Durante a Análise da 3ª, transmitida pela Rádio Causa Operária nesta terça-feira (16), às 12h30, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, comentou a situação política na América Latina, a guerra na Ucrânia, a atuação do imperialismo e temas da política nacional, como a crise energética em São Paulo, as manobras do STF e episódios recentes envolvendo a Câmara dos Deputados.
Ao tratar da conjuntura latino-americana, Pimenta afirmou que é necessário “uma explicação adequada” do ciclo de governos chamados “nacionalistas” que se consolidou no período conhecido como “onda cor-de-rosa”. Segundo ele, esse ciclo teria sido favorecido por uma situação econômica internacional mais favorável e, posteriormente, sofreu uma sequência de rupturas. Pimenta citou a eleição de Mauricio Macri na Argentina, o golpe no Brasil, o golpe na Bolívia e uma série de golpes no Peru como parte de um movimento de reação que abriu caminho para uma nova onda de governos identificados com a esquerda nacionalista.
Na avaliação do dirigente, essa segunda onda teria mostrado caráter instável e, em vários casos, serviu como “governo tampão”, isto é, como uma etapa de transição para a recomposição da direita. Ele mencionou os casos de Alberto Fernández na Argentina e Luis Arce na Bolívia, apontando que ambos fracassaram, com consequências políticas profundas. No caso boliviano, Pimenta mencionou a perseguição contra o ex-presidente Evo Morales e afirmou que o processo teria favorecido o retorno da direita.
Sobre o Chile, Pimenta afirmou que o caso do governo Gabriel Boric não seria “isolado”, mas parte de uma tendência regional. Ele recordou que Boric chegou ao governo na esteira da grande mobilização de 2019 e disse que, ainda assim, os governos que se apresentaram como de esquerda teriam “fracassado totalmente” por “trair as expectativas”, isto é, por assumirem programas de direita e por se apoiarem em alianças com setores da burguesia local. Para Pimenta, esse movimento produziu “desilusão das massas” e impulsionou vitórias da direita, como ocorreu no Chile. Ele definiu o governo Boric como resultado de uma recomposição do Partido Socialista e da Democracia Cristã, caracterizando a chamada frente ampla chilena como parte do regime político tradicional do país, e afirmou que a direita obteve uma “vitória acachapante” nas eleições do último final de semana.
No Brasil, Pimenta disse que “tudo indicaria” que o governo Lula poderia sofrer derrota semelhante, por adotar “um programa” que não é de esquerda, com “enormes concessões ao neoliberalismo” e compromissos com a política do grande capital. Ao comparar as figuras políticas, afirmou que Boric é “um recém-chegado”, “um palito de fósforo”, ao passo que Lula tem “muito mais ativo político” do que outros dirigentes da região, o que, na sua análise, muda parcialmente a dinâmica, mas não elimina o problema de fundo.
Em seguida, Pimenta comentou a Venezuela, afirmando que é “difícil dizer” com precisão o que ocorre sem observar in loco quais medidas concretas estão sendo tomadas. Ainda assim, destacou um ponto: disse não ver base para afirmar que haja “uma transição para o socialismo”, mas considerou que o governo venezuelano estaria buscando ampliar seu apoio popular. Esse movimento, segundo ele, poderia abrir caminho para medidas mais duras, inclusive a possibilidade de confisco da propriedade da burguesia em um cenário de agressão direta, afirmando que, “diante de uma invasão norte-americana, o país poderia evoluir para confiscar a propriedade da burguesia”, independentemente das ideias declaradas por setores do governo.
Ao comentar Argentina e Chile, Pimenta declarou que “o modelo Milei é o que o Kast vai fazer também”, e concluiu que esses governos não são “verdadeiros governos de extrema direita”, mas uma forma mais agressiva do neoliberalismo. Ele estendeu a análise a Bolívia, Equador e Peru e disse que o Brasil entra nessa mesma rota se o governo Lula cai. Para Pimenta, Argentina e Chile, depois do Brasil, são os países economicamente mais importantes da América do Sul, e por isso é necessário acompanhar de perto o que acontece ali.
Nesse ponto, levantou um problema político para 2026, mesmo no caso de vitória eleitoral: “e se o Lula ganhar a eleição?”. Pimenta afirmou que a exigência do grande capital é uma política “Milei”, isto é, um neoliberalismo duro. Ele questionou se Lula enfrenta a burguesia e, se enfrenta, como se mantém no governo, sobretudo com a possibilidade de um Congresso ainda mais hostil, com crescimento da extrema direita. E resumiu: “ganhar as eleições não resolve o problema”. Segundo ele, se o governo se desloca para a direita, fracassa; se se desloca para a esquerda, enfrenta um golpe de Estado.
