Facção evangélica ganha força e já atua em dez estados brasileiros, aponta Abin

Uma reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência no Congresso, no início de novembro, apresentou uma análise de conjuntura nacional da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) demonstrou que a facção evangélica Terceiro Comando Puro (TCP) se consolidou como o terceiro grupo emergente no contexto nacional, atrás apenas do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Na entrada do Complexo de Israel, que integra cinco comunidades dominadas pelo TCP, havia uma grande estrela de Davi, destruída pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em março, mas não o suficiente para conter a expansão do grupo.

De acordo com a Abin, além da capital fluminense, o TCP já se expandiu para Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

O Ceará é uma das frentes mais recentes da facção. Há cerca de três meses, a estrela de Davi começou a aparecer em cidades como Maracanaú, ao lado de pichações com frases como “Jesus é dono do lugar”. Em outubro, relatos indicaram o fechamento de ao menos quatro terreiros de umbanda por determinação de criminosos.

O delegado-geral da Polícia Civil cearense, Márcio Gutiérrez, confirmou que os episódios seguem sob investigação. Ele afirmou que a presença do TCP foi identificada oficialmente em setembro, quando 37 integrantes foram presos na região metropolitana de Fortaleza.

A entrada do grupo no Estado ocorreu por meio de aliança com a facção local Guardiões do Estado (GDE), que ficou conhecida por confrontos violentos contra o CV. Após perder lideranças para a repressão policial, o GDE passou a incorporar práticas e orientação do TCP, consolidando a parceria.

Conflito com o CV 

Criado em 2002 como dissidência do CV, o TCP mantém guerra aberta contra a facção rival no Rio, com uso de fuzis, explosivos e drones. A expansão dos dois grupos preocupa especialistas, que veem risco de aumento nos homicídios — especialmente no Ceará, onde municípios como Maranguape e Maracanaú já figuram entre os mais violentos do país.

Nos últimos meses, a escalada de confrontos levou ao fechamento temporário de escolas e ao esvaziamento de um vilarejo em Morada Nova, transformado em “cidade fantasma”. A violência tem colocado o tema da segurança pública no centro do debate político local às vésperas das eleições de 2026.

Estudos apontam que a posição estratégica do Ceará, a expansão do consumo de drogas e a existência de mão de obra criminosa favorecem a instalação de facções. A ONG Visão Mundial relata que adolescentes vivem sob medo constante, evitando falar sobre conflitos entre grupos rivais. Episódios de intolerância religiosa também aumentaram, especialmente em Maracanaú e Pacatuba.

Narcopentecostalismo

Embora o TCP seja frequentemente associado ao discurso evangélico, pesquisadores destacam que a presença da religião no ambiente do tráfico não é nova. Nas décadas de 1980 e 1990, era comum a identificação com religiões de matriz africana, um cenário que mudou com o avanço das igrejas neopentecostais no país.

No TCP, símbolos, discursos e rituais cristãos tornaram-se parte da identidade da facção e são usados para legitimar disputas territoriais, especialmente contra o CV, historicamente associado a tradições afro-brasileiras.

Para especialistas, a facção não segue uma teologia estruturada, mas emprega a retórica religiosa para fortalecer laços internos e justificar ações violentas como “combate espiritual”. O crescimento do protestantismo também influencia o cenário prisional: no último censo do sistema carcerário cearense, 43,2% dos detentos se declararam evangélicos.

*Com informações da BBC.

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