Mulheres dedicam mais tempo ao trabalho reprodutivo quando comparadas aos homens. Segundo um estudo do Ipea, ser mulher, por si só, implica em uma carga extra de 12 horas semanais em atividades domésticas e de cuidados não remunerados.
Além disso, 93% das mulheres afirmam realizar essas tarefas, enquanto entre os homens esse número é de 79%, de acordo com dados do IBGE de 2019; em 2001, essa porcentagem era de apenas 46%. Apesar de esses dados não detalharem a organização familiar ou a carga mental envolvida, há esperanças!
Mas calma lá! Quando nomeamos uma mulher como herói, invocamos um arquétipo embasado na força e luta constante pela sobrevivência. Somos heróis, portanto? Claro! Existe outra opção? Isso não deveria ser ovacionado e sim defrontado. Somos heróis por necessidade social, porque precisamos combater a nossa organização social, embasada em misoginia, machismo, violência.
Enquanto espécie, a humanidade conseguiu sobreviver e procriar apenas por conseguir se organizar coletivamente. Aguentar a sobrecarga não é virtude, é triste. Significa que essa mulher não tem espaço para largar tudo, chorar, e cuidar de si mesma. Não é bonito, é solitário.
Quantas jornadas de trabalho tem uma mulher? Como é a rotina da mulher brasileira? Quantos papéis ela precisa preencher para conseguir sobreviver?
Entre 2013 e 2023, a quantidade de lares com mulheres enquanto protagonistas econômicas passou de 23,5 milhões para 40,1 milhões, um aumento de 71,4%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. As famílias chefiadas por mulheres passaram de 36,2% para 51,5% no mesmo período.
Não é de se estranhar que mulheres, especialmente mulheres mães, estejam ansiosas. O “Estudo Materna: o que pensam e querem as mães”, realizado em 2024 mostrou que 90,2% das mulheres mães se sentem ansiosas, 55,6% dessas, diariamente.
No geral, o Brasil lidera o ranking mundial de ansiedade segundo a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) – 9,4% da nossa população é afetada. Poderia ser o skate, poderia ser a ginástica, mas essas medalhas de ouro nos foram tiradas. E, enquanto parece que só falamos de alguns esportes a cada quatro anos, as queixas de ansiedade são minha quinta-feira padrão no consultório de ginecologia – mesmo que eu não seja profissional direta da saúde mental. Estamos exaustas!
Então, heróis, não sei se vai melhorar. Definitivamente não vai melhorar amanhã ou até as próximas férias escolares, não sem luta. Enquanto isso, choramos escondidas e postamos fotos felizes nas redes, enchemos as salas de cinemas para assistir a Divertidamente 3 com a desculpa de entreter as crianças, e comemoramos o retorno às aulas.