As recentes tragédias ocorridas em Marrocos — o desabamento de dois prédios em Fez, que ceifou a vida de 22 pessoas, e as inundações em Safi, responsáveis pela morte de 37 pessoas — não podem ser tratadas como simples fatalidades naturais. Esses acontecimentos expõem, mais uma vez, o profundo fracasso estrutural do Estado marroquino e a negligência sistemática do regime diante da vida de sua população.
Não se trata de “destino” ou “vontade divina”, mas de crimes sociais e políticos resultantes do abandono crônico das cidades, da falta de fiscalização, da corrupção generalizada e da inexistência de políticas sérias de prevenção e resposta a desastres. Prédios desmoronam porque nunca foram fiscalizados; pessoas morrem afogadas porque não há infraestrutura, planejamento urbano ou sistemas eficazes de emergência.
O que torna esse cenário ainda mais revoltante é o fato de que, enquanto cidades inteiras enfrentam luto, destruição e desespero, o regime marroquino demonstra total indiferença ao sofrimento popular. Em vez de mobilizar imediatamente todos os recursos do Estado para socorrer as vítimas e apoiar as regiões atingidas, as prioridades do governo parecem estar voltadas para a realização da Copa Africana de Nações, que começa na próxima semana em Marrocos. Megaeventos, propaganda internacional e prestígio político são colocados acima da vida humana.
Esse abandono deliberado revela a lógica de um regime que investe milhões em imagem e espetáculo, mas falha em garantir direitos básicos como moradia segura, proteção civil e dignidade. A ausência de apoio rápido e efetivo às cidades atingidas não é acaso: é consequência direta de um sistema que despreza os pobres, marginaliza as periferias e silencia qualquer voz que exija justiça e responsabilização.
As mortes em Fez e Safi são mais um capítulo de uma longa história de impunidade. Sem justiça, sem responsabilização e sem mudanças estruturais, o que se chama de “tragédia” continuará se repetindo — e o luto seguirá sendo imposto aos mesmos de sempre.