Juliana Bierrenbach. Foto: Divulgação
Juliana Bierrenbach. Foto: Divulgação

Advogada criminalista e ex-defensora do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Juliana Bierrenbach deu uma entrevista forte ao Diário do Centro do Mundo ao vivo com detalhes da reunião gravada pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) com Jair Bolsonaro, da qual participou. Na conversa, ela explicou que não teme represálias da família do ex-presidente e disse que rompeu com a outra advogada de Flávio por causa de um “crime hediondo”.

A advogada confirma a participação do general Augusto Heleno no encontro e que este destinava-se a tentar blindar o senador contra a investigação das rachadinhas com ajuda dos aparelhos de Estado do governo federal, com o acionamento do GSI e a maquina de inteligência do governo federal para defender os interesses do filho do presidente. A advogada diz que não sabia que o então presidente Bolsonaro participaria da reunião, o que a teria deixado surpresa. 

Bierrenbach era sócia de Luciana Pires, a outra defensora de Flávio gravada por Ramagem, então diretor da Abin em 2020.

Ao DCM, Juliana Bierrenbach disse na entrevista os rumores de que sua família teria conexão direta com Heleno. “Meu pai foi professor dele na AMAN e, naquele dia, levei um abraço ao general”, explicou.

A investigação da Polícia Federal apontou que a “Abin paralela”, na época comandada por Ramagem, monitorou auditores fiscais e atuou para descobrir “podres e relações políticas” desses servidores.

Por causa das acusações da advogada, a Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil) considerou que as afirmações “de que uma organização criminosa atuava dentro da Receita Federal, supostamente agindo contra desafetos políticos são extremamente graves e potencialmente danosas à reputação dos auditores fiscais e da instituição”.

A entidade diz que não hesitará em tomar todas as medidas legais, civil e criminalmente. Juliana gravou um vídeo no Instagram respondendo a instituição após a entrevista.

Na entrevista exclusiva ao DCM, a ex-defensora de Flávio Bolsonaro ainda acusa a ex-sócia de defender um advogado dela, Fernando Orotavo, após uma denúncia de estupro contra si mesma em um grupo de WhatsApp do escritório das duas, em um caso não relacionado com as rachadinhas de Flávio Bolsonaro.

Fernando teria viajado com Juliana dois anos depois da reunião gravada por Ramagem para eventos jurídicos em Portugal. Ela o acusa de estupro de vulnerável. 

Confira abaixo alguns trechos da entrevista exclusiva: 

“Acho que a família Bolsonaro iria querer me proteger”

“Tenho mais medo de alguma coisa me aconteça sim pelos funcionários da Receita Federal e não pela família Bolsonaro. Acredito que eles vão querer me proteger ao máximo. Se qualquer coisa que acontecer comigo, as primeiras pessoas que vão apontar dedos vai ser a família Bolsonaro.

Por isso, acho que eles iriam querer realmente me proteger. Não tenho mais contato com eles. Conheço pessoas que têm contato com eles, mas eu não tenho. Não acredito que eles fossem fazer alguma coisa.”

“Advocacia e imprensa são dois pilares da democracia. Vou sempre falar com a imprensa sempre que eu tiver um caso de grande repercussão e sem que isso viole a minha ética profissional. Sem nenhum tipo de medo ou de restrição e sem nenhum preparo.”

“Uma vez que foi vazada a reunião com Bolsonaro, e foi vazada por um ministro do Supremo, os dados da reunião estão postos. E eu já recebi hate de todo lado, mas eu não me incomodo com isso não. É o que eu escrevi ontem no meu Instagram.”

“Isso aumenta o meu engajamento. Sei exatamente o que eu fiz e sei que agi absolutamente dentro da legalidade. Estou falando por mim, sempre por mim. Sei que eu agi dentro da legalidade. Fiz um trabalho de investigação defensiva do qual eu me orgulho profundamente.”

NӋo tem absolutamente nada naquilo que tenha sido me passado pela Abin, por Ramagem, por [Augusto] Heleno, por Jair Bolsonaro, por nenhuma dessas pessoas.

Isso foi investigação defensiva minha feita com muito critério e com muito cuidado. É por isso que eu posso falar a respeito.”

Quando ela soube que Bolsonaro estaria na reunião?

“Eu não sei por que o Bolsonaro estava lá. Acho legítimo que o Bolsonaro estivesse lá por uma única razão: Bolsonaro é pai do Flávio. E isso é uma coisa comum.

Entendo toda a comoção. Penso exatamente como vocês em muitas coisas. Quero que vocês saibam disso. A minha linha de raciocínio é a linha de raciocínio que vocês têm.

Eu entendo da seguinte forma: Tenho muitos clientes cuja família se envolve em determinadas reuniões. 

Entendo evidentemente que ele é o presidente da República. A gente estava no Palácio do Planalto num horário posterior ao de trabalho. Vi depois que existe a possibilidade dele tratar de assuntos pessoais. Ali eu achei que fosse falar com o general Heleno e um assessor do general.

