Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, realizada nesta quinta-feira (4), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou um robusto balanço sobre a trajetória econômica do governo Lula. Diferentemente do canto da Faria Lima, o tom foi de otimismo fundamentado em dados oficiais. A gestão atual caminha para encerrar o ciclo em 2026 com marcas históricas em parâmetros caros ao próprio mercado financeiro, como crescimento, oferta de crédito e controle de preços.
Ao defender a condução da política econômica, Haddad recorreu a uma metáfora para ilustrar a rejeição a medidas de choque. Segundo o ministro, o Brasil não precisa de “uma serra elétrica” para sanar seus desequilíbrios, mas sim usar com habilidade “uma chave de fenda”. O resultado dessa estratégia já está nas projeções do Banco Central e do mercado, que estimam um crescimento médio do PIB de 2,8% ao ano.
Dinâmica de preços e mandatos
O terceiro mandato de Lula entregará a menor inflação acumulada desde a implementação do Plano Real, situando-se entre 18% e 20%. Muito inferior à inflação dos mandatos de FHC (1995-1998), de 39,9%, e de 28,2% no segundo (1999-2002), impactado por crises cambiais. Mesmo os governos anteriores do PT, embora estáveis, operaram em patamares superiores, com Lula 1 marcando 22,2% e Lula 2, 27,0%. O cenário atual também se destaca frente à inflação deixada por Paulo Guedes, de 26,94%, durante o período Bolsonaro (2019-2022).
Essa desaceleração consistente dos preços é resultado de uma abordagem desenvolvimentista que equilibra o estímulo à demanda com o fortalecimento da oferta. O atual governo colhe os frutos de investimentos maciços na agricultura, como o Plano Safra, que ajudaram a manter a inflação de alimentos em cerca da metade da registrada no governo passado. Essa política, ao reduzir a dependência de importações e fortalecer a produção interna, permitiu que o IPCA médio anual projetado (4,5-5,0%) fosse inferior à média de todos os antecessores, consolidando um cenário em que o controle inflacionário coexiste com a recuperação do poder de compra, mesmo com o atual patamar da taxa de juros.
A dinâmica do trabalho e renda
O aquecimento da atividade econômica afetou diretamente o bem-estar social. A taxa de desemprego atual, situada em 5,4%, aponta para uma média histórica de 6,6% ao fim do governo, o menor patamar já registrado. Paralelamente, houve uma queda substancial na informalidade e na subutilização da força de trabalho. Esse cenário, aliado à política de valorização do salário mínimo, elevou o rendimento médio real para o recorde de R$ 3.507.
Os reflexos são visíveis na redução das desigualdades. O Brasil saiu novamente do Mapa da Fome, a pobreza extrema recuou para 4,4% e o índice de Gini — que mede a desigualdade — mantém trajetória de queda. Houve ainda um avanço significativo entre a juventude: a taxa de jovens que não estudam nem trabalham caiu para 21,2%, o menor nível da série histórica.
Crédito e cenário macroeconômico
O fluxo financeiro acompanha o ritmo da economia real, com concessões de crédito que atingiram o volume total mensal de R$ 648 bilhões, impulsionadas por iniciativas como o Desenrola e o novo marco de garantias. O segmento automotivo, por exemplo, registra recordes de financiamento.
A estabilidade inflacionária, segundo analistas, cria o ambiente propício para a revisão da taxa Selic, atualmente estacionada em 15% ao ano. A expectativa é que cortes nos juros básicos possam destravar ainda mais os investimentos em infraestrutura e indústria, consolidando a estratégia desenvolvimentista e garantindo que o ciclo de crescimento inclusivo se mantenha nos próximos anos.