Flávio condiciona candidatura à libertação do pai

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) surgiu como um movimento calculado e condicionado. O senador deixou claro que permanecerá na disputa presidencial de 2026 se isso servir como instrumento para pressionar pela anistia ou pelo indulto ao pai, Jair Bolsonaro (PL), preso e condenado por tentativa de golpe de Estado. Em seu primeiro ato público como pré-candidato, neste domingo (7) em Brasília, ele admitiu que pode desistir da corrida, mas estabeleceu o que chamou de um “preço” para recuar.

O gesto expõe que sua entrada no tabuleiro eleitoral tem menos relação com ambições próprias e mais com a operação política para libertar o ex-presidente e recolocá-lo no jogo.

A moeda de troca: a liberdade do pai

A declaração foi dada a jornalistas após um culto evangélico na capital federal. Horas antes, Flávio havia sido oficialmente lançado como nome do bolsonarismo para 2026. Em público, porém, revelou que sua candidatura é negociável.

Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso. Eu vou negociar. Eu tenho um preço para não ir até o fim”, afirmou o senador.

Questionado sobre qual seria esse preço, foi direto: vincula qualquer desistência à situação de Jair Bolsonaro, preso desde novembro de 2025 e condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, além de inelegível desde 2023.

Ao portal R7, Flávio foi ainda mais explícito: “A única forma disso [desistência] acontecer é se Bolsonaro estiver livre, nas urnas, caminhando com seus netos, filhos de Eduardo Bolsonaro, pelas ruas de todo o Brasil. Esse é meu preço”.

Sobre a possibilidade de anistia aos condenados por atos golpistas, reagiu com ironia: “Tá quente, tá quente”, alimentando a interpretação de que sua pré-candidatura é peça central na ofensiva jurídica do clã.

Pressão sobre o Centrão

Nos bastidores, partidos do Centrão avaliam a movimentação como um “balão de ensaio” articulado pelo próprio Bolsonaro para forçar o debate sobre anistia. Flávio inicia nesta segunda-feira (8) uma rodada de conversas com lideranças como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP), Antonio Rueda (União Brasil), Marcos Pereira (Republicanos) e Rogério Marinho (PL-RN) para medir o ambiente político.

A resistência é grande. Dirigentes veem a candidatura de Flávio, marcado por investigações e desgaste acumulado, como um obstáculo à unificação da direita, que prefere nomes considerados mais competitivos para 2026.

Um passado que pesa

Caso siga na disputa, Flávio ainda terá de lidar com investigações que marcaram sua trajetória e devem ser exploradas na campanha:

  • “Rachadinha” na Alerj: investigado por suposto esquema de apropriação de salários de assessores quando era deputado estadual; o caso envolve Fabrício Queiroz e movimentações atípicas detectadas pelo Coaf.
  • Vínculo com Adriano da Nóbrega: mãe e esposa do ex-capitão ligado ao Escritório do Crime trabalharam em seu gabinete; a relação pode voltar ao centro do debate.
  • Investigações imobiliárias: aquisição de mansão de R$ 6 milhões em Brasília e sociedade em loja da Kopenhagen já foram alvo de apurações.

Seguir como pré-candidato pode fortalecer sua capacidade de pressão — mas também expõe o clã e ele próprio, reacendendo casos que o bolsonarismo tentou enterrar.

Mercado e pesquisas reagem

O efeito imediato do anúncio foi negativo. Após a divulgação da pré-candidatura na sexta (5), o Ibovespa caiu e o dólar subiu. Flávio classificou a reação dos investidores como “natural”, mas “precipitada”.

No eleitorado, o cenário também é adverso. Pesquisa Datafolha divulgada neste final de semana mostra que apenas 8% dos brasileiros acham que ele deveria ser o escolhido por Jair Bolsonaro para disputar a Presidência. Michelle Bolsonaro (22%) e Tarcísio de Freitas (20%) aparecem como preferidos do público bolsonarista.

Diante do isolamento político, Flávio tenta se apresentar como um “Bolsonaro diferente”, “um Bolsonaro muito mais centrado, um Bolsonaro que conhece a política, que conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país”.

Por ora, porém, sua pré-campanha funciona sobretudo como uma plataforma para defender o pai.

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