
Por Jéssica Lima
Da Página do MST
Um grande ato político em defesa da Reforma Agrária Popular, da democratização do acesso à terra e da Soberania Alimentar marcou a abertura da 16ª Feira Estadual Cícero Guedes, no centro do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (08/12). O primeiro dia do evento reuniu no Largo da Carioca Movimentos Populares, sindicatos, partidos políticos, parlamentares de esquerda e representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizador da Feira. O ato foi precedido por uma emocionante mística, com músicas, cantos e performances artísticas em defesa da paz no campo e da Reforma Agrária Popular.
Em seguida, Eró Silva, dirigente nacional do movimento, falou sobre a importância da Feira e ressaltou as recentes conquistas do MST. “Estamos ocupando o Largo da Carioca por três dias seguidos para pautar a necessidade urgente de implementar a Reforma Agrária Popular como projeto de país e soberania alimentar. A Reforma Agrária Popular é a grande resposta diante da crise climática que vivenciamos hoje. Também é um ano de celebração para nós, com a conquista de dois novos territórios, onde conseguimos assentar mais de 250 famílias nos espaços Irmã Dorothy e Cícero Guedes, além do lançamento do bloco do MST, que está vindo pra agitar o Carnaval”, comemorou Eró.

Com o lema “Reforma Agrária Popular: Semear a Terra, Alimentar os Povos e Defender a Vida”, a edição de 2025 da Feira também marca a comemoração dos 30 anos do MST no Rio de Janeiro. Ainda de acordo com a direção nacional do movimento, nas últimas décadas, o MST ocupou diversos latifúndios e fez dessas terras improdutivas locais com função social. No total, o Estado do Rio possui 20 assentamentos da Reforma Agrária, que reúnem cerca de 2.000 famílias.
A presidente da União Nacional das Cooperativas da Reforma Agrária do Brasil (Unicrab) e dirigente nacional do setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente, Débora Nunes, afirmou que a Feira é um importante espaço de diálogo e articulação com a sociedade. “Queremos aproximar o campo da cidade, dialogar com a população e prestar contas do nosso trabalho social. O MST mantém diversas parcerias institucionais com movimentos e com a sociedade civil e isso é fundamental para avançarmos”, destacou Débora.
Também estiveram presentes no ato a deputada estadual Marina do MST, a vereadora Maíra do MST, o vereador Felipe Pires, a deputada federal e pré-candidata ao Senado, Benedita da Silva, o deputado federal Reimont e o secretário de Direitos Humanos e Igualdade Racial do Rio, Edson Santos.
A vereadora Maíra do MST ressaltou a importância de construir uma agenda política voltada para a soberania alimentar. “A Feira cumpre esse papel pedagógico na construção de uma cultura alimentar que entende que a reforma agrária popular é parte fundamental das ações de combate à fome”, afirmou.

A deputada federal Benedita da Silva destacou o papel do MST diante das crises e das dificuldades que o Brasil enfrenta. “Com o MST nós encontramos a organização do combate à fome, é o MST que está presente nos momentos das tragédias climáticas, sempre ajudando, ao lado das nossas famílias, crianças, mulheres e jovens”, enfatizou Benedita.
No Largo da Carioca, onde foi montada uma grande tenda em frente à estação do metrô, circulam diariamente cerca de mil pessoas. Quem passar pelo local até o fim da tarde de quarta-feira (10/12) encontrará diversidade de alimentos in natura sem agrotóxicos, como frutas, legumes e verduras, além de produtos artesanais, agroindustrializados e fitoterápicos comercializados por 120 expositores da agricultura familiar, vindos de assentamentos e cooperativas das regiões dos Lagos, Norte/Noroeste, Sul e Baixada Fluminense e também de outros estados, como Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

A programação também inclui apresentações culturais, debates e seminários sobre temas da atualidade e oficinas focadas na defesa do meio ambiente. De acordo com a coordenação da Escola Estadual de Formação e Capacitação à Reforma Agrária (Esesf), até 2030 a instituição tem como meta plantar 100 milhões de árvores em assentamentos, escolas do campo, cooperativas e áreas urbanas. A iniciativa integra o Plano Nacional Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis, lançado em 2020, que também prevê políticas públicas alternativas ao modelo exploratório e destrutivo do agronegócio, como fomento das produções agroecológicas e criação de sistemas agroflorestais, com a recuperação de áreas degradadas aliada à produção de alimentos.
A programação da Feira inclui ainda um momento batizado de Jornada da Natureza, que faz parte das ações do Plano, na qual serão distribuídas 2.000 mudas de plantas à população carioca.
Feira homenageia militante histórico
O evento leva o nome do militante Cícero Guedes, assassinado em 2013. Dedicado à luta pela terra no estado do Rio, ele foi um dos idealizadores da feira em Campos dos Goytacazes, onde era assentado e produzia usando técnicas agrícolas que o tornaram referência na região devido ao seu conhecimento agroecológico. Cícero foi, ainda, um importante colaborador em projetos de pesquisa e extensão da Universidade Estadual do Norte Fluminense. A Feira ganhou amplitude estadual alguns anos depois de sua criação. Após a morte do militante, recebeu o nome de Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, como forma de homenagear sua vida e luta pela Reforma Agrária.