Uma saga épica, essa é a melhor definição para a aventura vivida pela Confederação Brasileira de Desportos para garantir a participação de atletas brasileiros nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1932.

O Brasil enfrentava um período de grave crise financeira, resultado da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929, e o governo Getúlio Vargas não dispunha de recursos suficientes para enviar os atletas para a competição esportiva.

A solução encontrada foi a cessão do navio de café Itaquicê para a viagem da delegação brasileira até a cidade norte-americana.

No entanto, os problemas não pararam por aí. Havia outros custos, como os custos da estadia, que também precisavam ser resolvidos.

Novamente, o café foi apontado como alternativa e os atletas levaram a bordo, nos porões do navio, cerca de 55 mil sacas de café, que venderiam nos portos durante as paradas da viagem para arrecadar dinheiro suficiente para financiar suas estadias em Los Angeles.

Durante a viagem, um dos momentos de grande tensão foi a passagem do navio pelo Canal do Panamá. Para tentar escapar do imposto cobrado pela passagem no canal, os brasileiros camuflaram o navio com falsos canhões para que parecesse uma embarcação militar, mas o truque não funcionou e os fiscais rapidamente perceberam a artimanha.

Depois de mais de um mês de viagem, os atletas descobriram ao chegarem em Los Angeles que as autoridades norte-americanas cobrariam um dólar para cada passageiro que desembarcasse na cidade.

Sem dinheiro suficiente para o desembarque de todos os atletas, foram desembarcados 67 e o restante foi encarregado da missão de ir até o porto da cidade californiana de São Francisco para tentar vender as sacas de café.

Um dos atletas que não foram autorizados a desembarcar, o corredor Adalberto Cardoso, inconformado com a decisão, conseguiu dar um jeito de sair da embarcação e percorreu de carona e a pé o trajeto de 600 km que separam as duas cidades da Califórnia e conseguiu chegar no estádio olímpico 10 minutos antes da sua prova de 10 mil metros.

Cardoso ficou em último lugar na prova, mas foi mais ovacionado do que o primeiro lugar, pela sua façanha, que àquela altura já era conhecida pelo público presente no estádio.

O Brasil finalizou sua participação nas Olimpíadas de Los Angeles sem ganhar nenhuma medalha, mas além do esforço heroico dos atletas para estarem lá, há de ser destacado o papel da nadadora paulista Maria Lenk, que se tornou a primeira mulher sul-americana a disputar uma edição dos jogos, participando das provas de nado de 100 metros livres, 100 metros costas e 200 metros peito.

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Última Atualização: 30/07/2024