A oposição ao governo de Trindade e Tobago acusa a primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar de entregar o país aos Estados Unidos. Vídeos e imagens que circulam nas redes sociais mostraram fuzileiros navais norte-americanos em um hotel em Tobago, juntamente com imagens de uma instalação de radar de uso militar.
A princípio, com o objetivo de amenizar a crise que se instalou no país, a primeira-ministra afirmou que uma aeronave de transporte C-17 dos EUA havia pousado no país e que estava transportando pessoal para auxiliar em um projeto rodoviário, insistindo que não havia fuzileiros navais em solo.
De acordo com a emissora libanesa Al Mayadeen, pressionada por repórteres na sexta-feira (28), Persad-Bissessar reconheceu a presença das tropas, bem como a instalação do que se acredita ser um sistema de radar de longo alcance AN/TPS-80 G/ATOR, fabricado pela empresa de defesa americana Northrop Grumman.
A emissora aponta ainda que a afirmação da primeira-ministra é de que o equipamento foi implantado estritamente para operações de combate ao narcotráfico, argumentando que o governo havia retido informações para evitar alertar grupos criminosos.
A oposição saiu a campo para acusar o governo de enganar sua população. O ex-ministro da Segurança Nacional, Marvin Gonzales, afirmou que o governo de Persad-Bissessar “vendeu a alma da nação por um prato de lentilhas”, alertando que a medida traiu os princípios históricos da região. “Os ancestrais caribenhos devem estar se revirando em seus túmulos pelo que aconteceu com o nosso belo Caribe”, disse ele.
O líder político do Movimento pela Justiça Social de Trindade, David Abdulah, acusou o primeiro-ministro de ser “cúmplice das execuções extrajudiciais no Mar do Caribe”. “Com a instalação de um radar militar dos EUA em Tobago, o país está agora diretamente envolvido nos planos de guerra dos EUA. Nossa reputação internacional foi manchada, já que o governo se alinha, sem qualquer remorso, à agenda de Washington” — afirmou Abdulah.
Essa situação acontece em meio ao aumento da tensão entre os EUA e a Venezuela. Donald Trump continua sua ofensiva contra o povo venezuelano com o falso objetivo de combater o narcotráfico. No último sábado (8), o presidente norte-americano chegou a dizer em sua rede social Truth Social que o espaço aéreo venezuelano estava temporariamente fechado.
Por outro lado, o governo da Venezuela condenou veementemente, no domingo (9), os exercícios militares em curso realizados por Trindade e Tobago em coordenação com o Comando Sul dos EUA e a Agência Central de Inteligência (CIA), classificando-os como uma perigosa provocação destinada a agravar as tensões no Caribe e ameaçar a soberania nacional da Venezuela.
O governo venezuelano aponta que estes exercícios militares se tratam claramente de um plano mais amplo que envolve uma operação de bandeira falsa contra o país. De acordo com a declaração do governo, “um ataque de falsa bandeira está em curso nas águas que fazem fronteira com Trinidad e Tobago ou a partir do território trinitário ou venezuelano, com o objetivo de gerar um confronto militar em grande escala com o nosso país”.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela criticou o governo de Trinidad e Tobago. Afirmou que essa medida equivale a uma “clara concessão da soberania nacional” e acusou o país de agir como uma “colônia militar a serviço dos interesses dos EUA”.