O sionismo, desde sua adoção pelo imperialismo britânico, serviu de base para a política reacionária no Oriente Médio. Após a criação do Estado de “Israel”, ele se tornou uma força ainda maior, atuando no mundo inteiro. Recentemente, o Ministério das Relações Exteriores de “Israel” divulgou documentos que revelam a relação do sionismo com a Ditadura Militar do Brasil. A aliança da direita fascista brasileira com o sionismo não é algo recente.

Após o golpe militar de 1º de abril de 1964, a embaixada israelense no Brasil elaborou um documento que afirmava que o golpe “foi rapidamente planejado e executado, levando, em 24 horas, não apenas à queda de [João] Goulart, mas também à supressão de todos os elementos de esquerda […] O Brasil está hoje em um estado de transição que pode ser definido como uma ditadura militar com um verniz parlamentar”. Em 16 de junho de 1965, Aryeh Eshel, diretor de assuntos latino-americanos do Ministério das Relações Exteriores, escreveu que esperava “que o regime atual no Brasil dure”.

Dois anos depois, um telegrama foi enviado pela embaixada israelense em 26 de setembro. Ele fala sobre a mobilização dos estudantes contra a ditadura, que “as palavras de ordem são sempre políticas e contra o regime. Não há quase nenhuma dúvida de que elementos de esquerda estão explorando a amargura que existe entre os estudantes”. Em outro telegrama, enviado em 15 de dezembro, a embaixada escreveu que “ninguém se importa com o que acontece com a ‘democracia’ no Brasil”. Ou seja, o governo de “Israel” está diretamente interessado na luta política contra a ditadura brasileira.

Alguns meses depois, um telegrama enviado a Jerusalém reclamou da dificuldade de promover propaganda israelense, já que “não há possibilidade de usar grupos de estudantes a nosso favor, pois essas organizações foram dissolvidas devido ao seu esquerdismo. O mesmo vale para as organizações de trabalhadores, que, na prática, não existem mais”. Isso é interessante, pois até a década de 1970 o Estado de “Israel” era governado pelos chamados “sionistas de esquerda”. Isso facilitava sua influência dentro da esquerda, algo que é mais complicado nos dias de hoje.

Após a guerra de 1967 em que “Israel” ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, o primeiro-ministro Levi Eshkol elaborou um plano para fomentar a “emigração de residentes árabes dos territórios disputados para o Brasil”. Naquele momento, cerca de 300 mil palestinos se tornaram refugiados devido à invasão dos sionistas. Após conversas com a embaixada israelense no Brasil, Eshkol escreveu, em 8 de agosto de 1967: “essas conversas me dão motivos para acreditar que, com esforços intensivos, milhares, senão dezenas de milhares de famílias árabes, especialmente da Faixa de Gaza, poderiam imigrar para o Brasil”. O Brasil era pensado como um destino para a limpeza étnica dos palestinos.

Sobre a aliança militar, há muito pouca informação, pois o Ministério da Defesa de “Israel” se recusa a revelar documentos sobre exportações de armas. As poucas informações que foram expostas apontam para uma grande relação. As Forças Armadas do Brasil usaram submetralhadoras Uzi israelenses, e a Comissão Nacional da Verdade revelou que agentes de inteligência do Serviço Nacional de Informações do Brasil (SNI), os principais responsáveis pela repressão, inclusive a tortura, receberam treinamento em “Israel”. Como era de se esperar, o Estado sionista já explorava os seus métodos de opressão para a América Latina.

Segundo os documentos, em 1973, “Israel” usou o Salão Aeronáutico de São Paulo para apresentar seus mísseis Gabriel, dispositivos eletrônicos e mais. Os documentos também indicam que os dois países negociaram a venda de produtos militares israelenses ao Brasil, entre eles navios, helicópteros, armamentos, equipamentos de comunicação, eletrônicos, mísseis Shafrir e Gabriel, peças de motores de aeronaves, sistemas de radar, cercas eletrônicas, treinamento militar e uma delegação de assessores militares.

As relações tinham uma tendência a crescer mais. A ditadura militar firmou um pacto nuclear com “Israel” para “fins pacíficos”. Cientistas nucleares israelenses foram trabalhar no Brasil, e até mesmo Shalhevet Freier, chefe da Comissão de Energia Atômica de “Israel”, visitou o País no início dos anos 1970. O primeiro acordo nuclear entrou em vigor em 10 de agosto de 1964, apenas quatro meses após o golpe militar. Acordos complementares foram assinados em 1966, 1967 e 1974.

A ditadura se aproxima dos árabes

No entanto, um documento de 19 de dezembro de 1975, de autoria de Gideon Tadmor, vice-diretor do Centro de Cooperação Internacional do Ministério das Relações Exteriores, demonstra o declínio da cooperação nuclear entre os dois países, em parte devido ao desejo do regime brasileiro de minimizar suas relações com “Israel”. Segundo o documento, o Brasil estava “decepcionado com o tipo de assistência que propusemos, que não era exatamente o que eles estavam procurando”.

Mas as contradições econômicas do Brasil jogavam contra “Israel”. Os países árabes sempre foram muito mais importantes como parceiros econômicos que o Estado sionista. Em um telegrama de 28 de maio de 1975, o embaixador de “Israel” na época observou que “o objetivo do Brasil em seus laços com os países do Oriente Médio é inteiramente pragmático e se concentra na promoção de interesses econômicos, comerciais e financeiros necessários, conforme definido pelo presidente. Esses interesses exigem o cultivo de laços com países árabes, especialmente com países produtores de petróleo”.

O Brasil, inclusive, exportava muitas armas para os países árabes, principalmente para o Iraque. O embaixador sionista afirmou que “círculos influentes no alto comando militar são simpáticos a Israel e, em muitas ocasiões, estiveram interessados em forjar laços mais próximos e significativos com as FDI [exército sionista] e com nossas indústrias militares. Considerações políticas dificultam e, em alguns casos, impedem transações, e a simpatia dos militares e do povo não é suficiente para superar obstáculos políticos”. Ele sugeriu que “devemos nos concentrar em produtos cuja identidade israelense possa ser disfarçada”.

A relação do Brasil com os países árabes era tanta que, em 1980, o governo militar reconheceu a Organização para Libertação da Palestina (OLP) como representante do povo palestino e uma parceira essencial nas negociações para determinar o futuro da Palestina. Essa linha foi reiterada pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil durante uma reunião com o então ministro das Relações Exteriores de “Israel”, Yitzhak Shamir, em setembro de 1981.

Mas esse tipo de atrito com “Israel” é comum. Os países árabes são muito mais importantes economicamente e, portanto, todo o planeta tem relações com eles. A direita brasileira estreitou cada vez mais suas relações com os sionistas. Hoje, o aparato de repressão, desde a polícia militar até a ABIN, tem relações estreitas com “Israel”. Isso, como a maioria dos piores males do Brasil, começou durante o regime militar.

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Última Atualização: 27/07/2024