Evo denuncia Estados Unidos por supostas interferências em Bolívia, mas persiste na tese de um ‘golpe de Estado autogestionado’

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, disse em entrevista à BBC que os “Estados Unidos acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo”, mas também chamou o movimento militar que tentou derrubar o presidente Luis Arce de “autogolpe”.

“O delito do povo boliviano é ter tantos recursos naturais […] Esse é o nosso crime. Os Estados Unidos, por destino manifesto, acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo”, afirma.

Para Evo, o problema é que os EUA pensam que têm uma missão divina para serem os “policiais mundiais”. “Essa é a diferença que temos com o império”, disse.

“Países que nacionalizam, que estabelecem a soberania econômica através da nacionalização dos seus recursos naturais…já entram na mira do império (…) O golpe [de 2019] não foi só do gringo sobre o índio. Foi sobre o nosso modelo econômico. Com o nosso modelo econômico mostramos que a Bolívia tem muita esperança. Mas também foi, fundamentalmente, um golpe de Estado para o lítio”, explicou.

O líder de esquerda boliviano reafirmou que o movimento militar na praça Murillo, em La Paz, foi uma tentativa de autogolpe do seu ex-ministro e agora presidente, Luis Arce.

“No dia 26 do mês passado, às 11h da manhã, alguns amigos militares me ligaram. Disseram: “Estão nos aquartelando”. Eu disse a eles: “Me dê um raio-x ou [passe-me] os documentos [que comprovem]”. Passaram 10 ou 15 minutos e eles me disseram: “É verbal”, começou o relato.

“Às duas da tarde, eu estava caminhando em minha propriedade para ver os peixes e vejo os tanques entrando na Praça Murillo”, prosseguiu.

Em sua retórica, Evo estabelece uma diferença entre o seu comportamento e o do governo boliviano: “Neste momento, preparei um tuíte declarando e convocando uma greve geral e o bloqueio das estradas nacionais para derrotar o golpe de Estado. Continuei andando e quando me dei conta, o ministro do governo estava acariciando os tanques na Praça Murillo. Que tipo de golpe é esse? Fico surpreso”.

“Fico assistindo nas redes sociais, o golpista entra no Palácio Quemado e conversa com o presidente. Um ministro do governo está com um militar feliz, dando risadas. São as imagens”, diz.

“Tudo demonstra que se não é um golpe, é um autogolpe. Que se investigue, que se saiba, mas tudo está bem planejado. Foi para elevar a imagem do Lucho? Será um verdadeiro golpe, uma tentativa de golpe? Ou será um autogolpe para se vitimizar?”, conclui

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