A farsa da jovem bilionária brasileira (e sua empresa processada nos EUA), por João Paulo Pacifico

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A farsa da jovem bilionária brasileira (e sua empresa processada nos EUA)

por João Paulo Pacifico

A jovem bilionária que a mídia celebrou por provar que a meritocracia funciona tem uma obscura história que pouco foi falada pela imprensa brasileira.  Mas que vem ganhando relevância lá fora.

Nesta semana, a brasileira Luana Lopes Lara ganhou destaque como pessoa mais jovem do mundo a construir a própria fortuna bilionária.

Os jornais repetiram a mesma narrativa encantada: a menina cresceu em Joinville, foi bailarina do Bolshoi, estudou no MIT, trabalhou no mercado financeiro e hoje, aos 29 anos, comanda a Kalshi, uma empresa avaliada em mais de 11 bilhões de dólares.

Uma história perfeita para os defensores da meritocracia.

Maaaas, quando você começa a investigar o que realmente é a Kalshi e como ela chegou lá, a narrativa desmonta rapidinho.

O que é a Kalshi?

A Kalshi é, na prática, uma BET disfarçada. Uma casa de apostas que finge não ser casa de apostas para driblar a legislação dos Estados Unidos.

As casas de apostas nos EUA seguem regras pesadas:

  • precisam de licença em cada um dos 50 estados;
  • pagam impostos altíssimos;
  • só podem aceitar apostadores acima de 21 anos.

A Kalshi se apresenta como um “mercado de contratos financeiros”, usa regulação federal (ao invés da estadual), paga muito menos impostos e aceita clientes a partir de 18 anos (ao invés de 21).

Na Kalshi é possível apostar em tudo

  • Esportes
  • Inflação
  • Temperaturas
  • Guerras

E até em quem vai ganhar a eleição presidencial.

Com isso, passou a competir deslealmente com BETs reguladas.

Não que as BETs sejam um exemplo de empresa… mas pelo menos seguem padrões mínimos, o que não acontece com a Kalshi.

Por conta disso, sete estados americanos, além de povos indígenas que operam cassinos legalizados, moveram ações contra a empresa da brasileira, acusando-a de praticar apostas ilegais mascaradas de contratos financeiros.

Mas a situação só piora.

Para se proteger da enxurrada de processos, a Kalshi tomou uma decisão “esperta”.

Em janeiro de 2025, contratou Donald Trump Jr., o filho mais velho do presidente Trump, como conselheiro estratégico.

Se reguladores estaduais tentam bloquear a operação, nada como ter a família mais poderosa (e mais interessada em dinheiro) dos EUA dentro da sua empresa.

E funcionou.

Pouco depois, Brian Quintenz conselheiro  da Kalshi foi indicado por Trump para comandar a CFTC, que é a agência federal responsável por fiscalizar a Kalshi (anteriormente ele já havia sido comissário dessa agência).

Conflito de interesses virou estratégia de negócios (chamaram o conselheiro para fiscalizar a empresa).

E ainda tem mais

Há acusações de usuários de que a empresa teria usado uma subsidiária para apostar contra seus próprios clientes, com mais informação, mais tecnologia e mais poder.

O cliente acreditava que estava apostando contra outra pessoa. Mas, do outro lado da mesa, podia estar a própria Kalshi com seus algoritmos.

O mito da jovem bilionária

Voltando para a “brilhante e meteórica” carreira da jovem que se tornou bilionária tendo nascido na classe média.

Em entrevista recente na Globonews, Luana defendeu a meritocracia e sonho americano.  Mas vamos aprofundar um pouco.

Ela foi para os EUA financiada pela Fundação Estudar, do bilionário Jorge Paulo Lemann (o mesmo da fraude das Americanas).  A empresa cresceu graças ao bilionário filho do Trump

Portanto, meritocracia financiada por bilionários.

E com uma empresa que dribla a legislação para fazer algo pior do que as BETs legalizadas.

Uma empresa que não contribui com nada positivo para a sociedade, mas que lucra com o vício.

Enquanto isso, a mídia celebra o feito da jovem heroína, genial e talentosa.

Na vida há valores muito maiores do que os financeiros, mas muita gente ainda não entendeu isso.

Me responda, qual o maior mérito dela? Driblar a lei dos EUA? Atrair bilionários e poderosos? Ou lucrar em cima do vício?

joão paulo pacifico

ps1. abrimos ontem a captação de equity para uma empresa de verdade, que causa impacto positivo (em poucas horas já atingimos o valor mínimo), caso tenha interesse (e não tenha esgotado a oferta), entre em https://gaiaimpacto.com.br/ (leia a documentação completa antes de tomar qq decisão).

Ps2. sou contra BETs, mesmo as reguladas. Elas só fazem mal para a nossa sociedade e deturpam os esportes.

João Paulo Pacifico – CEO Investimentos de Impacto do Grupo Gaia | @joao_pacifico

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