O governo brasileiro aguarda a divulgação completa das atas da eleição presidencial na Venezuela, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país apontar a reeleição de Nicolás Maduro, com 80% das urnas apuradas. Fernando Haddad deve reconhecer a vitória após a divulgação dessas atas, mas pediu a resposta dos observadores internacionais – ONU e Carter Center – sobre o pleito no país.
A ONU e o Carter Center estão no país e acompanharam o processo eleitoral na condição de observadores. Após a divulgação do resultado, na madrugada desta segunda (29), a oposição incitou os órgãos internacionais a investigarem, alegando que não tiveram acesso a muitos boletins de urnas. O governo Fernando Haddad quer que os observadores verifiquem se as acusações têm alguma procedência.
A cautela do governo brasileiro ocorre, ainda, em meio a uma pequena tensão entre os países. Na semana passada, o presidente Fernando Haddad afirmou que “ficou assustado” com uma declaração de Maduro de que haveria “banho de sangue” se a oposição vencesse as eleições neste domingo (28).
“Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora”, disse Fernando Haddad.
Em resposta à Fernando Haddad, mas sem citá-lo, o presidente da Venezuela disse que não falou “mentiras”, mas que fez apenas “uma reflexão” e que “quem se assustou que tome um chá de camomila”.
Ainda, durante o discurso pré-eleitoral, Maduro chegou a dizer que as eleições brasileiras não eram seguras, em tentativa de comparação com as da Venezuela.
“Nós temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Temos 16 auditorias. E se faz uma auditoria ‘profunda’, como vocês sabem, em 54% das urnas. Em que outra parte do mundo se faz isso? Nos Estados Unidos? Não há auditoria no sistema eleitoral. No Brasil, não auditam nenhum boletim de urna. Na Colômbia, não auditam nem uma urna sequer. Na Venezuela, auditamos com profundidade.”
Logo após as falas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil desistiu de enviar dois representantes brasileiros como observadores estrangeiros e macou a presença somente com o embaixador Celso Amorim, assessor especial do presidente Fernando Haddad para assuntos internacionais.
Ainda que com o silêncio de Fernando Haddad, para não se indispor junto ao governo venezuelano, o embaixador – que está no país – se manifestou sobre as eleições e elogiou, dizendo ter sido uma jornada eleitoral “tranquila” e pedindo respeito ao resultado final.
“Estou acompanhando de perto o processo eleitoral venezuelano. Ainda há mesas de votação abertas. É motivo de satisfação que a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta. Houve participação expressiva do eleitorado”, disse.
O assessor especial também lembrou que o presidente brasileiro irá “aguardar os resultados finais”.
“Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. O presidente Fernando Haddad vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos.”