Quando nós chegamos, a gente deu o nome de alguém que é próximo da minha ex-sócia. Não era nenhuma dessas pessoas que estavam lá. Só fiquei sabendo que nós estávamos indo falar com o presidente da República na hora que eu entrei na sala.

Vi a sala e vi aquele Portinari e falei boa tarde. Foi realmente uma grande surpresa para mim e até uma coisa complicada, né? Porque, imagina, tem gente que poderia travar diante de uma situação dessas.

O caso do senador Flávio Bolsonaro chegou ao escritório por intermédio da outra advogada. Não chegou por mim. Eu estava trabalhando num outro caso. Costumo trabalhar em um caso por vez.

Foi um caso de alta complexidade. Já estava muito envolvida com o caso quando aconteceu aquela situação do [Fabrício] Queiroz [detectado pelo Coaf]. Eu tinha alguns clientes a quem eu atendia e a minha ex-sócia tinha outros.

Todo mundo assinava tudo, mas cada uma cuidava de uma coisa. Ela, minha ex-sócia, estabeleceu a relação com ele. Eu tinha dificuldade em atender essa demanda em especial.

Quando aconteceu o caso do Frederick Wassef em relação ao Queiroz, os casos passaram todos para a minha ex-sócia. 

A gente recebeu um acervo probatório, um acervo processual grande, e eu comecei a estudar. Era o processo da [Operação] Furna da Onça. E então vi aquele relatório de inteligência financeira.

Vi que era um “relatório espontâneo”. Pulei para a parte que tratava do gabinete do Flávio e verifiquei que havia informações que extrapolam a inteligência financeira. Existe um banco que eu entendo que foi um braço de espionagem da Lava Jato. Esse banco quebrava sigilo bancário o tempo todo. Era uma coisa absolutamente assustadora.

E tinha uma observação que o Fabrício Queiroz era motorista do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Isso é informação de inteligência financeira? Não tem nada a ver.

De duas, uma: Ou o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] está atuando para além do que ele deve atuar ou tem alguém que está fazendo isso. Eu não estou botando em dúvida o Coaf, mas ele é composto por pessoas, assim como a Receita Federal e assim como o governo, etc.

Comecei a estudar e vi que tem alguma coisa errada. O que o advogado faz é buscar nulidades no processo. Por que a gente busca nulidade no processo? Porque o trabalho do advogado é extremamente vinculado à garantia da democracia.

Nós não podemos ter dois pesos e duas medidas. Não podemos entregar para a famíia x determinados critérios processuais e constitucionais, e para a família y outros critérios processuais e constitucionais. A gente tem uma Constituição e essa Constituição tem que ser cumprida.

Com o Lula houve uma série de desrespeitos às leis penais e constitucionais e o levaram à cadeia. Não é só com o Lula que isso acontece. Gente, isso acontece com o trabalhador que é preso. Isso acontece com aquela pessoa que está na favela e que é vítima de procedimentos que estão fora da Constituição. Sou muito aguerrida, graças a Deus, em lutar contra esse tipo de coisa. 

Na reunião, ninguém me informou que eu ia encontrar presidente da República. Você imagina imagina o meu susto? Eu achei que iria encontrar o general Heleno.

Eu quero deixar muito claro. Fui fazer um protocolo de um documento formal rastreável com absolutamente todos os detalhes que pudessem ser depois aferidos e hoje podem ser aferidos. Fui levar isso para ser protocolado no GSI.

“Fui vítima de um estupro”

Tive um rompimento grave, gravíssimo, que não tem absolutamente nenhuma relação com a família Bolsonaro. Será que me cabe falar isso? Bom, eu vou falar.

Fui vítima de um crime hediondo, fui vítima de gaslighting por parte dessas pessoas todas. Quando eu relatei o crime, eles silenciaram. Não foi a família Bolsonaro que me silenciou, tá?

A família Bolsonaro não sabe. A família Bolsonaro não tem a menor ideia. E essa história saiu na mídia. Fica parecendo uma novela, uma série e é muito louca essa história, muito louca. Se eu contar as coisas todas, fica parecendo que eu tô delirando mesmo. 

Eu fui vítima de um estupro numa viagem que fiz para Lisboa. Fui num congresso com uma pessoa que eu entendia que era um amigo meu, bastante amigo. Não costumo ser amiga de predadores sexuais. Ele pagou a viagem para mim.

Passei por um problema grave de saúde. Tive uma covid muito séria. Depois a minha filha teve uma covid que não foi séria, mas com duas sequelas que quase levaram a minha filha à morte.

Fui ao hospital com a minha filha de três a seis vezes por semana. Fiz isso para salvar a vida da minha filha e ninguém sabia o que eu tinha e tratei na terapia. Estou falando isso muito resumidamente.

Em março de 2022 ela saiu da UTI, melhorou e saiu do risco de vida. Esse amigo perguntou se eu não gostaria de viajar. Convidou outras vezes e eu não podia nunca por conta do problema de saúde da minha filha. E esse amigo perguntou se eu não viajaria, se eu não iria para aquele congresso em Lisboa.

