Retomada de povos Guarani e Kaiowá no MS. Foto: Reprodução

Por Ana Luiza, Bruno Silva, Carolina Costa e Luana Silva*
Da Página do MST

Artigo mostra dois lados antagônicos na história dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul e as lutas nas retomadas dos territórios dos povos originários. São “dois projetos societários em confronto declarado, em evidente assimetria de poder. Desfilando as caminhonetes, [que] disparam fogos de artifício perto das retomadas, reforçando as ameaças e o terror. Da parte dos Guarani e Kaiowá, os mbarakas e tacuaras dos quais retiram a força da sua reza e o canto nas vozes das mulheres anciãs são os alentos coletivos para continuar a luta por seu tekoha”.

O texto apresenta a primeira parte do artigo “Marco Temporal e outras armadilhas neoliberais: a velha aliança genocida do capital e Estado sobre os Guarani Kaiowá (MS)”, produzido pela autoras. Fique de olho no site do MST para acompanhar a segunda parte.

Violência contra os Guarani e Kaiowá e a mãe-terra

Na manhã do dia 13 de julho de 2024, no município de Douradina, Mato Grosso do Sul, o povo Guarani e Kaiowá iniciou a autodemarcação do seu território longamente esperado. A reivindicação é de uma área de 12.196 hectares em estudo e já identificada. Envolve os territórios de Gua’aroka, Yvy Ajhere, Ita´y Ka’agurusu, Pikyxi´yn, Kurupay´y, Tajasu Ygua e Guyra Kambi ́y, na qual se encontram sobrepostas grandes propriedade de monocultivo de soja e de milho.

A reação violenta dos grandes proprietários rurais, cujas fazendas incidem nos territórios Guarani e Kaiowá, foi imediata. Um primeiro momento de terror com dezenas de camionetes cercando, perseguindo e disparando contra a comunidade deixou vários feridos, Guarani e Kaiowá.

Terras Indígenas no MST. Imagem: reprodução Maxar Technologies 2024

Dois lados antagônicos nessa história. Dois projetos societários em confronto declarado, em evidente assimetria de poder. Desfilando de dia e sobretudo à noite, as caminhonetes disparam fogos de artifício perto das retomadas, reforçando com os faróis as ameaças e o terror. Da parte dos Guarani e Kaiowá, os mbarakas e tacuaras dos quais retiram a força da sua reza e o canto nas vozes das mulheres anciãs são os alentos coletivos para continuar a luta por seu tekoha.

Em outro vídeo que circula nas redes sociais, é possível escutar tiros vindos das agromilícias em suas caminhonetes que ultrapassam constantemente as barricadas formadas pelos Guarani e Kaiowá.

Os ruralistas em Douradina vêm realizando táticas semelhantes às da Invasão Zero, lançando mão de diversos expedientes para projetar sua truculência nas retomadas como uma luta social dentro da legalidade com atos em frente ao Ministério Público, apoiados por políticos bolsonaristas.

As migalhas destinadas aos direitos sociais, seja educação, saúde, Reforma Agrária e demarcação de terras indígenas são apresentadas ideologicamente como uma grande solução e como o horizonte final ao qual o povo brasileiro deve se adaptar. Elas cumprem um papel conciliatório na dimensão ideológica, mas na prática são parciais e acabam por neutralizar as lutas tão necessárias à melhoria das condições de vida de toda a população.

Os limites da política conciliatória do atual governo e a insuficiência das pseudo alternativas impostas pelo capital em crise já foi percebida pelas comunidades Guarani e Kaiowá. Para garantir formas de vida digna e a própria sobrevivência não há mais opção do que efetivar com suas próprias forças comunitárias a auto demarcação dos territórios.

*Ana Luiza, Bruno Silva, Carolina Costa e Luana Silva*
Da Página do MST

**Editado por Solange Engelmann

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Governo Lula,

Última Atualização: 31/07/2024