
Especialistas afirmam que a próxima pandemia é uma questão de tempo e que o mundo ainda não está adequadamente preparado para enfrentá-la. As informações são do Estadão.
Desde o fim da pandemia de COVID-19, discutem-se as possibilidades de um novo surto global, com previsão de que ele possa ocorrer em poucos anos, não em cinco décadas, como muitos imaginam.
Ralcyon Teixeira, diretor médico do Hospital Emílio Ribas, e Tânia Fonseca, coordenadora de Vigilância em Saúde da Fiocruz, destacam a inevitabilidade de novas pandemias devido a fatores demográficos, sociais e ambientais, como a urbanização crescente, mudanças climáticas e o avanço sobre áreas naturais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também reforçou a necessidade de preparação contínua, alertando que novas variantes da COVID-19 e outros patógenos com potencial ainda maior de letalidade podem surgir. Entre os fatores que aceleram a propagação de vírus, os especialistas apontam o aumento da densidade populacional, a pobreza, a falta de higiene básica e as mudanças climáticas, que afetam o comportamento de patógenos como os vírus transmitidos por mosquitos.
O Brasil, especialmente a Região Norte, é altamente vulnerável devido às condições climáticas e ao impacto humano no meio ambiente, o que aumenta a circulação de micro-organismos.
A pandemia de COVID-19 e epidemias como a de dengue em 2024 demonstram como as doenças podem se expandir rapidamente, refletindo a fragilidade do sistema de saúde. Segundo os especialistas, além de monitorar vírus respiratórios como coronavírus e influenza, é necessário um foco crescente em arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos como a dengue e a zika, que estão se expandindo para áreas temperadas.
Para enfrentar futuras pandemias, a preparação inclui a detecção precoce, com vigilância tripartite entre as esferas municipal, estadual e federal.

O Brasil já adotou medidas como análise preditiva, vigilância sentinela e sequenciamento genômico, mas ainda existem lacunas, como a falta de coordenação entre os diferentes níveis de governo. O fortalecimento das vigilâncias laboratoriais é uma lição da pandemia de COVID-19, mas o sistema de saúde precisa ser mantido em prontidão constante, o que não ocorreu após o fim da emergência sanitária.
Além da estrutura física e tecnológica, a desigualdade social no Brasil é um desafio crítico, pois impacta diretamente o acesso a medidas de prevenção e cuidados médicos.
Tânia Fonseca, da Fiocruz, enfatiza a relação entre desigualdade social e proliferação de doenças, apontando que a pobreza e a falta de acesso a serviços básicos são fatores que devem ser superados para desacelerar o avanço de surtos.
O aprendizado da COVID-19 revela a necessidade de se preparar não apenas para prevenir novas doenças, mas também para adotar protocolos claros de ação em caso de surtos, como ocorre em outros países. Ralcyon Teixeira alerta para a falta de planos de contingência conhecidos pela sociedade, o que dificulta a mobilização rápida em uma emergência global.