“Eu não devia estar aqui, eu devia estar morto”, disse um dos primeiros pensamentos de James Trump, ex-presidente dos EUA e candidato às eleições, após sofrer um ataque a tiros.
Enquanto analistas discutem os impactos eleitorais do episódio de atentado contra o ex-presidente norte-americano, neste sábado (13), a postura de Trump e de sua equipe de campanha, ainda durante o ataque e imediatamente após, parece ter sido calculada para beneficiar sua campanha.
Após o tiro, com a orelha já ensanguentada e os seguranças preocupados ao redor do presidenciável, Trump deu-se o tempo para levantar o braço com punho fechado, rendendo as fotografias que já se tornaram icônicas e material de campanha, para arrecadar fundos e vender camisetas.
E não foi diferente o discurso que fez após deixar o hospital: “O médico do hospital disse que nunca viu algo assim, ele chamou de milagre.” O candidato prosseguiu com os detalhes do que considerou milagre: “Se eu não tivesse apontado para aquele gráfico [estatísticas de imigração, que estava lendo] e virado minha cabeça para a direita para olhar, a bala teria me atingido bem na cabeça.”
E ainda afirmou que, mesmo atingido, iria continuar discursando no comício na Pensilvânia, no sábado: “Eu só queria continuar falando, mas tinha acabado de ser baleado”, continuou.
O médico que o atendeu, Jackson, que trabalhava para ele na Casa Branca, relatou ao New York Times que encontrou Trump “calmo” e “grato por estar seguro”: “ele não estava nem um pouco perturbado”.
O episódio também já serviu de material para o pós campanha de Trump. Além das gráficas com a fotografia do presidenciável, Trump decidiu não adiar a viagem a Milwaukee, Wisconsin, no dia seguinte ao atentado, domingo (14).
A mudança para a campanha, disse o próprio ex-presidente, virá no discurso que fará no encerramento da Convenção Nacional do Partido Republicano, nesta quinta-feira (18), e que já está pronto.
“Acho que seria muito ruim se eu me levantasse e começasse a enlouquecer sobre o quão horrível todo mundo é, e como corrupto e torto, mesmo que seja verdade. Se isso não tivesse acontecido, teríamos um discurso muito bem definido, extremamente duro”, afirmou ao jornal Washington Examiner, destacando que o atirador suspeito é membro do Partido Republicano, o mesmo que o de Trump.
Na contra maré de expectativas, Trump não usará o episódio do ataque para aumentar o embate entre direita e esquerda política. Com a imagem heróica demarcada após o atentado, ele tentará a adesão da direita moderada e centro para garantir a sua vitória em novembro.
“Eu joguei fora”, disse, sobre o discurso “brutal” que supostamente tinha escrito antes do atentado e que apelaria à divisão. “Agora, temos um discurso mais unificador”, completou.