O presidente americano, Joe Biden, anunciou que está fora da disputa pela Casa Branca. Em um comunicado, ele disse que, apesar de sua intenção de terminar o trabalho iniciado em 2020, “era do interesse do partido e do país” que ele renunciasse para poder se “concentrar inteiramente no cumprimento dos deveres” como presidente até o fim do mandato.
Biden deixou clara sua preferência e disse que estava feliz em apoiar a vice Kamala Harris na corrida pela Casa Branca. Os líderes dos comitês regionais dos partidos democratas também anunciaram o apoio à candidatura da vice-presidente.
“Após o anúncio do presidente Biden, nossos membros imediatamente se reuniram para apoiar um candidato que tem um histórico de vitórias em eleições complexas e é um líder reconhecido em questões importantes para os americanos”, disse em um comunicado Ken Martin, presidente da Associação de Comitês Estaduais Democratas (ASDC). “E essa pessoa é nossa atual vice-presidente, Kamala Harris.”
Logo após o anúncio de Biden, muitos democratas apoiaram a candidatura de sua vice-presidente, mas alguns membros influentes do partido, incluindo a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi, por enquanto permanecem em silêncio.
Pressão após debate
O presidente americano já vinha sofrendo uma grande pressão há aproximadamente 3 semanas, após o debate contra Donald Trump. Os lapsos de memória e as confusões em eventos oficiais, como quando Joe Biden chamou Zelensky de Putin durante a cúpula da Otan, criaram uma grave crise no Partido Democrata.
Se antes os comentários sobre a idade avançada do presidente eram emitidos apenas por seus oponentes, nas últimas semanas importantes aliados passaram a questionar publicamente a capacidade física de Biden para se manter na campanha.
Nancy Pelosi chegou a dizer diretamente ao presidente que a candidatura de Biden colocava em risco o controle da maioria na casa. O fato do ex-presidente Barack Obama ter falado a amigos sobre sua preocupação com a candidatura de Biden também parece ter sido determinante para sua desistência.
Além disso, a repercussão da tentativa de assassinato de Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto, que cresceu na preferência do eleitorado, também teria influenciado sua decisão. Biden repetiu várias vezes que só deixaria de ser candidato se estivesse certo que não seria capaz de vencer Trump nas urnas.
As reações de Kamala Harris e Donald Trump
A reação mais esperada do dia, a da vice-presidente, Kamala Harris, aconteceu cerca de duas horas após Biden anunciar sua decisão.
Kamala confirmou que está disposta a substituir Biden na disputa pela Casa Branca. “Estou honrada por ter o apoio do presidente e minha intenção é conquistar – junto aos delegados – esta indicação”, disse ela. “Temos 107 dias até o dia das eleições. Juntos, lutaremos. E juntos venceremos”, completou. Kamala Harris pode se tornar a primeira mulher negra a concorrer à presidência do país.
“Com este ato altruísta e patriótico, o presidente Biden está fazendo o que fez ao longo de sua vida de serviço: colocar o povo americano e nosso país acima de tudo”, completou.
Já o ex-presidente Donald Trump usou sua plataforma The Truth Social para expressar sua opinião sobre o fim da campanha de Biden. “Joe Biden não estava apto para concorrer à presidência e certamente não está apto para exercer o cargo – e nunca esteve!” escreveu o candidato republicano.
Em uma mensagem publicada na rede X, o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disse que a decisão de Biden “não foi fácil, mas ele mais uma vez colocou o seu país, o seu partido e o nosso futuro em primeiro lugar”, afirmou.
O ex-presidente democrata, Bill Clinton, divulgou uma declaração agradecendo a decisão de Biden e disse que estaria feliz em apoiar a candidatura de Kamala Harris.
Doações para campanha de Harris já começaram
Durante as últimas três semanas, muitos doadores democratas milionários, incluindo uma herdeira da Disney, afirmaram que não fariam mais doações ao Partido Democrata até que Biden desistisse da corrida presidencial.
Após o anúncio do presidente, muitos deles se mobilizaram e ofereceram contribuições para apoiar Kamala Harris, caso sua candidatura seja oficializada.
De acordo com a equipe de campanha democrata, uma empresa de arrecadação de fundos do Vale do Silício havia arrecadado mais de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões), em apenas 30 minutos após o comunicado de Biden.
Alexandra Acker-Lyons, da empresa AL Advising, responsável pela organização dos fundos de campanha, disse que neste domingo “recebeu uma enxurrada de e-mails, mensagens de texto e ligações” com promessas de doações para a campanha de Harris.
Como será escolhido o novo candidato?
A escolha do candidato do Partido Democrata será feita por mais de 4.600 delegados da convenção nacional democrata que será realizada em agosto, em Chicago. Esses delegados são figuras importantes do partido, ativistas locais e autoridades eleitas selecionadas durante as convenções estaduais do partido.
Esta é a primeira vez na história da política americana que um candidato que venceu as primárias presidenciais de um partido abandona sua campanha tão perto de uma convenção nacional da legenda.
Em termos logísticos, ficaria um pouco complicado para que outro candidato lançasse uma campanha interna agora, já que responsáveis pelo Comitê Nacional Democrata e pela campanha de Biden têm a lista completa de delegados.
O primeiro desafio para quem decidisse concorrer contra Kamala Harris dentro do Partido Democrata seria obter acesso aos seus potenciais eleitores.
Sem acesso a essa lista de delegados, os candidatos alternativos à Kamala estão efetivamente impedidos de tentar persuadi-los a apoiar outro candidato.