Eficiência, aumento dos investimentos e melhoria dos serviços formam o tripé do discurso privatista — exatamente o oposto do que temos visto em São Paulo. O caso da ENEL é emblemático e ajuda a compreender os riscos de submeter direitos essenciais à lógica do mercado, caminho que também vem sendo trilhado pela Sabesp. Se as privatizações já se mostram equivocadas, em setores estratégicos o erro é ainda mais grave.
O vendaval da semana passada deixou um rastro de destruição e milhares de pessoas sem energia elétrica por dias em diversas regiões do estado. Além dos danos provocados pela tempestade, o que mais indignou a população foi a incapacidade da empresa de responder com rapidez. Faltaram equipes, técnicos e planejamento para restabelecer os serviços. Essa fragilidade não é fruto do acaso, mas resulta de cortes de custos, redução de funcionários e terceirizações excessivas, práticas recorrentes em empresas privatizadas. Enquanto o serviço piora, as tarifas seguem aumentando, garantindo lucro aos acionistas às custas do sofrimento da população, gerando medo e insegurança.
Com novas chuvas fortes previstas para o final de semana, cresce a sensação de que não se pode confiar nem mesmo no sistema de energia das cidades mais ricas do país. Quando falta luz, faltam também água, transporte, comunicação e segurança. Assim, um evento climático é transformado em crise social. Esse mesmo caminho começa a ser percorrido pela Sabesp. Apesar das promessas de que a privatização não encareceria a conta, já está anunciado aumento de tarifas para o início do ano. Ao mesmo tempo, multiplicam-se relatos de queda na qualidade do serviço, com falta d’água e água escura e com cheiro chegando às torneiras. O filme é conhecido: menos investimento público, pior atendimento e custos mais altos.
Quando privatizadas, empresas passam a priorizar interesses privados em detrimento do bem-estar coletivo. A responsabilidade é das empresas, mas também do governo do Estado de São Paulo, que promove privatizações em série e demonstra incapacidade de governar um estado complexo, colocando o lucro de poucos acima dos direitos de milhões de paulistas. Serviços essenciais não são mercadoria.
Deputado Nilto Tatto (PT-SP)