O índice de policiais militares que se suicidaram bateu recorde no estado de São Paulo em 2023, de acordo com os dados do 18º Anuário do Fórum de Segurança Pública. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, falou sobre o número chocante, que expõe a catástrofe da violência institucional. A entrevista foi exibida no programa , na noite da última sexta-feira (26), no Youtube.
O Anuário do Fórum de Segurança Pública, divulgado em 18 de junho, mostra que só em São Paulo foram contabilizados 31 suicídios de PMs que estavam na ativa no ano passado, o que representa uma alta de 80% em relação aos registros de 2022. Sendo assim, os registros do estado somam 28,2% dos casos de suicídio entre PMs de todo o país, além de ser o maior número já registrado desde o início da série histórica, que começou em 2017.
Para o ministro dos Direitos Humanos, esses registros são consequências de um problema estrutural e institucionalizado, que se agrava de maneira concomitante com a violência policial. “Qualquer política de Direitos Humanos tem que vir ancorada numa política de Segurança Pública. Nós temos que ser muito firmes e não há essa firmeza toda, basta ver as notícias sobre a relação da extrema-direita com aspectos muito complicados do crime organizado. É preciso pressionar as autoridades estaduais para que elas tomem as providências e o Ministério Público teria que ter um papel central, pensando inclusive na violência policial”, explicou.
“A violência policial, os excessos da polícia, não podem ser acreditados só na conta das polícias, que tem participação [nesses atos], mas com uma conivência enorme do sistema de justiça, tanto do Ministério Público como também do Judiciário, que deve atuar para coibir esses abusos. Os números do Anuário de Segurança Pública mostram que a mesma polícia que mata é a polícia que está cometendo suicídio (…) É preciso segurar em cima e ter a consequência, a responsabilização. O problema é que não acontece nada no Brasil”, acrescentou Almeida.
A partir dessa questão, o ministro afirmou que a pasta já trabalha em alternativas para minimizar esses danos. “Nós vamos lançar nos próximos dias, com apoio do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um plano de Direitos Humanos para os agentes de Segurança Pública, visando justamente a saúde mental, a partir da lógica que essas pessoas estão sendo utilizadas”, contou.
“É muito fácil matar no país”
Ainda sobre a questão da Segurança Pública, o ministro do governo Lula (PT) chamou atenção para os homicídios. Em 2023, o número caiu, mas ainda foram registradas 39,5 mil mortes violentas em todo Brasil.
“É chocante, é muito fácil matar uma pessoa no país, se ela for pobre, preta, se mora na periferia… é muito fácil matar. E nós temos um problema enorme com investigação de homicídio. Se matam as pessoas, não tem investigação. Nós precisamos, inclusive, ser mais consequentes no que concerne ao papel das polícias técnico-científicas”, disse.
“Há uma preocupação muito grande da nossa parte com a questão dos homicídios no Brasil. Nós temos um convênio com a Assembleia Legislativa do Ceará, que faz estudos junto com o Observatório Nacional, e a partir dos dados vamos propor algumas medidas que nós consideramos que sejam interessantes para tentar reduzir esse número no Brasil”, pontuou.
Ainda sobre as novidades importantes sobre os planos da pasta, Almeida falou que trabalha junto com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, no projeto de “constitucionalizar efetivamente” o Sistema Único de Segurança Pública, o SUSP.
Assista a íntegra da entrevista