Mais um coxinhato contra o Congresso?

O artigo Quando o Congresso vira ameaça, o povo precisa ser o freio, de Elisabeth Lopes, publicado no Brasil 247 neste sábado (13), utiliza quase 14 mil caracteres para atacar o Congresso puxando a lista de crimes de parlamentares, conluios, o que seja.

Atacar o Congresso tem uma função muito específica: fortalecer o Supremo Tribunal Federal, o novo Poder Moderador brasileiro.

Aliás, o povo saiu às ruas para “frear” o Congresso, mas quem o convocou foi a Rede Globo, a quem a maioria da esquerda obedeceu caninamente.

Elisabeth Lopes escreve em seu primeiro parágrafo que “Ulisses Guimarães, símbolo das Diretas Já e da Constituinte Cidadã, advertiu com a lucidez de um parlamentar democrata: ‘A única coisa que mete medo em político é o povo na rua’. A advertência de Ulisses retorna na atual conjuntura com toda força, porque jamais tivemos um Congresso tão disposto a afrontar a democracia, a Constituição e o próprio sentido de representação popular. A composição majoritária fruto da simbiose tóxica entre o Centrão fisiológico e a extrema direita autoritária age sem pudor, sem limite e sem vergonha. É a política reduzida ao balcão de negócios, à chantagem institucionalizada, à defesa de interesses privados travestidos de prerrogativas parlamentares”.

Relembrar as Direta, Já! vem a calhar, pois naquele momento o povo foi traído. As multidões que saíram às ruas assistiram a eleição presidencial ser levada para o colégio eleitoral. As opções pendiam entre o preferido e o predileto da ditadura. Venceu Tancredo Neves contra Paulo Maluf. E, como se não bastasse, Tancredo não assumiu e o Brasil herdou, ilegalmente, José Sarney.

Sobre a Constituição Cidadã, o que dizer? Ela, coitada, está morta; ou melhor caiu em desuso. Mas não importa, o Brasil tem agora algo muito moderno, uma instituição que faz leis de acordo com as necessidades, revoga umas que estão “ultrapassadas”: é o glorioso Supremo Tribunal Federal.

Certa esquerda, de repente, descobriu que um “Congresso tão disposto a afrontar a democracia, a Constituição e o próprio sentido de representação popular”. E o STF representa a quem? Ninguém votou nesses verdadeiros monarcas que afrontam a Constituição rotineiramente.

A composição, que sempre ocorreu no Congresso, virou agora “simbiose tóxica”. Claro que tudo tem que tomar um ar de catástrofe, como, por exemplo, no trecho que diz que “diante dessa desfaçatez, dessa máquina legislativa antipovo, antidemocracia e antiética, não há conciliação possível”.

Dizer que não há “conciliação possível” serve como justificativa para intromissão do STF no Congresso. Outros articulistas andaram dizendo que o STF legisla porque o Legislativo se omite. Toda hora aparece uma desculpa nova. O intuito, no entanto, é o mesmo.

Inversão de papéis

O Supremo não pode cassar mandatos, mas o tem feito sob aplauso da esquerda pequeno-burguesa, que ataca o Congresso quando este reage à usurpação de poder que vem acontecendo a olhos vistos. Ao não cassar o mandato de Carla Zambelli, gostem ou não, o Legislativo estava cumprindo seu papel, quem não poderia intervir na decisão era justamento o Supremo, o que é flagrantemente inconstitucional, mas a articulista chama os deputados de “grupo de usurpadores extremistas e sem nenhum escrúpulo”.

Já ficou evidente que o “julgamento” de Bolsonaro tinha como intuito forçar uma negociação. O ex-presidente deveria trocar seu apoio a Tarcísio de Freitas por futuros relaxamentos na sua pena. Acontece que Jair Bolsonaro não aceitou a chantagem. Com isso ninguém contava. No entanto, Elisabeth Lopes diz que ao lançar Flávio como candidato, Jair Bolsonaro recorre novamente ao seu truque preferido, transformar a política num balcão de proteção familiar”. Ela inverte os papéis. Ou alguém vai acreditar que Bolsonaro e os generais de pijama foram condenados porque tentaram dar um golpe? Desde o começo é um balcão de negócios, e a mercadoria são as próximas eleições presidenciais.

É muito fácil cair no jogo de “mocinho x bandido”. Todos passam por cima, fingem não ver, que se Bolsonaro tentou dar um golpe, o Supremo é golpista de fato. Os golpistas de 2016 aparecerem agora como democratas. Chega a ser inacreditável.

O povo

Outra coisa interessante é que a esquerda se lembrou que existe uma coisa chamada povo. Em algum momento do texto o leitor se depara com frases do tipo “A sessão foi conduzida de forma açodada no fim do dia, que praticamente exclui a população do acompanhamento dos debates”. E em que o povo é consultado nas decisões do STF?

O povo nunca é consultado, se o fosse, Alckmin nunca teria sido escolhido como vice de Lula. Também não adianta chamar Tarso Genro para a conversa tratando-o como “emérito Jurista” para falar em atentado à democracia. O partido dele tomou um golpe com Suprem, com tudo; viu José Dirceu ser preso sem provas; assistiu Lula indo passar quase dois anos na cadeia e vem falar em atentando à democracia? Se estivesse realmente preocupado com isso, não sairia por aí defendendo golpistas.

Às ruas

Chegando próximo do final Elisabeth Lopes diz que no dia 12 de dezembro houve “outra notícia positiva para o Brasil foi a retirada dos nomes do ministro Alexandre de Moraes e de sua esposa da lista da Lei Magnitsky”. O que o Brasil ganha com isso? Ainda mais em um momento em que vazamentos demonstram relações muito estranhas do escritório da esposa do ministro com o banco Master. Seu escritório, segundo a grande imprensa, teria recebido R$ 3,6 milhões por mês durante três anos.

No último parágrafo, a articulista relembra Ulisses Guimarães, que apresenta como grande opositor da ditadura. Diante do que ela chama de “Congresso capturado”, diz que “a presença física e massiva do povo na rua é inadiável”.

Veremos, se a Globo convocar, a esquerda vai para as ruas. Assim, teremos mais um coxinhato de uma esquerda que se deixou capturar pelos interesses da burguesia.

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