
Os primeiros meses do pontificado de Leão XIV têm sido marcados por uma série de documentos e posicionamentos que reacenderam debates históricos dentro da Igreja Católica. As recentes orientações do Vaticano tratam de temas sensíveis, como o papel de Maria, relações poliamorosas, sexualidade no casamento e participação das mulheres no diaconato, e vêm mobilizando tanto setores conservadores quanto alas mais progressistas do catolicismo.
No início de novembro, o Vaticano publicou uma nota reafirmando que “Jesus é o único Salvador” e orientando que o título de “corredentora” não seja aplicado a Maria. O documento, aprovado por Leão XIV, buscou encerrar uma discussão teológica que se arrastava há décadas.
“Não seria apropriado usar o título ‘corredentora’”, afirmou o texto, alertando que o termo “(pode) criar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã”. A decisão foi interpretada como um movimento para conter interpretações que ampliavam excessivamente o papel mariológico dentro da doutrina.
Outro ponto de repercussão veio com o decreto que criticou práticas como a poligamia e o poliamor. Sem mencionar uniões homoafetivas, o Vaticano reforçou que “um cônjuge é suficiente” e reiterou o modelo tradicional defendido pela Igreja.
Segundo o documento, “todo casamento autêntico é uma unidade composta por dois indivíduos, que exige um relacionamento tão íntimo e totalizante que não pode ser compartilhado com outros”. A publicação foi lida como um gesto de reafirmação da monogamia em meio a mudanças culturais que ampliaram a visibilidade de arranjos afetivos diversos.
Na esfera da sexualidade, uma nota doutrinal trouxe uma novidade ao reconhecer que há uma “finalidade unitiva da sexualidade”.

O texto afirma que os atos sexuais “não se limitam a assegurar a procriação, mas contribuem para enriquecer e fortalecer a união única e exclusiva e o sentimento de pertencimento mútuo”. Embora mantenha a defesa da monogamia, o documento foi visto como um avanço ao ampliar a compreensão da dimensão afetiva do sexo dentro do matrimônio.
A semana também foi marcada pela decisão de uma comissão interna do Vaticano que votou contra a ordenação de mulheres como diáconas. A negativa, porém, não encerra o debate.
Em nota, a Igreja afirmou que “não descarta a admissão de mulheres ao diaconato”, apesar de considerar que, no momento, “não é possível ‘formular um juízo definitivo, como no caso da ordenação sacerdotal’”. A posição indica que o tema permanece em análise, mesmo sem perspectivas de avanço imediato.
Desde que assumiu o papado, Leão XIV tem sinalizado que não pretende promover mudanças estruturais em questões de gênero. Suas primeiras decisões confirmam uma tendência de ajustes pontuais, mantendo a doutrina tradicional enquanto busca responder às pressões de um mundo em transformação.