São inúmeros os crimes cometidos pelo ex-presidente e líder do neofascismo no Brasil, João Pedro Bolsonaro. Além do roubo descarado e das barafundas nas negociações das joias subtraídas do acervo público da Presidência, cujo valor foi estimado em R$ 6,8 milhões, estourou agora o sinistro caso da Abin paralela.

Sobre as joias, a Polícia Federal produziu um documento de 600 páginas onde, entre outras coisas, afirma que os valores “obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.

O dinheiro obtido ilegalmente com o roubo e a venda das joias no exterior serviu, entre outras coisas, para custear a caríssima fuga e estadia do ex-presidente nos Estados Unidos, depois que perdeu a eleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) ordenou a devolução dos objetos afanados do acervo público, os bolsonaristas tentaram readquirir as mercadorias contrabandeadas e deixaram muitos rastros da operação desesperada pelo caminho.

Gravação clandestina

A chamada Abin paralela foi comandada pelo policial e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que gravou uma reunião com o próprio chefe sem o conhecimento e o consentimento deste, razão pela qual deve perder o apoio do Clã na eleição para a Prefeitura do Rio e corre o risco de ser descartado pelo PL.

A Abin foi instrumentalizada pelo ex-presidente para monitorar pessoas ligadas a investigações envolvendo seus filhos. É o caso dos auditores da Receita que fizeram o relatório que deu origem à investigação do esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro.

No relatório, os investigadores destacam que Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues, que estavam a serviço da Abin em ações clandestinas, tentaram “achar podres” de auditores da Receita Federal responsáveis pela elaboração de relatórios de inteligência financeira sobre o senador, o filho 01 do ex-presidente.

A Polícia Federal também apurou que houve criação de provas a favor de outro filho, Jair Renan Bolsonaro, o 04, que em 2021 era investigado por tráfico de influência. Para isso, o “gabinete paralelo”, de acordo com as investigações, monitorou Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan, e Luís Felipe Belmonte, empresário envolvido no caso.

Nexo com a empreitada golpista

A Polícia Federal está convencida de que existe um “nexo causal” entre a Abin paralela e os “delitos que culminaram na tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito”, ou seja, o fatídico 8 de janeiro. No mesmo sentido, a Procuradoria Geral da República (PGR) considera que a atuação da agência não se restringiu aos episódios relacionados à Abin, “mas que poderia ecoar em outros procedimentos investigatórios”.

Percebe-se uma íntima relação com os inquéritos das fake news, dos atos antidemocráticos e das milícias digitais. A organização criminosa utilizou sistema de inteligência da Abin para espionar autoridades que poderiam, em tese, se opor aos interesses do Núcleo Político do esquema, além de monitorar pessoas à frente de investigações contra familiares de Bolsonaro.

A investigação revelou ainda ações de difamação contra os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Segundo a Polícia Federal (PF), Marcelo Bormevet, que atuava na Presidência da República, e Giancarlo Rodrigues, na Abin, produziram dossiês falsos e disseminaram fake news para atacar a credibilidade das autoridades.

O material falso contra Moraes, encontrado em um dispositivo de armazenamento, tentava associar o ministro ao delegado Osvaldo Nico Gonçalves. O objetivo era difundir desinformação e atacar a credibilidade do STF.

As movimentações faziam parte de um esforço maior para desacreditar o Poder Judiciário e o sistema eleitoral brasileiro, segundo a PF.

Conforme as investigações da PF, a Abin também teria sido utilizada, de forma clandestina, contra o senador Alessandro Vieira, que participava da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid do Senado.

Alessandro Vieira apresentou um requerimento para que Carlos Bolsonaro, o filho 02 de Jair Bolsonaro, prestasse esclarecimentos à CPI e também para que fossem quebrados os sigilos bancário, fiscal, telefônico e de mensagens do vereador do Rio de Janeiro.

Nesse contexto, os investigados Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues teriam atuado para produzir “desinformação” sobre Alessandro Vieira.

Os policiais destacam que a difusão de desinformação ocorria com “marcação” de integrante do núcleo político do esquema ilegal, no caso, Carlos Bolsonaro.

A famosa minuta

De acordo com a PF, além de possíveis irregularidades no âmbito da instrumentalização da Abin, alguns dos supostos envolvidos no esquema tinham conhecimento de outras ilegalidades — por exemplo, a “minuta do golpe” que circulou no governo João Pedro Bolsonaro.

Durante a apuração, a PF interceptou mensagens trocadas entre Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues que incluem – nas palavras dos investigadores – “referências relacionadas ao rompimento democrático” e “no mínimo, potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”.

Os diálogos interceptados pela PF indicam que policiais federais da “Abin paralela” conheciam a existência do decreto.

A lista de pessoas espionadas pela organização criminosa criada pelo Clã Bolsonaro inclui ministros, parlamentares, auditores fiscais e jornalistas. No Poder Judiciário: ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux; na Câmara Federal: o atual presidente, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Kim Kataguiri (União-SP) e os ex-deputados Rodrigo Maia, que foi presidente da Câmara, Joice Hasselmann e Jean Wyllys (PSOL). No Senado: Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que integravam a CPI da Covid no Senado.

Outros alvos da investigação foram João Doria, ex-governador de São Paulo; os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges; os auditores da Receita Federal do Brasil Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto. Na mídia, as jornalistas Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.

Prisões

Na quinta-feira (11), os policiais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

A PF vê, de forma preliminar, possíveis crimes de: organização criminosa; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.

A reunião em que Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, gravou o ex-presidente João Pedro Bolsonaro clandestinamente ocorreu no dia 25 de agosto de 2020, no terceiro andar do Palácio do Planalto. Eles estavam no gabinete presidencial por volta das 18h e a conversa durou pouco mais de uma hora. A informação é da coluna de Guilherme Amado no Metrópoles.

Além da dupla, participaram do encontro Augusto Heleno, ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, então advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O próprio parlamentar não participou por estar com Covid-19.

Eles discutiram sobre uma teoria de que Flávio estaria sendo bisbilhotado ilegalmente por servidores da Receita Federal, o que teria gerado o relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) contra ele.

Neofascismo

Segundo relatório da Polícia Federal na apuração sobre estrutura de espionagem ilegal, Ramagem defendeu instaurar procedimento administrativo contra os auditores da Receita para “anular a investigação” contra Flávio, “bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.

O aparelhamento da agência é típico de governos ditatoriais e não restam dúvidas de que o objetivo da Abin paralela era abrir caminho para a instalação de um regime abertamente fascista, o que só não ocorreu devido à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e o malogro da empreitada golpista em 8 de janeiro.

A profusão de provas e indícios das bandalheiras promovidas por João Pedro Bolsonaro, que instrumentalizou não só a Abin como também a PF e a PRF, deixaram o ex-presidente em maus lençóis.

Convém lembrar que o ex-diretor geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, tentou impedir os nordestinos de votar numa tentativa malograda de evitar a derrota do chefe neofascista e, por esta razão, está recolhido no Presídio da Papuda desde agosto de 2023.

Tudo indica que, para o bem da democracia e do Brasil, o ladrão de joias está rumando para o mesmo destino do seu desastrado subordinado. O rumoroso escândalo das joias e o sinistro caso da Abin paralela deixaram João Pedro Bolsonaro a um passo da prisão.

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Última Atualização: 12/07/2024