Pais de todo o mundo expressaram dúvidas sobre a transparência da eleição presidencial de domingo na Venezuela, onde o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou a vitória de Nicolás Maduro, com 51% dos votos, ante 44% do opositor Edmundo González Urrutia.
Apenas alguns aliados expressaram apoio irrestrito ao presidente reeleito.
Oposição unificada
Em 2018, o sucessor do falecido Hugo Chávez venceu uma eleição boicotada por seus principais adversários. Ele teve 47 pontos de vantagem para o segundo colocado, Henri Falcón, candidato de uma oposição dividida.
Mas no domingo 28, a oposição estava unida na eleição. As pesquisas apontavam certo favoritismo do candidato Edmundo González Urrutia, um “outsider” escolhido pela carismática e popular líder opositora María Corina Machado, que foi impedida de concorrer por uma inabilitação política.
Mesmo assim, Maduro ficou sete pontos à frente de González, após a apuração de 80% dos votos, segundo o CNE, controlado pelo chavismo, um anúncio recebido com ceticismo pela comunidade internacional.
Corina Machado, principal líder do grupo, rejeitou a apuração e disse que seu candidato foi eleito com 70% dos votos. Ela chamou González de “novo presidente eleito” da Venezuela, mesmo após a revelação dos números oficiais.
Estados Unidos
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, foi o primeiro representante de um país a expressar “grave preocupação” com a possibilidade de que o resultado eleitoral anunciado na Venezuela não reflita a vontade do povo. Ele pediu uma apuração “justa e transparente” dos votos.
“Agora que a votação foi concluída, é de vital importância que cada voto seja contado de forma justa e transparente. Pedimos às autoridades eleitorais que publiquem a contagem detalhada dos votos para garantir a transparência e prestação de contas”, disse.
Colômbia
Em linha com o discurso norte-americano, o chanceler da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu a “contagem total dos votos, sua verificação e auditoria de caráter independente” para “eliminar qualquer dúvida sobre os resultados”.
União Europeia
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, repetiu o discurso e foi outro a pedir que a Venezuela garanta “total transparência no processo eleitoral, incluindo a apuração detalhada dos votos e o acesso às atas de votação”.
Espanha
O mesmo teor aparece no comunicado do ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel Albares, que pediu que a Venezuela que garanta “total transparência” na contagem dos votos, a “publicação das atas” e que “a calma e a civilidade sejam mantidos”.
Argentina
A Argentina teve reação mais dura. Governada pelo líder da extrema-direita Javier Milei, o país já anunciou que não reconhecerá qualquer resultado que dê a vitória a Maduro. Milei usou as redes sociais para expressar sua posição e, diferentemente de seus pares, não ecoou o discurso em favor da recontagem. Milei optou por cobrar uma “ação das Forças Armadas” na Venezuela.
“DITADOR MADURO, FORA!!!”, escreveu o presidente argentino, Javier Milei, em sua conta na rede social X antes da divulgação dos resultados oficiais.
Chile
O presidente chileno, Gabriel Boric, disse que os resultados anunciados são “difíceis de acreditar” e exigiu “total transparência das atas e do processo”, e que observadores internacionais não comprometidos com o governo confirmem a veracidade dos resultados”.
“Do Chile não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável”, acrescentou.
Peru
O chanceler peruano, Javier González-Olaechea, anunciou que convocará o embaixador do Peru na Venezuela para consultas diante do “graves anúncios oficiais das autoridades eleitorais venezuelanas”.
Costa Rica
O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, repudiou “categoricamente” a proclamação de Nicolás Maduro como presidente da República Bolivariana da Venezuela, que considerou “fraudulenta”.
Uruguai
Para o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, “não se pode reconhecer um triunfo se não se confia na forma e nos mecanismos utilizados para chegar nele”.
Guatemala
“A Venezuela merece resultados transparentes, precisos e que correspondam à vontade do seu povo”, escreveu na rede social X o presidente da Guatemala, o social-democrata Bernardo Arévalo, que também disse ter recebido os resultados “com muitas dúvidas”.
Itália
“Tenho muitas dúvidas sobre o desenvolvimento regular das eleições na Venezuela”, afirmou o chanceler italiano, Antonio Tajani, que exigiu “resultados que possam ser verificados”.
Aliados de Maduro celebram os resultados
Governos aliados de Maduro – sob cujo mandato a Venezuela afundou em uma crise econômica e humanitária que empurrou mais de sete milhões de pessoas para o êxodo, segundo a ONU – também se pronunciaram sobre a eleição.
China
A China, que mantém vínculos próximos com a Venezuela, felicitou Nicolás Maduro por sua reeleição e afirmou que está “disposta a enriquecer a associação estratégica” com o país latino-americano, informou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Cuba
“Hoje triunfou a dignidade e o valor do povo venezuelano sobre pressões e manipulações”, escreveu o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, na rede X.
Nicarágua
A Maduro “nossa homenagem e saudação, em honra, glória e por mais vitórias”, afirmou o presidente Daniel Ortega, que enviou “nosso abraço eterno”.
Bolívia
O presidente da Bolívia, Luis Arce, saudou que “a vontade do povo venezuelano tenha sido respeitada nas urnas”, ao mesmo tempo que ratificou a “vontade de continuar fortalecendo os nossos laços de amizade”.
Honduras
A presidente de Honduras, Xiomara Castro, felicitou Maduro por “seu triunfo inquestionável, que reafirma sua soberania e o legado histórico do comandante Hugo Chávez”.
Brasil silencia
O Brasil optou por silenciar sobre o resultado eleitoral. A sinalização dada até aqui é a de que o País irá esperar a publicação das atas antes de se pronunciar sobre o pleito que deu novo mandato a Maduro.