Epstein: financista, predador sexual, chantagista, agente do Mossad, por Ruben Rosenthal

do Chacoalhando

Epstein: financista, predador sexual, chantagista, agente do Mossad israelense

por Ruben Rosenthal

Mesmo que não tivesse uma carteirinha de agente do Mossad, Epstein atuou de forma intensa na promoção dos interesses da segurança e inteligência de Israel.

Em 10 de agosto de 2019, o financista norte-americano Jeffrey Epstein foi encontrado morto em sua cela em Manhattan, onde aguardava julgamento, por ter estabelecido uma rede de tráfico sexual de mulheres, muitas delas menores de idade. Sua morte no centro de detenção gerou uma série de especulações sobre uma possível queima de arquivo, uma vez que Epstein poderia fazer revelações que comprometeriam políticos, celebridades e milionários de diversos países.

Dentre as especulações que foram levantadas, Epstein teria vídeos de seus clientes pedófilos, que usaria para chantagem em benefício próprio ou a favor do serviço secreto israelense. Prevalece, no entanto, a versão oficial de que sua morte na cela intensamente vigiada se tratou de suicídio.

Epstein, financista. Epstein oferecia consultoria financeira a bilionários em investimento, planejamento tributário e de patrimônio, se especializando também em transferir dinheiro através de fronteiras. Quando morreu, seu patrimônio era estimado em US$ 578 milhões, incluindo duas ilhas particulares no Caribe. Segundo a revista Forbes, Epstein se apoiou sobretudo em dois clientes bilionários e em um artifício fiscal para construir sua fortuna.

O diretor executivo da Victoria’s Secret, Les Wexner, e o magnata Leon Black, fundador da empresa de private equity, Apollo Global Management, foram os principais clientes de Epstein, fornecendo mais de 75% da receita no período de 1999 a 2018. Ainda segundo o artigo na Forbes, Epstein conseguiu acumular sua riqueza praticamente isento de impostos, graças a incentivos fiscais nas Ilhas Virgens.

Epstein, predador sexual. Entre 2002 e 2005, Epstein contratou meninas menores de idade para que realizassem atos sexuais com ele e com seus convidados. As jovens também eram contratadas para recrutar outras garotas com a mesma finalidade. Os encontros ocorreram nas propriedades que Epstein possuía em Nova Iorque, Flórida e Novo México, bem como em sua ilha no Caribe, Little St. James, que ficou conhecida com “ilha dos pedófilos”.

Epstein foi investigado pela primeira vez em 2005, após a polícia de Palm Beach, Flórida, receber denúncias de abusos sexuais contra menores. Em 2008, ele se declarou culpado do crime de exploração de menores e fechou um acordo para cumprir 13 meses de prisão e pagar indenizações às vítimas. Mas, em fevereiro de 2019, um juiz distrital da Flórida alegou que o acordo havia sido ilegal. Em julho do mesmo ano, ele foi preso e criminalmente acusado por operar uma rede de exploração sexual de menores. Poucas semanas depois, Epstein foi encontrado morto em sua cela.

O escândalo sexual atingiu o príncipe Andrew, duque de Iorque, irmão de rei Charles III, a partir de denúncia feita por Virginia Giuffre, uma das vítimas da rede de tráfico sexual estabelecida por Epstein. Andrew Mountbatten Windsor foi destituído de seus títulos e honrarias em novembro deste ano, embora ainda permaneça em oitavo lugar na linha de sucessão ao trono britânico.

O ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, com Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell, em 1993.

Também pesam suspeitas sobre políticos estadunidenses como Bill Clinton, Donald Trump e Bill Richardson, governador do Novo México. Diversas personalidades de Hollywood pertenceram ao círculo próximo a Epstein, sem que, no entanto, existam acusações de terem pertencido à seleta lista de clientes pedófilos. Este foi o caso de Woody Allen, o mágico David Copperfield, Kevin Spacey, Chris Tucker e Michael Jackson.

Um dos associados mais próximos a Epstein foi o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak, mas não existe comprovação de que Barak tenha usufruído da rede de contatos sexuais estabelecida por seu amigo e consultor financeiro.

Epstein, chantagista. Virginia Giuffre cometeu suicídio em março deste ano, poucos meses antes da publicação de seu livro de memórias. Ela relatou que o próprio Epstein lhe revelara que possuía gravações de vídeos dos encontros sexuais, coletadas nas dependências dos imóveis do proxeneta. Segundo Virginia, Epstein falara explicitamente sobre o poder que poderia exercer sobre os que ficassem comprometidos nas imagens coletadas.

De fato, investigadores confiscaram um cofre na residência de Epstein em Manhattan, contendo fitas de áudio, CDs, e discos rígidos. Esse material faz parte do que ficou conhecido como os arquivos Epstein (Epstein Files), que provavelmente jamais serão de conhecimento público em sua totalidade.

 Outra acusadora de Epstein, Sarah Ransome, também declarou que Epstein conduzia uma rede de chantagem, e disse possuir fitas que incriminariam personalidades como Donald Trump e Bill Clinton. Sarah negou posteriormente possuir tais vídeos, talvez pressionada a se retratar. No entanto, e.mails de Epstein recentemente vazados podem incriminar Trump como beneficiário da rede de tráfico sexual.

O secretário de comércio do governo Trump, Howard Lutnick, acredita que Epstein tenha recorrido à chantagem para obter uma sentença leve em sua primeira condenação, em 2008. Ele ficou detido por apenas 13 meses na prisão de Palm Beach, com direito a trabalhar fora, por 12 horas, 6 dias na semana.

