O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou como “absolutamente irracional e grotesca” a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor um bloqueio “total e completo” a todos os navios petroleiros que entram e saem do país. Em comunicado oficial, Maduro afirmou que a medida tem um objetivo explícito: “roubar as riquezas de nossa pátria”, em referência direta às maiores reservas de petróleo do mundo, localizadas em território venezuelano.
Para o governo bolivariano, trata-se de um ato de guerra econômica e de pirataria naval, que viola o direito internacional, a Carta da ONU e os princípios da livre navegação e do livre comércio. Caracas anunciou que recorrerá às Nações Unidas para denunciar o que chamou de “grave agressão imperialista” e reafirmou que não aceitará qualquer forma de tutela estrangeira.
Bloqueio, sanções e ameaça militar
O bloqueio decretado por Trump ocorre em meio a uma escalada sem precedentes da pressão norte-americana sobre a Venezuela. Desde agosto, os Estados Unidos intensificaram a presença militar no Caribe, com envio de navios de guerra, aeronaves e milhares de soldados, além de ataques e apreensões de embarcações venezuelanas, resultando em quase cem mortos.
Em redes sociais, Trump chegou a afirmar que a Venezuela está “completamente cercada” e acusou o país de “roubar petróleo e terras” dos EUA — declarações vistas por analistas como uma confissão aberta de ambições predatórias. Reportagens do New York Times reforçam que, apesar do discurso oficial sobre combate ao narcotráfico, o petróleo é o verdadeiro foco da ofensiva norte-americana.
PCdoB denuncia pirataria neocolonial
Em nota oficial divulgada nesta terça-feira (17), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) condenou duramente o bloqueio imposto pelos Estados Unidos, classificando-o como “ilegal, arbitrário e agressivo”. Segundo o partido, trata-se de “pirataria neocolonial” e de mais um capítulo da histórica política de saque das riquezas latino-americanas pelo imperialismo norte-americano.
“O bloqueio de petroleiros é a tentativa explícita de estrangular a economia venezuelana, controlar seu petróleo e impor, pela força, um projeto de submissão que os povos da América Latina rejeitam há décadas”, afirma a nota. O PCdoB reiterou solidariedade total ao povo e ao governo da Venezuela e convocou forças progressistas e democráticas do mundo a se manifestarem contra a escalada belicista de Washington. “A América Latina não é quintal de império algum”, conclui o texto.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) também foi bem direto: “Os ataques reiterados e o bloqueio de navios são atos bélicos odiosos, que violam o direito internacional e ameaçam a paz. Trump já nem finge mais: nunca foi combate a cartéis, sempre foi o imperialismo tentando roubar petróleo e impor um governo títere”.
Lula alerta para risco de guerra na América Latina
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou forte preocupação com as atitudes do governo Trump e com a possibilidade de um conflito armado na região. Durante reunião ministerial na Granja do Torto, Lula afirmou que o país precisa estar “muito atento” às ameaças contra a América Latina.
“Estou preocupado com a América Latina. Estou preocupado com as atitudes do presidente Trump, com as ameaças. Nós vamos ter que ficar muito atentos com essa questão”, declarou. Lula revelou ainda que se ofereceu para atuar como interlocutor entre Washington e Caracas, defendendo o diálogo como alternativa à guerra. “O poder da palavra pode valer mais do que o poder da arma”, disse.
O presidente chegou a pedir que o chanceler Mauro Vieira não se ausente durante o recesso, diante do risco de uma crise militar iminente, e ressaltou que não se pode romper a tradição histórica de paz do continente sul-americano. “Aqui não temos armas nucleares nem o hábito da guerra”, afirmou.
China e Rússia reagem à ofensiva dos EUA
A escalada norte-americana também provocou forte reação internacional. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, declarou que Pequim rejeita “toda forma de assédio unilateral” e manifestou apoio à soberania da Venezuela durante conversa com o chanceler venezuelano Yvan Gil.
Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que está à disposição para atender um eventual pedido de ajuda de Caracas e alertou que os ataques dos Estados Unidos podem gerar “consequências imprevisíveis” para todo o mundo ocidental. O presidente russo, Vladimir Putin, reiterou solidariedade a Maduro e reforçou a intenção de ampliar a cooperação bilateral, especialmente no setor energético.
Petróleo no centro da disputa imperial
Apesar das sanções e do bloqueio, o governo venezuelano afirma que a exportação de petróleo segue em funcionamento, com apoio técnico e jurídico da PDVSA. Ainda assim, especialistas alertam que a ofensiva dos EUA representa um salto qualitativo na agressão contra a Venezuela e pode desestabilizar toda a região.
Para governos progressistas, partidos de esquerda e analistas internacionais, a crise escancara o verdadeiro objetivo da política de Trump: retomar, pela força, o controle sobre as riquezas energéticas venezuelanas. Um movimento que, além de ilegal, coloca em risco a paz regional e reforça a necessidade de uma resposta firme da comunidade internacional contra o imperialismo e em defesa da soberania dos povos.