Terra Vermelha – Boletim do Coletivo de Luta Indígena do PCO e Simpatizantes – Nº 3
Desde o dia 14 de julho, quando os índios Guarani-Caiouá realizaram uma série de retomadas de suas terras griladas pelo latifúndio em duas retomadas da Terra Indígena Panambi Lagoa Rica, Gwa’aroka e Guyra Kambiy, localizadas no município de Douradina (MS), os latifundiários se organizaram com pistoleiros e o apoio do governo tucano inimigo dos índios e do povo trabalhador, para atacar nossa gente com extrema violência.
A violência e terror aplicado pelos latifundiários e governo do estado contra Guarani-Caiouá já era esperada e novas tentativas de impedir a demarcação da terra dos índios foram colocadas em prática.
Cortando direitos
Uma proposta criminosa foi apresentada por diversas organizações, incluindo o Ministério dos Povos Indígenas, aplaudida amplamente pelos latifundiários e o governo de extrema direita. A proposta é a retirada dos direitos conquistados a duras penas, com uma intensa luta que ceifou muitas vidas e derramou muito sangue de nossos irmãos.
A proposta vergonhosa é de que nosso povo guarani abra mão das nossas terras já identificadas e delimitadas, na área total de 12 mil hectares, por uma pequena propriedade de apenas 150 hectares. Ou seja, apenas 1,2% das terras que já foram comprovadas com estudo, que eram utilizadas pelas mais de 100 famílias Guarani-Caiouá das quais foram expulsas recentemente.
Essas demarcações de terras minúsculas são chamadas de “chiqueirinho” e retiram a esmagadora maioria das terras dos índios que ficariam para grileiros e latifundiários.
A opção do “chiqueirinho” é a perda total do principal direito dos índios Guarani-Caiouá, a terra que sempre viveram e perpetuaram seu modo de vida e que foi retirada com a grilagem de terras e violência do Estado e do latifúndio.
Direitos conquistados não estão em negociação e a opção do “chiqueirinho” é uma afronta a todos aos Guarani-Caiouá e todo seu histórico de luta pela terra e outros direitos.
Por isso, é preciso dizer não à perda de direitos de todos os índios e repudiar amplamente a política do “chiqueirinho”.
Todo apoio à luta em Douradina
A luta dos índios Guarani-Caiouá da Terra Indígena Panambi Lagoa Rica, em Douradina (MS), para demarcar seu território, cujo processo está paralisado há mais de 20 anos, deu visibilidade nacional à luta dos índios de todo o País e se transformou em uma trincheira de luta importante contra os latifundiários e o governo do estado do Mato Grosso do Sul que prontamente se organizou para atacar nosso povo e as demarcações.
Ao invés de esperar por medidas dos governos que sempre atacam a luta pela terra ou supostos apoiadores que apenas bloqueiam o processo de luta, os índios iniciaram a única forma de luta para garantir os seus direitos pela terra: as retomadas e a autodemarcação!
A mobilização para as retomadas foi um enorme acerto que chamou a atenção de diversas organizações de luta e de apoio aos índios e está forçando o Estado a tomar medidas, encenando uma negociação. E para que sejam tomadas medidas que avancem no processo de demarcação é preciso mobilizar ainda mais.
Os latifundiários também se mobilizaram, com apoio de políticos da extrema direita, com pistolagem e com a força da repressão do estado do Mato Grosso do Sul. Assim como os latifundiários, é preciso que o movimento dos índios mobilize mais integrantes da luta de outras regiões do estado, de aldeias e retomadas que não estejam em conflito imediato e se desloquem para Douradina para defender da maneira que for necessária contra os ataques e o despejo dos índios da Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica.
E as organizações sindicais e políticas, parlamentares da esquerda etc. tem o dever de apoiar por todos os meios esse movimento de defesa dos índios, pois a direita está tomando essas medidas com apoio total ao acampamento de pistoleiros colocado ao lado da retomada.