Disse que queria ir. Estava precisando viajar e eu estava muito esgotada, era algo que eu não fazia desde antes da pandemia. Só quem é mãe entende isso. Você ficar com a sua filha na iminência de morrer.

Quando minha filha saiu desse risco, ele comprou as passagens, que custaram R$ 27 mil. Eu achei isso uma coisa ridícula e fora de propósito.

Ele queria ficar num hotel chamado Seasons [de luxo]. Falei em dividir o quarto, ficando em duas camas separadas. Ele era meu amigo.

No penúltimo dia da viagem, eu saí com um procurador da República e tive um problema de sono. Tive tomar zolpidem de 10 miligramas e eu não estou conseguindo dormir.

Eu instalei no meu celular um aplicativo de monitoramento de sono. Disse para comprar já a versão premium, porque ele é muito bom e é muito barato. Instalei o aplicativo no último dia da viagem.

E o aplicativo detectou 51 sons de atividade sexual depois. Foi isso que aconteceu. Aí quando eu perguntei a ele no dia seguinte, quando eu descobri, fiquei muito chocada.

Tinha o som que não era só dele, era meu também. Sem entrar em grandes detalhes. Era sábado de Carnaval, no seguinte era o sábado do desfile das escolas de sambas campeãs. Já tinha voltado ao Brasil e mandei uma mensagem no grupo do escritório.

Éramos três pessoas falando naquele grupo. Disse que ele me estuprou. E aí que minha ex-sócia me liga. Ela já começa a me demover da ideia e afirmar que eu “estava doida”. Disse que não tem nada. E eu comecei a mandar os áudios para ela e os áudios são muito claros.

Esses áudios são muito tristes de serem ouvidos. Tem áudio em que ele fala para eu me virar de costas. É muito degradante. Ele fala que eu estou bem e eu respondo que estou com dor, com cólica. É muito triste e é horrível. Disseram que eu estava delirando.

Quando eu voltei ao hotel, encontrei um pijama com o material genético [esperma] dele e eu mando a foto para ela [a ex-sócia]. Tenho certeza que vocês conhecem como é um material genético numa roupa preta.

E ela me responde que deve ser pasta de dente. Ela defendeu o estuprador. Para ela, esperma quando seca não fica branco.

Levei um ano para entender o que tinha acontecido. E o escritório tinha assinado um contrato de R$ 30 milhões com esse estuprador.

Pijama de Juliana Bierrenbach usado como prova. Foto: Divulgação
Pijama de Juliana Bierrenbach usado como prova. Foto: Divulgação

Isso aconteceu em 2022 e é bem depois do encontro com o Bolsonaro. Eu tentei até não falar sobre isso em nenhum momento e vou até receber várias críticas por eu ter falado sobre isso. Mas foi isso que aconteceu, sem tirar e nem por. Tenho todas as provas de que isso aconteceu.

Tenho gravação, tenho áudio, tenho mensagem dela para mim e tudo mais. Nesse dia eu tive uma crise dentro do escritório e faltava ainda uns oito meses para a eleição.

Não sou vinculada a nenhum grupo político. Sou advogada criminalista e ponto final. Nunca fui e nunca pretendo ser vinculada.

Naquele momento, eu tive uma crise e gritei. Comecei a gritar com ela dentro do escritório. Falei coisas muito fortes, muito feias, algumas altamente reprováveis, das quais eu não tenho nemhum pingo de arrependimento.

Fui embora do escritório. Antes de ir embora, eu vomitava o trajeto inteiro do trabalho, porque eu comecei a ter sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Passei dois anos deitada na cama e tentei voltar a advogar várias vezes. 

Fui vítima, além do estupro, de um gaslighting para que fosse mantido lá o contrato com a empresa.

Divergências políticas e CBF

Tenho pessoas na família que são bolsonaristas. Meu avô era um homem de direita. Meu pai [major José Bonetti] conhecia a CBF, o [João] Havelange e teve aquela briga com o Ricardo Teixeira [risos].

Meu avô foi um homem extremamente íntegro e um homem que foi muito importante para a abertura da democracia no Brasil. Ele foi um voto vencido do caso Riocentro e que foi um voto lindíssimo.

É um homem maravilhoso, que sempre prezou pelos direitos humanos e ele era um homem de direita. Eu sempre fui uma pessoa de esquerda e fui muito acostumada a ter essa divergência.

Ramagem mentiu?

Não sei se [o deputado Alexandre] Ramagem mentiu que teria um emissário com uma mensagem “não republicana”. Eu posso garantir que não fiquei sabendo que havia uma mensagem para ser passada pelo Witzel naquela reunião com o Bolsonaro.

Não estou dizendo que não havia essa mensagem. Estou dizendo que eu não fiquei sabendo, que não fui comunicada. Eu não era comunicada de coisa nenhuma.

O meu negócio era fazer tecnicamente o meu trabalho, sem participação em nenhum tipo de encontro com o então governador do Rio. Não tinha nenhum tipo de relação institucional e nem trabalho com isso.

Veja a entrevista na íntegra.

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Última Atualização: 20/07/2024