Natal, cidade que vibra com a energia do seu povo, onde cada esquina e cada beco ecoam o trabalho incansável de uma gente que luta. Construída e mantida por trabalhadores, Natal é a síntese das contradições deste vasto país. No coração do seu Centro Histórico, nas ruas da Cidade Alta, nas areias da Redinha, na Zona Norte, Oeste, Sul e Leste, a vida pulsa. Nos ônibus que atravessam a cidade, linhas e energias entrelaçam-se na malha viária, transportando riquezas que são produzidas para outrem.

A Ponte de Igapó, velho cartão-postal, e a Ponte Newton Navarro, elo vital que liga a cidade ao outro lado do rio Potengi, são testemunhas da luta cotidiana. À beira de sua orla, os poderosos lançam olhares cobiçosos, desejando a mais-valia extraída do suor de centenas de milhares de trabalhadores e desempregados. Os salários são distantes, tão longínquos quanto as periferias esquecidas de Jardins Progresso, Planalto, Nossa Senhora da Apresentação, Felipe Camarão. Enquanto isso, condomínios fechados lançam seus dejetos nas praias, reforçando o que Cazuza afirmava em sua canção: “a burguesia fede”.

Natal reflete suas desigualdades nas ruas e vielas que se transformam num fosso, onde um pequeno punhado vive em sua bolha, enquanto a maioria habita os ônibus lotados, sem moradia, sem empregos, sem vagas nas creches, sendo submetidos a sorteios. Cada prédio, cada ponte, escola, posto de saúde, cada mansão, é fruto do trabalho humano que materializa a cidade. A memória do trabalho assalariado e a luta diária para apagar as marcas das oligarquias que tratam Natal como seu brinquedo são rastros de resistência.

A resistência de 1935, que por três dias colocou os comunistas à frente de Natal, ainda ecoa como um grito contra a miséria, exploração e opressão. A cidade exige justiça para Gabriel, recusando-se a aceitar a impunidade como regra. Natal é também a cidade dos grupos folclóricos, dos encontros de Fabião da Queimada, dos forrós da Coreia, das quadrilhas juninas, do cordel e do teatro de rua. É a cidade das rodas de viola na feira, a cidade trampolim sendo um porto seguro para derrotar o nazifascismo na Segunda Guerra, dos conflitos linguísticos com os americanos e da memória de Maria Boa.

Hoje, Natal enfrenta a batalha da mais-valia, com planos diretores que abrem brechas para a construção desenfreada na orla, a privatização do Mercado da Redinha e do Teatro Sandoval Wanderley no Alecrim. Após todo um investimento de dinheiro público, agora querem entregar esses espaços de mão beijada, só porque existe uma lei criada em 2004 e regulamentada por Lula, a Parceria Público-Privada, uma privatização disfarçada. A cidade, com sua diversidade, é marcada pelo antagonismo social, mas também pelo batuque, pelo coco, pelo rap e pelo forró, pelo samba de roda que ecoa na Praça Padre João Maria, no Centro Histórico de Natal, em frente ao quilombo urbano, a Estação do Cordel, onde mora a arte.

Natal é a cidade que sonha, mesmo quando as oligarquias tentam esmagar seu povo. É a cidade que acolheu palestinos, terra de Cascudo, das ruas do Alecrim, dos registros de Deodato dos gols nas tardes de domingo. Natal, onde a fome ainda é uma realidade cruel. Nas calçadas do Centro Histórico, com centenas de pessoas dormem ao relento, enquanto os prédios vazios da Ribeira e da Cidade Alta são habitados por ratos, baratas e morcegos.

Natal vive a agonia de não impulsionar seu turismo cultural. Prédios públicos decadentes e artistas em penúria, que sequer recebem seus cachês em dia, são um reflexo dessa negligência. A hipocrisia de uma classe política arcaica permeia a cidade, envolvendo até aqueles que surgem como novos, enredados na teia dos Alves, Maias e outros. Mas, apesar de tudo, Natal não para de sonhar.

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Última Atualização: 23/07/2024