Eleições na Venezuela

@historia_pensar

As pessoas não gostam quando eu falo isso, mas é real: uma boa parte do problema da esquerda brasileira com Maduro é que ela é deslumbrada.

Nós temos uma parcela grande da esquerda que anseia por parecer sofisticada, cosmopolita, europeizada, academicamente versada.

Uma esquerda que tem nojinho daquilo que tem cheiro popular. Ela gosta do povo enquanto abstração, enquanto metáfora para alimentar o próprio viés de confirmação.

Uma esquerda “classe média sofre”. Uma esquerda “white people problems”.

E o Maduro é insuportável pra essa turma. Imagina, o cara era motorista de ônibus. Ele parece aqueles tiozão de padaria. Ele fala de rinha de galo. Faz live dançando merengue. Ele mete uns chavão de religião que parece aquelas coisas que a tua tia crente manda no zap.

A esquerda não quer isso. A esquerda quer um sociólogo, um filósofo, um cara que lance referências intelectualizadas. Que poste poema de Rupi Kaur. Que saiba discutir sobre Chomsky.

Ele quer alguém que ele possa mostrar pro europeu e falar “olha, esse é meu presidente”. Não pode ser o Maduro, o Maduro ia envergonhar a pessoa.

Muita gente hoje em dia vem com papinho de “ainn, mas o Maduro traiu o Chávez”. Mas na época em que o Chávez estava vivo, eles tratavam o Chávez da mesma forma. Porque o Chávez era a mesma coisa.

‘Era popularesco, conectado com identidade do povo. Do povo mesmo, não da metáfora. E esse é o cerne da vitória da revolução bolivariana. É o povo que se viu representado ali. Que viu um igual em Chávez, que vê um igual em Maduro.

Evo Morales também. Muita gente – inclusive que paga de esquerda radical – torceu o nariz pro primeiro presidente indígena da Bolívia.

Até professor da USP metido a esquerda revolucionária insinuando que ele traficava cocaína rolou por aí em 2019. Hoje não pega bem meter essa, né.

Aí meu, amigo, complica. Tu quer Macron, tu quer Kamala, tu quer Merkel, tu quer ser europeu, tu quer ser americano. Tu não é. Cai na real.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Última Atualização: 29/07/2024