Por sua gravidade, o caso da “Abin paralela” teve forte repercussão em diferentes frentes e tem potencial para, junto com o do desvio e venda de joias pertencentes ao Estado brasileiro, desgastar e resultar em condenações para Jair Bolsonaro e seu entorno.
Novos desdobramentos sobre a arapongagem bolsonarista ilegal vieram a público nessa semana, a partir da quarta fase da Operação Última Milha, deflagrada pela Polícia Federal na quinta-feira (11).
A estrutura clandestina foi usada durante o governo de Jair Bolsonaro para espionar desafetos — entre os quais ministros do STF, parlamentares e jornalistas —, mas também aliados, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e para obter informações que pudessem beneficiar o grupo, alimentar o gabinete do ódio e proteger os filhos do ex-presidente.
Um dos materiais que compõem as investigações é a gravação de uma reunião — cujo conteúdo completo ainda não foi revelado, mas que é tido como potencialmente bombástico — da qual participam Bolsonaro, o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
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Segundo noticiado, na reunião eles tratariam de uma possível blindagem ao filho do ex-presidente e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) com relação ao caso das rachadinhas.
Durante as investigações, a PF achou o áudio da conversa no celular do hoje deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), candidato de Bolsonaro à prefeitura do Rio de Janeiro.
Segundo noticiado pelo jornal O Globo, Bolsonaro teria ficado bastante “irritado” com o fato de Ramagem ter guardado o arquivo e a candidatura do deputado já estaria sendo colocada em dúvida dentro do próprio partido.
A PF marcou para a próxima quarta-feira (17) depoimento de Ramagem na superintendência da corporação. Agentes da Abin também deverão ser ouvidos na próxima semana.
Nesta sexta-feira (12), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a prisão de cinco investigados, feita durante a quarta fase da Operação Última Milha.
Com a decisão, vão continuar presos Mateus de Carvalho Sposito, ex-funcionário da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o empresário Richards Dyer Pozzer, o influencer digital Rogério Beraldo de Almeida, Marcelo Araújo Bormevet, policial federal, e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército. De acordo a investigação, os cinco acusados participaram do trabalho de monitoramento ilegal.
O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) classificou o uso ilegal da Abin como “deslealdade com a sociedade brasileira”.
A líder do governo Lula no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), um dos principais nomes da CPI da Covid — que pediu o indiciamento de Bolsonaro e outras dezenas de pessoas, entre as quais ex-ministros de seu governo por crimes relacionados à pandemia — foi um dos parlamentares espionados.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse que “quanto mais a Polícia Federal se aprofunda nas investigações, mais chocados ficamos com as extensões criminosas do gabinete do ódio de Jair Bolsonaro”.
Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) destacou que “a utilização de maneira ilegal e abusiva de serviços de espionagem foi uma tentativa explícita do governo Bolsonaro de violar o livre exercício do Jornalismo e o sigilo da fonte”.
As investigações mostraram que a Abin paralela monitorou as jornalistas Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.
“Já havíamos denunciado essa situação em janeiro deste ano, quando da realização da Operação Vigilância Aproximada. Tanto que solicitamos na justiça o acesso à lista de espionados à época, mas não obtivemos informações porque o processo estava sob sigilo”, apontou a entidade, em nota.
Para Mônica Bergamo, “é abjeto ter um aparelho de Estado monitorando pessoas que eles imaginam que podem, de alguma forma, minar o seu governo. É uma sensação muito estranha”.
Com agências