Operação da PF expõe desidratação da bancada do PL às vésperas de 2026

A deflagração da Operação Galho Fraco pela Polícia Federal nesta sexta-feira (19) aprofunda o desgaste do PL na Câmara dos Deputados e ajuda a desenhar um cenário de desidratação da bancada bolsonarista para a próxima legislatura. A ação mira assessores dos deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy (ambos PL-RJ), suspeitos de operar um esquema de desvio de cotas parlamentares por meio de contratos falsos com locadoras de veículos.

Liderança do PL é alvo de Investigação da PF

Relatório parcial da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal aponta movimentações consideradas suspeitas que somam R$ 28,638 milhões em contas de assessores de gabinetes de Sóstenes e Jordy, além de funcionários do PL e outras pessoas próximas aos parlamentares, sem justificativa compatível com a renda declarada. O documento, que teve o sigilo levantado nesta sexta-feira pelo ministro Flávio Dino, serviu de base para a Operação Galho Fraco, da qual os dois deputados são alvos formais.

Autorizada por Dino com aval da Procuradoria-Geral da República, a operação cumpriu sete mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, incluindo buscas pessoais, veiculares e em imóveis ligados aos parlamentares. Em um dos endereços associados a Sóstenes, líder do PL na Câmara, agentes encontraram cerca de R$ 400 mil em dinheiro vivo. O esquema usaria locadoras de fachada para escoar a verba de gabinete destinada à contratação de frota, emitindo notas frias ou superfaturadas para serviços inexistentes. Nas redes sociais, Jordy reagiu acusando Dino de “perseguição implacável” e negando qualquer irregularidade, enquanto a defesa de Sóstenes ainda não havia se manifestado até o fechamento deste texto.

Até o momento, as medidas se limitam a buscas, apreensões e quebras de sigilo, sem prisão ou afastamento de mandato, o que mantém o funcionamento formal da bancada, mas aprofunda o desgaste da principal liderança do PL no plenário.

Três cassações em série

A ofensiva policial ocorre poucos dias depois de a Câmara declarar a perda de mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), em cumprimento a decisões do STF que levaram ambos ao regime fechado e motivaram o enquadramento por excesso de faltas com base no artigo 55 da Constituição. No caso de Carla Zambelli (PL-SP), a Primeira Turma do STF manteve por unanimidade a cassação de seu mandato, anulando a tentativa da maioria da Câmara de poupá-la.

Na prática, o PL já perdeu três cadeiras desde a eleição de 2022, quando elegeu 99 deputados federais, sua maior bancada da história. Suplentes assumiram as vagas, o que preserva o número formal de cadeiras, mas esvazia o núcleo duro do bolsonarismo, que tinha em Eduardo, Zambelli e Ramagem alguns de seus quadros mais visíveis e radicalizados.

No curto prazo, a operação não retira votos da bancada, que segue apta a participar de sessões-chave, como a convocada para esta sexta-feira (19), que inclui a PLOA 2026 e outros projetos orçamentários na pauta conjunta do Congresso. O impacto é predominantemente político pois Sóstenes, que é responsável por orientar o voto da maior bancada da Casa, passa a atuar sob suspeita, tendo parte do Centrão e de outros partidos avaliando sua capacidade de articulação em meio ao escândalo. A sucessão de cassações e investigações também fragiliza a autoridade do PL para liderar a oposição ao governo, abrindo espaço para rearranjos de poder em torno de siglas como Republicanos e PP.

Encolhimento em 2027

Além das três cadeiras já perdidas, o PL entra no próximo pleito sob o peso de dezenas de inquéritos que miram parlamentares por desvio de emendas, uso irregular de cotas e relações com facções criminosas, em investigações monitoradas pela Procuradoria-Geral da República. Parte desses processos pode resultar em condenações e inelegibilidade com base na Lei da Ficha Limpa e fechar o caminho da reeleição para nomes-chave do bolsonarismo.

No ano que vem, o STF deve julgar, por exemplo, ações contra deputados do PL como Josimar Maranhãozinho (MA), Pastor Gil e Bosco Costa por suposto desvio de emendas da saúde no Maranhão, com possibilidade de perda de mandato e proibição de disputar as próximas eleições. O contraste entre o discurso expansionista da cúpula do PL e a realidade das cassações e investigações indica que o partido deve chegar à próxima legislatura com uma bancada menor. Esse enfraquecimento pode reduzir a capacidade do bolsonarismo de influenciar a escolha do próximo comando da Casa e de impor sua agenda no legislativo.

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