Seis dias após o ataque que quase matou o ex-presidente dos Estados Unidos e principal candidato nas eleições presidenciais norte-americanas, o republicano Donald Trump, a confusão reina na principal potência imperialista do planeta. Entre os democratas, Biden continua dividindo opiniões, embora o fundo social delas seja mais explícito, como pode ser deduzido da matéria abaixo, de um dos principais órgãos do imperialismo britânico, o semanário The Economist, que, no artigo Momentum against Joe Biden is mounting again, afirmou:

“O ataque de 13 de julho também afetou os democratas, que estão em crise desde o desempenho catastrófico do presidente Joe Biden no debate do mês passado. O ataque atrapalhou os esforços do partido para substituir Biden como seu candidato. Após o tiroteio, a atmosfera de choque tornou insustentável para os rebeldes democratas no Congresso avançar em sua tentativa de desafiar a candidatura de Biden. Por alguns dias, nenhum novo membro da Câmara ou senador pediu publicamente que o presidente se afastasse.”

Segundo The Economist, a paz relativa conquistada por Biden seria positiva, uma vez que as eleições norte-americanas seriam suscetíveis a “mudanças súbitas de sorte”, o que daria ao atual presidente a chance de virar o jogo. Assim conclui um dos principais porta-vozes do imperialismo:

“As chances de vitória do Sr. Biden diminuíram consideravelmente, mas não desapareceram. Ele não pode desfazer seu fracasso no debate, reverter o processo de envelhecimento ou impedir que a mídia foque em sua fragilidade. Mas ele pode voltar ao básico, traçando um contraste claro entre seu histórico e o radicalismo do Sr. Trump e seu companheiro de chapa, Sr. Vance. Ele pode apresentar políticas para um segundo mandato e incentivar o movimento de base que está se mobilizando para defender os direitos ao aborto. As últimas três semanas lembraram que as campanhas presidenciais americanas — injustificavelmente longas — são intrinsecamente instáveis e vulneráveis a mudanças súbitas de sorte. E ainda estamos em julho.”

Também britânico e também umbilicalmente ligado ao imperialismo, o Financial Times dá voz a outro setor da ditadura dos monopólios, muito mais críticos da manutenção de Biden como candidato democrata. No artigo Republicans are delighted with Biden, o órgão imperialista diverge dos compatriotas do The Economist, afirmando que os democratas dizem “uma coisa em público e outra em privado”, mas deixa em aberto as perspectivas da futura candidatura democrata:

“O outro partido, o de Biden, continua dizendo uma coisa em público e outra em privado. Os democratas desejam os fins, mas não estão dispostos aos meios. Há muitas figuras em cima do muro que estão esperando algo acontecer. Talvez Biden subitamente adquira uma nova energia. Ou talvez ele tropece tão gravemente que não tenha outra escolha senão desistir. É mais provável que sua campanha sem brilho continue na mesma trajetória sem um evento decisivo.”

Em outra matéria, o Financial Times destaca que a campanha pela mudança na candidatura democrata ganhou apoio de pesos pesados do partido, como a ex-presidente da Casa dos Representantes Nancy Pelosi, o líder da Maioria do Senado Chuck Schumer e também Hakeem Jeffries, “o principal representante do partido na Casa”, que segundo o órgão britânico, “expressou suas preocupações a Biden em particular”.

Mais próximo da versão apresentada por Financial Times, a seção brasileira do sítio russo Sputnik destaca que “quase sete em cada dez adultos que se consideram democratas nos Estados Unidos acham que o presidente Joe Biden deveria se retirar da corrida à presidência e dar lugar a outro candidato”.

Do outro lado do Atlântico, o New York Times, um dos principais órgãos do imperialismo norte-americano, também desmentiu The Economist, afirmando que Biden estaria “mais receptivo” a conversar sobre “desistir de sua candidatura à reeleição”.

“O presidente Biden tornou-se mais receptivo nos últimos dias a ouvir argumentos sobre por que ele deveria desistir de sua candidatura à reeleição, disseram democratas informados sobre suas conversas na quarta-feira, depois que os dois principais líderes de seu partido no Congresso lhe disseram em particular que estavam profundamente preocupados com suas perspectivas.”

Por outro lado, a candidatura rival vai de vento em popa. Após meses atacando Donald Trump, o imperialismo publicou matérias chamando-o de “irresistível”, o que é ainda mais estranho em se tratando de órgãos que jamais lhe dedicaram qualquer simpatia, como o Financial Times, que no artigo What makes Donald Trump irresistible, faz uma matéria senão simpática, pelo menos diferente do padrão, evitando o choque:

“Ele é um criminoso condenado, um conspiracionista, um mulherengo e um empresário que mentiu sobre sua riqueza. Ele acha que a América tem sido muito branda com aliados democráticos, muito dura com rivais autoritários e que os imigrantes estão “estragando” o país por dentro. E Donald Trump é o claro favorito para vencer a eleição presidencial dos EUA em novembro.”

Acompanhando a imprensa internacional, é visível que, ao contrário do que advoga The Economist, há uma cisão no bloco democrata que reflete uma divisão no próprio bloco imperialista. Existe uma base que se opõe à manutenção da candidatura Biden e um setor do imperialismo que agora vem lhe dando espaço.

Como se pode ver pela última matéria citada, do Financial Times, o mesmo setor sinaliza uma mudança de atitude em relação a Trump, como se a facção mais importante do imperialismo estivesse se inclinando para a candidatura trumpista, um desenvolvimento que precisará ser melhor acompanhado, mas que expressa uma tendência observada na França, onde o partido centrista Republicanos já se inclinou para a extrema direita, e no Brasil, onde os atritos do imperialismo com o bolsonarismo diminuíram consideravelmente. As eleições norte-americanas, como se vê, serão tudo, menos enfadonhas.

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Última Atualização: 19/07/2024