Após mais de 100 dias de paralisação, a burocracia sindical e o governo pressionam para o encerramento da greve. Após um esforço gigantesco para conter os trabalhadores, desviando sua energia, a burocracia que enfraqueceu a mobilização tenta desesperadamente fazer com que os trabalhadores aceitem o acordo proposto pelo governo.

Nossa realidade é simples, o governo Lula é refém da burguesia, e os trabalhadores da educação estão reféns da burocracia. Neste cenário de 0% para os trabalhadores e bilhões para os capitalistas, apenas os banqueiros ganham, impondo ao Estado uma política de sucateamento e privatização do ensino público.

A paralisação precisa prejudicar as atividades

Em uma paralisação sem parar as atividades, a categoria não tem como negociação para ter as atividades atendidas. É algo elementar, mas a maioria dos dirigentes atuais ignoram essa realidade.

Mesmo havendo um grande apoio à paralisação, com adesão massiva da categoria, essas direções não enfrentaram o Estado, e permitiram a continuidade das atividades. Esse é um dos fatores que explicam a relevante diferença de resultados obtidos das campanhas de docentes com maior poder de paralisação e técnicos.

Unidade para ação

Nossa força advém dos nossos números, da nossa unidade e principalmente da mobilização. Infelizmente, unidade e mobilização são práticas poucos comuns à burocracia sindical.

Na política não existe a preferência de formas predeterminadas, tudo depende das condições objetivas. Nas condições atuais, onde os interesses da maioria da burocracia sindical destoam entre si, e dos interesses da base, o modelo de gestão colegiada, atual da FASUBRA, seguido pelo SINTESPB, que já foi um elemento de unidade, tornou-se um empecilho ao funcionamento das entidades.

A quase totalidade da burocracia deseja apenas se atrelar ao Estado, para alguns a maior pretensão é defender exclusivamente o governo, enquanto outros apenas o atacar seguindo a campanha da direita, os priorizam os interesses das bases, nesse momento, são exceções.

Desgaste do movimento paralisista

Com uma oposição constante e tempo qualquer muralha vai a ruinar, não sendo diferente com o movimento paralisista. No empate de resistência ganhar aquele com menor consumo e maior reposição.

Após mais de 100 dias de paralisação, sob orientação da burocracia, os trabalhadores tiveram o fundo de paralisação de suas entidades exaurido, total ou parcialmente, sem obter ganho significativos na campanha. Sob a política de não enfrentamento com o Estado, sem uma campanha política de defesa da paralisação e ocupação dos órgãos públicos, os trabalhadores adentram numa disputa de resistência onde apenas um lado, o dos trabalhadores, é esgotado física e mentalmente.

A burocracia está correta quando afirma que o movimento está desgastado, mas é desonesta não assumindo sua culpa pelo mesmo. Foi a política da burocracia que dificultou a reposição do movimento paralisista afastando os trabalhadores do movimento, e foi essa mesma burocracia que diminuiu o desgaste do Estado não frear a radicalização do movimento.

Ponto de inflexão

A cada momento o leque de possibilidades se estreita, há essa altura da paralisação as possibilidades tendem a derrota. Derrota está agravada devido sua promoção pela burocracia.

Essa derrota pode ser parcial aceitando o acordo e recebendo os trocados, com atendimento total ou parcial de algumas reivindicações, mas sem aumento em 2024. A derrota ainda pode ser dar na totalidade, por meio da rejeição do acordo, sem mobilização da categoria e assim consequente força para angariar condições melhores.

Há única possibilidade de vitória seria mediante uma mobilização massiva que paralisasse essa parte do funcionamento do Estado, forçando o governo a melhorar sua oferta. A questão é que a mesma burocracia que freou e cansou o movimento está à frente da maioria de suas entidades, impedindo essa mobilização.

O governo Lula

Inicialmente, mesmo antes da paralisação, o governo Lula teve uma conduta democrática com a categoria, estabelecendo mesas de negociação permanente, concedendo 9% em 2023. A questão é que após sofrer uma série de derrotas para a burguesia, impostas pelos seus aliados, como Tebet e Hadad, o governo suprimiu o orçamento para os trabalhadores.

A posição de Lula não é de mobilizar para enfrentar a burguesia ou romper suas alianças estranhas, que lhe impuseram derrotas como a votação da taxa Selic no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, mas apertar o cinto do trabalhador que lhe concedeu esse último mandato.

Os banqueiros ficam com mais da metade do orçamento público federal, nossa economia agoniza nas mãos dos monopólios imperialistas, que sugam todo o excedente, deixando migalhas aos trabalhadores. Essa é a questão central na política brasileira, que foi alvo de queixas do Lula após suas últimas derrotas, infelizmente essas queixas ainda não se refletiram devidamente em sua política.

Essa política do PT de capitulação perante a burguesia, favorece o retorno da extrema-direita, colocando-se na contramão do imposto pela realidade. Assim como o golpe de 2016 no governo do PT, foi um golpe em toda população, essa política de capitulação não apenas favorece a extrema-direita, como arrasta toda a esquerda ao abismo.

Lições.

Preleção da paralisação de 2024

Independente do resultado da campanha, a grande lição desta paralisação é que com a política dessas burocracias nas direções das entidades os trabalhadores não irão ganhar mais nada. Os resultados ocasionados pela burocracia foram insuficientes, seja na mobilização paralisista, que ocorreu independentemente destas, seja no enfrentamento com o Estado, que basicamente não ocorreu, seja na negociação com o governo, aqui a sua eficiência não foi pior devido à fragilidade dos negociadores estatais.

Essas direções mantiveram na paralisação a mesma prática do seu cotidiano, promovendo mais danos que benefícios aos trabalhadores. Para terem seus interesses atendidos, cabe aos trabalhadores superar esse entrave político e reorganizar suas entidades.

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 30/07/2024