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Retrato da ‘Abin paralela’ quando jovem

por Lucas Silva

No inquérito da Polícia Federal que deu origem à Operação Vigilância Aproximada, dois delegados federais aparecem como os integrantes do “núcleo de alta gestão” da organização criminosa de nome popular “Abin paralela”: o notório Alexandre Ramagem e Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho.

Antes de atuarem na Abin como diretor-geral e secretário de Planejamento e Gestão da agência, Ramagem e Gonçalves já tinham trabalhado juntos em outros dois momentos: em 2018, na segurança do então candidato à presidência e, depois, do presidente eleito Jair Bolsonaro; e no início do governo Bolsonaro, cedidos pela PF para a Secretaria de Governo da Presidência da República.

Alexandre Ramagem assumiu a direção da Abin em julho de 2019. Porém, meses antes, em março, veículos de imprensa davam conta de que um certo “ex-chefe de segurança de Jair Bolsonaro” iria comandar uma espécie de “núcleo de inteligência” dentro do Palácio do Planalto com “uma equipe de três ou quatro agentes da PF”. Esse núcleo, antecessor do “núcleo de alta gestão” da “Abin paralela”, funcionou sob as ordens do general Carlos Alberto Santos Cruz, então chefe da Secretaria de Governo.

Em março de 2020, o ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Gustavo Bebianno disse o seguinte no programa Roda Viva, da TV Cultura:

“Um belo dia o Carlos [Bolsonaro] me aparece com um nome de um delegado federal e de três agentes para o que seria uma Abin paralela, porque ele não confiava na Abin. O general Heleno foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas o general Heleno não é de confrontos. O assunto acabou ali com o general Santos Cruz e comigo. Nós aconselhamos o presidente que não fizesse aquilo de maneira alguma, porque seria muito pior que o gabinete do ódio e motivo para impeachment. Eu não sei se depois que eu saí isso foi instalado ou não”.

Foi sim. Logo após aquele “belo dia” do início de 2019 – e logo depois da saída de Bebianno do governo -, o delegado federal Alexandre Ramagem foi nomeado assessor especial do ministro-general Santos Cruz.

Vale lembrar que Caio Cesar dos Santos Cruz, filho do general Santos Cruz, era representante no Brasil da empresa israelense que vendeu o sistema FirstMile para o Governo Federal, ainda no governo Temer. O uso ilegal do FirstMile para espionar autoridades e jornalistas foi a pedra angular da “Abin paralela”. No ano passado, Caio Santos Cruz foi um dos alvos de uma outra operação da Polícia Federal no âmbito das investigações da “Abin paralela”, a Operação Última Milha.

Lucas Silva é jornalista.

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Última Atualização: 13/07/2024