Epstein, agente do Mossad. Mesmo que não tivesse uma carteirinha de agente do Mossad, Epstein atuou de forma intensa na promoção dos interesses da segurança e inteligência de Israel. Talvez por esse motivo, exista a suspeita de que o Mossad tivesse acesso à lista dos clientes pedófilos de Epstein.

A suspeita de envolvimento com o Mossad foi reforçada devido à participação da socialite Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Epstein, no aliciamento de meninas para a rede de pedofilia. Ghislaine é filha do falecido magnata da mídia, Robert Maxwell, sobre o qual recaem fortes suspeitas de haver trabalhado para a inteligência israelense.

Após sua morte misteriosa em 1991, Maxwell foi enterrado em Jerusalém, com honras de Estado e na presença de autoridades e oficiais da inteligência de Israel. Ghislaine cumpre atualmente uma pena de 20 anos de prisão, por sua atuação no tráfico sexual de jovens.

O suposto envolvimento de Epstein com o serviço secreto de Israel vai muito além de sua também suposta participação em episódios de chantagem de cunho sexual, como revelado recentemente em uma série de artigos do veículo de notícias Drop Site News. Como exemplo, o financista procurou impulsionar a indústria de armas cibernéticas de Israel, principalmente através do banco Rothschild.

A conexão de Epstein com o banco suíço foi revelada por fontes anônimas em julho de 2019, poucos dias antes da morte do financista em sua cela. O banco reconheceu que a Baronesa Ariane de Rothschild, CEO do grupo, esteve com Epstein diversas vezes no período de 2013 a 2019, supostamente para tratar de consultoria financeira.

Recentemente, a caixa de e.mails de Ehud Barak do período 2007-2016 foi hackeada pelo grupo Handala, possivelmente pró-Irã, confirmando que Epstein de fato atuara como intermediário para conseguir fundos junto a Baronesa de Rothschild, para o desenvolvimento de startups de armas cibernéticas em Israel. Em 2015, Epstein utilizou fundos do grupo suíço para apoiar Barak em investir na empresa israelense de segurança, Reporty Homeland Security, atualmente Carbyne.

Ainda segundo o material obtido pelo grupo Handala, o financista também atuou no período 2013-2016 para conseguir uma reunião entre Putin e Barak, para tentar obter o aval russo em uma solução negociada para a guerra civil na Síria, que levasse ao afastamento do presidente Bashar al-Assad. Epstein também contribuiu para viabilizar um acordo de segurança entre Israel e Mongólia.

Epstein atuou para trazer descrédito aos renomados cientistas políticos estadunidenses John Mearsheimer e Stephen Walt, que tinham escrito um artigo em 2006 (publicado em livro no ano seguinte), abordando a influência do lobby pró-Israel na política externa dos Estados Unidos, contrariamente aos interesses desse país.

A campanha visava destruir a carreira dos dois acadêmicos, com acusações de antissemitismo, tendo sido conduzida por Epstein e seu advogado Alan Dershowitz, professor em Harvard. Os ataques tiveram o efeito de inibir novas críticas ao lobby pró-Israel no meio acadêmico.

A ligação de Epstein com a CIA e com a inteligência israelense ficou reforçada com as revelações de que um alto oficial da inteligência israelense, próximo ao então diretor da CIA, Leon Panetta, ficou hospedado em um imóvel pertencente a Epstein, em diversas ocasiões no período de 2013 a 2016.

Esse agente, Yoni Koren, participou em sua carreira de operações secretas promovidas pelo Mossad. Ele atuou como assessor sênior do então primeiro-ministro Ehud Barak, e também quando Barak esteve a frente do IDF, as Forças de Defesa de Israel. Mesmo após o afastamento de Barak do governo, Koren continuou a atuar como intermediário entre as inteligências israelense e estadunidense.

 A tragédia de Virginia Giuffre. “Achei que morreria como escrava sexual!”. Este receio foi expresso por Virginia Giuffre em seu livro Nobody’s Girl (A Garota de Ninguém), lançado este ano, poucos meses após seu suicídio, aos 41 anos de idade. Nele, Virginia recorda os abusos que sofreu nas mãos de Epstein e seu círculo de amigos pedófilos.

Ela relata que foi submetida por Epstein, a dolorosas sessões de sexo sadomasoquista. Em relação à clientela do círculo do financista, ela escreve ainda: “Fui usada e humilhada habitualmente e, em alguns casos, fui estrangulada, apanhei e fiquei ensangüentada”.

Em 2001, Ghislaine Maxwell, atuando como cafetina, disse que a levaria para “conhecer um belo príncipe, assim como a Cinderela”. Na ocasião Virginia tinha 16 anos, e recebeu 17 mil dólares para atender ao filho da rainha Elisabeth II.  Ela contou ter mantido relações sexuais com o príncipe Andrew em três ocasiões distintas, uma delas em uma orgia, na presença de Epstein e de mais oito jovens. Virginia chegou a fazer um acordo extra-oficial com Andrew, em uma tentativa da monarquia britânica de conter o escândalo.

Como era de se esperar, a credibilidade de Virginia foi questionada em veículos de mídia. Ao final, ela não conseguiu superar o trauma pelas agressões sofridas, físicas e morais.

Ruben Rosenthal é professor aposentado da UENF, responsável pelo blogue Chacoalhando e pelo programa de entrevistas Agenda Mundo, veiculado no canal da TV GGN.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: https://www.catarse.me/JORNALGGN

Artigo Anterior

Eduardo Bolsonaro ataca Hugo Motta após ser notificado por faltas na Câmara

Próximo Artigo

Sobrinho de Suplicy foi sequestrado por suspeito de jogar esposa do 10° andar; entenda

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!