No plano internacional, Pimenta comentou a Ucrânia e a proposta de força multinacional. Ele disse que a Rússia não aceita essas tropas e que isso aumenta o nível de ameaça ao país. “A princípio não vejo que isso tenha futuro”, afirmou. Pimenta também disse que Donald Trump não concorda com a política geral do bloco imperialista e declarou que, sem ele, não existe negociação de cessar-fogo: “se o Trump não tivesse aí não teria nem negociação de cessar-fogo, nada”.
Ainda no tema do imperialismo, Pimenta afirmou que o confisco de bens é prática recorrente: “roubaram a Venezuela, roubaram o Afeganistão”. Ele disse que, durante a ocupação norte-americana e europeia do Afeganistão, transferiram recursos para bancos internacionais e depois não devolveram.
Sobre o Canadá, Pimenta criticou a realização de um memorial às “vítimas do comunismo” e disse que mais da metade dos homenageados são colaboradores do nazismo. Ele lembrou também que o parlamento canadense convidou um ucraniano apoiador de Hitler para discursar e concluiu: “isso porque é o imperialismo ‘democrático’”. Em seguida, afirmou: “não adianta ser contra extrema direita se você é a favor do imperialismo”.
Na política nacional, Pimenta tratou da crise da Enel em São Paulo e disse que a privatização do setor elétrico fracassou. “É bom ser grande capitalista. Aí não tem STF, não tem nada”, afirmou, chamando a situação de “vergonha nacional”. Ele comentou que até privatizadores como Tarcísio pedem cassação da concessão, mas sustentou que trocar a empresa não resolve: “vai dar no mesmo”. Para ele, a medida necessária é “intervenção federal e reestatização do sistema elétrico”. Pimenta criticou a posição de Lula e disse: “não faz o menor sentido essa declaração do Lula. A cidade toda ficou no escuro”.
Pimenta afirmou que o prejuízo é incalculável e relatou que, mesmo onde não há apagão total, a energia fica instável e causa danos materiais: “toda vez que chove, a energia fica instável, queima coisas…”. Ele acrescentou que Lula não criou o problema, que vem das privatizações, mas tem responsabilidade de agir e pode decretar intervenção. Segundo Pimenta, o governo não age porque “tem medo da burguesia”.
Ao comentar as denúncias envolvendo o ministro Alexandre de Moraes e o Banco Master, Pimenta afirmou que, mesmo sem crime, o caso é “moralmente, politicamente e até administrativamente condenável”. Ele disse: “juiz não pode ter a família ganhando fortuna por atuar junto ao Judiciário”, ainda mais quando a fortuna vem de um banco denunciado por “inúmeras falcatruas”. Para ele, isso exige apuração: “no mínimo deveria dar lugar a algum tipo de investigação”. Pimenta também criticou o que chamou de “dois pesos e duas medidas” e disse que, se fosse com Lula ou alguém da esquerda, o tratamento seria imediatamente repressivo.
No debate sobre cortes supremas, Pimenta afirmou que não existe corte neutra e disse que, na Venezuela, forças do chavismo indicam representantes de seus interesses. Ele contrastou com o Brasil, onde o STF “se apoderou das instituições do País”. Pimenta afirmou que o problema aparece quando se cria um órgão desse tipo, porque ele abre caminho para o que ocorre hoje.
Sobre mobilizações recentes convocadas por setores ligados à Rede Globo, Pimenta afirmou que o governo Lula “treina os coxinhas para executar a revolução colorida no momento certo” e disse que a participação de setores da esquerda nesses atos é difícil de entender. Ele avaliou que a manifestação perdeu apelo e que mais gente identifica que um ato convocado pela Rede Globo não representa uma ação progressista.
Ao falar da Lei Magnitsky, Pimenta disse que há um acordo e que a natureza dele não aparece com clareza. Ele citou versões sobre terras raras e sobre concessões em torno de Bolsonaro e votações no Congresso e criticou acordos secretos: um governo democrático não faz esse tipo de operação.
Por fim, ao comentar a crise envolvendo Carla Zambelli e decisões do STF, Pimenta afirmou que, na prática, “a Câmara decide, se decidir de acordo com o que Moraes acha que deve ser decidido”. Ele disse que Zambelli renunciou sob pressão e que, a princípio, não perdeu direitos políticos. Para ele, o ponto central é o avanço do STF: com essa decisão, a corte não apenas legisla; ela define quem ocupa cadeiras no Congresso, o que ele classificou como absurdo diante do voto popular. Pimenta afirmou que isso representa mais um passo rumo a uma ditadura e disse que, como Lula tem acordo com o STF, “não aparece que ele manda em tudo”. E concluiu: “quem manda no Brasil é o STF”, que ele definiu como o único órgão não eleito em comparação com Executivo e Legislativo.
Pimenta criticou a ideia, presente em setores da esquerda, de que o regime precisa de um tutor institucional e afirmou que o caminho é a luta política, com mobilização popular: “você tem que chamar o povo para a luta, e não dar poder a uma corte de iluminados”. E encerrou com uma caracterização do regime: “é uma monarquia. Só a revolução pode destituir essa gente”.
Assista ao programa na íntegra: