‘Trump está nos levando sonâmbulos para uma guerra’

Cresce a inquietação de legisladores dos EUA em Washington, inclusive entre alguns republicanos, que condenam a apreensão de petroleiro venezuelano e em relação à crescente presença militar do governo Trump no Caribe.

Parlamentares democratas de alto escalão e pelo menos um republicano condenaram a apreensão de um petroleiro venezuelano na costa do país na quarta-feira, com um deles afirmando que Donald Trump está “nos conduzindo sonâmbulos a uma guerra com a Venezuela”.

Em Washington, cresce em Washington um desconforto, pelo menos em parte bipartidário, com a escalada da presença militar do governo na região. Trump acusou a Venezuela de facilitar o tráfico de drogas e aumentou a presença militar dos EUA no Caribe a um nível sem precedentes em décadas. O governo também realizou uma campanha de bombardeios contra supostos barcos de narcotráfico, que já matou mais de 80 pessoas.

Trump confirmou a apreensão do petroleiro logo após o ocorrido, dizendo aos repórteres: “Acabamos de apreender um petroleiro na costa da Venezuela – um petroleiro grande, muito grande, o maior já apreendido, na verdade.” Quando questionado sobre o que aconteceria com o petróleo, Trump respondeu: “Ficamos com o petróleo, eu acho!”

Imagens mostram forças americanas assumindo o controle de um petroleiro na costa da Venezuela – vídeo

O senador Chris Van Hollen, de Maryland, que integra a comissão de relações exteriores do Senado, afirmou que a apreensão do petroleiro indica que o governo está sendo desonesto em relação às suas operações militares na região.

“Isso demonstra que toda a história que eles contam – de que se trata de interceptar drogas – é uma grande mentira”, disse Van Hollen. “Esta é apenas mais uma prova de que, na verdade, o objetivo é uma mudança de regime – pela força.”

Rand Paul, senador republicano pelo Kentucky, disse à News Nation que “apreender um petroleiro é o início de uma guerra” e questionou se “é função do governo americano sair em busca de monstros pelo mundo, procurando adversários e iniciando guerras”.

Chris Coons, senador democrata, disse também estar alarmado com as ações do governo, declarando à emissora: “Não tenho ideia de por que o presidente está apreendendo um petroleiro e estou bastante preocupado que ele esteja nos conduzindo, sem percebermos, a uma guerra com a Venezuela.”

Mark Warner, também senador democrata, destacou o que caracterizou como prioridades inconsistentes, publicando nas redes sociais: “Então eles podem apreender um petroleiro, mas não um barco de narcotráfico?”

Quando questionado pela CNN se se opunha ao objetivo de Trump de promover uma mudança de regime na Venezuela, Chuck Schumer recusou-se a responder, afirmando que a mensagem errática de Trump tornava impossível conhecer suas verdadeiras intenções.

“A questão é que o presidente Trump fala tantas coisas diferentes de tantas maneiras diferentes que você nem sabe do que diabos ele está falando”, disse o líder da minoria no Senado.

“Obviamente, se Maduro simplesmente fugisse por conta própria, todos gostariam disso”, disse ele, acrescentando, porém, que a falta de clareza tornava impossível endossar políticas específicas.

A procuradora-geral, Pam Bondi, afirmou que o FBI, a Divisão de Investigações de Segurança Interna e a Guarda Costeira cumpriram um mandado de apreensão da embarcação, que, segundo ela, transportava petróleo sancionado da Venezuela e do Irã há anos, como parte de uma rede de apoio a organizações terroristas estrangeiras.

O governo da Venezuela classificou a apreensão como “um roubo descarado e um ato de pirataria internacional”, alegando que ela revela que a agressão dos EUA “sempre teve como alvo nossos recursos naturais, nosso petróleo, nossa energia”.

Nem todos se opuseram. Quando Ted Cruz, senador republicano do Texas, foi questionado sobre sua reação à apreensão do petroleiro, ele desconversou e disse que Trump estava salvando vidas americanas ao combater o tráfico de drogas.

Em novembro, quando o Irã apreendeu um petroleiro com bandeira das Ilhas Marshall no Estreito de Ormuz, o Comando Central dos EUA condenou o ato como uma “violação flagrante do direito internacional” que prejudicava a liberdade de navegação e comércio.

Adam Schiff, senador democrata pela Califórnia, classificou a situação como uma “escalada muito perigosa e um prelúdio para um potencial conflito”. Na semana passada, ele e Paul, juntamente com os senadores Tim Kaine, da Virgínia, e Schumer, apresentaram uma resolução sobre poderes de guerra com o objetivo de impedir o envolvimento militar do governo com a Venezuela sem a aprovação do Congresso.

O governo implantou o que descreve como a maior presença naval no Caribe desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, ostensivamente para atingir o que Trump chamou de “narcoterroristas”. Mas autoridades antidrogas americanas observaram, em um relatório de maio, que o fentanil entra nos EUA principalmente por meio de produtores chineses e organizações criminosas mexicanas, enquanto a cocaína vem principalmente da Colômbia, Peru e Bolívia.

Publicado originalmente pelo The Guardian em 11/12/2025

Por José Gedeon em Washington

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