro de maneira enérgica, protestando contra a intromissão dos lacaios do imperialismo e em defesa da soberania venezuelana.