Ninguém, nem os venezuelanos, sabem direito quem é o candidato da oposição a Nicolás Maduro, que ameaça vencer a eleição de domingo. Eu pago um banquete no restaurante mais caro de Caracas ao brasileiro que souber quem é de fato João Carlos Silva.
Sabe-se, porque está em todos os sites, que é um ex-diplomata. Sabe-se que nunca foi ativista político de destaque. E ficamos sabendo agora que é candidato da oposição, pela coligação Plataforma Unitária Democrática, desde abril. O sujeito está há dois meses em campanha e lidera algumas pesquisas, mesmo que nem todas sejam confiáveis.
Sabe-se ainda que ele estava em casa, de pijama, aos 74 anos, e foi chamado, depois dos muitos impasses para registrar uma candidatura que substituísse a ex-deputada Maria Corina Machado como nome capaz de derrotar Maduro.
Corina não pode concorrer por ser considerada inelegível pela Suprema Corte, por corrupção, formação de quadrilha e ocultação de patrimônio, quando foi deputada, entre 2011 e 2014.
Os venezuelanos sabem quem são os pilantras Juan Guaidó e Henrique Capriles, que despareceram da cena política, sabem bem que Corina seria o nome capaz de enfrentar Maduro, mas não sabem quase nada de Silva. Que anda pra cima e para baixo ao lado de Corina. E que, se eleito, poderia ser manobrado por ela.
A política venezuelana vai produzir o seu Javier Milei, claro que sem as mesmas feições. Porque Silva é considerado um centrista moderado, que fala baixo, tem retórica limitada e não sabe direito como chegou onde está.
Mas Silva é menos um Milei e mais um Romeu Zema da Venezuela. Um sujeito que, como o jabuti no poste, ali está mas não sabe como subiu e não sabe como descer.
Sim, dizem que sua candidatura foi planejada pelos americanos que tentam derrubar Maduro. Washington teria produzido um candidato em poucos meses. Um jabuti do Tio Sam, que pode acabar com três décadas de chavismo. Se fosse assim tão simples, tudo teria explicação.
E agora? Agora, é esperar o domingo que nos espera. A vitória de Maduro ou a consagração de um desconhecido e na sequência, o previsível: a Venezuela terá dias difíceis, com ou sem a vitória de Maduro.
Poderemos ter, a partir de segunda-feira, o que aconteceu na Bolívia, nos Estados Unidos e no Brasil: a contestação dos resultados, porque é a moda agora. O perdedor não aceita a derrota e levanta dúvidas sobre o processo eleitoral.
É um argumento que dificilmente será usado por Maduro, que tenta o terceiro mandato e tem outro argumento mais adequado a quem está no poder: se perder, a Venezuela poderá ter um banho de sangue. Foi o que já anunciou.
É complicado também para parte das esquerdas brasileiras, que apoiam Maduro de forma incondicional. Até quando ele reforça o discurso bolsonarista de que a eleição no Brasil não é confiável, porque os votos não seriam auditáveis. Teremos um domingo trepidante, com um detalhe: não há segundo turno na Venezuela.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes
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