Rússia entrega primeiros lotes de vacina contra o câncer

Nesta quarta-feira (11), foi anunciado pelo diretor do Instituto de Pesquisa Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia, localizado na Rússia, Alexander Gintsburg, a entrega dos três primeiros lotes de sua nova vacina oncológica de mRNA. Ele destacou que, embora os lotes tenham passado por todos os controles de qualidade, ainda são experimentais.

“O mais importante é que nosso principal centro de oncologia – o Instituto Herzen, liderado pelo acadêmico [Andrey] Kaprin – obteve todas as aprovações necessárias para usar a tecnologia, desde o diagnóstico e a produção de mRNA até a administração aos pacientes”, disse Gintsburg.

O instituto é parte do Conselho Científico do Ministério da Saúde da Federação Russa sobre Microbiologia, que coordena as atividades científicas sobre a epidemiologia de doenças infecciosas e infecções nosocomiais, doenças focais naturais em humanos, microbiologia médica, genética e biologia molecular de bactérias, imunologia infecciosa teórica e aplicada.

A nova vacina

O desenvolvimento deste medicamento imunobiológico foi anunciado por Gintsburg em setembro deste ano:

“Toda a documentação foi submetida ao Ministério da Saúde há algum tempo e esperamos que o Instituto Herzen, o Centro Blokhin e o nosso instituto recebam em breve a aprovação para iniciar a produção dos primeiros tipos de vacinas personalizadas contra o melanoma”, disse Gintsburg durante uma mesa redonda.

Nessa fase, escolheram-se os grupos de pacientes e analisaram-se seus dados genéticos. Isso atesta sua alta eficiência pré-clínica, algo entre 60 a 80%, e aptidão para aplicação clínica.

O que são vacinas de adenovírus?

Os adenovírus são uma família viral com a qual a humanidade há muito convive, tendo como principais patologias as gastroenterites, conjuntivite, faringite, pneumonia e hepatite, quase sempre ocasionando infecções assintomáticas ou leves.

Além da extrema resistência, essa família viral apresenta genoma de DNA de dupla hélice linear. Esse conjunto de características acaba configurando os adenovírus como vetores extremamente seguros e fáceis de projetar.

Mediante manipulações genéticas, os vírus são programados com material genético-alvo e para não se reproduzir. Tornam-se somente um vetor desse determinado material genético, contra o qual se deseja treinar o sistema imunológico para o combate.

Qual a segurança desse processo?

Embora ainda seja uma tecnologia pouco difundida no mercado, sua utilização farmacológica conta com cinco décadas de experiência. Somente com adenovírus já foram realizados mais de 350 estudos científicos no mundo.

A utilização clínica desta modalidade de fármaco conta com mais de 20 mil participantes em ensaios clínicos. Um destes fármacos, o Gendicine, fabricado pela Shenzhen SiBiono GeneTech, para tratar tumores cancerígenos na China, tem 12 anos de uso comercial, já tendo sido administrado a mais de 30 mil pacientes.

Esse medicamento utiliza um adenovírus para transportar o gene humano p53 para o interior das células tumorais. Esse processo induz a apoptose das células tumorais, sem efeitos colaterais, à exceção de uma febre transitória associada ao vetor.

Sputnik V

Esse foi o processo utilizado pela Gamaleya para desenvolver a Sputnik V, uma das primeiras vacinas do mundo contra a Covid-19, lançada em 2020. Um fármaco aprovado em mais de 70 países, sem efeitos colaterais graves e com até 97,8% de eficácia.

Esse mesmo processo foi utilizado na produção da Sputnik Light e de uma vacina global para todas as variantes do HIV.

“Atualmente, estamos na fase de criação dos primeiros antígenos que gerarão uma resposta imune amplamente neutralizante. O sucesso da vacina dependerá da capacidade do imunógeno que utilizarmos para desencadear uma resposta capaz de proteger contra todas as variantes”, afirmou Gushchin, enfatizando que a extrema diversidade genética do vírus HIV torna a tarefa muito desafiadora.

Vacinas personalizadas

O anúncio desta última vacina segue a autorização, no mês anterior, de utilização de duas novas vacinas oncológicas: a russa NeoOncoVak, uma vacina terapêutica baseada em mRNA para melanoma, e a Oncopept, da empresa indiana MedGenome, uma vacina peptídica para tumores malignos.

Ambos os casos utilizam análise genética dos tumores e outros materiais para especificar os antígenos para os quais se deseja treinar o sistema imunológico.

O Instituto Gamaleya, com mais de 30 anos de estudo nesta área específica, tornou-se uma referência no setor.

Inteligência artificial

Algo bastante promissor nestes desenvolvimentos é a utilização de simulações com inteligência artificial, tanto nos procedimentos de análise genética e desenvolvimento de imunógenos quanto na testagem pré-clínica dos mesmos.

Segundo Gushchin, o instituto Gamaleya está atualmente desenvolvendo e testando imunógenos capazes de neutralizar a maior variedade possível de cepas do HIV.

“Esta será uma vacina geneticamente modificada, criada a partir de uma estrutura que inicialmente existe apenas em um computador”, explicou Gushchin.

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