Golpe. Cuecões de couro chorando e pit bulls virando Lassies
por Armando Coelho Neto
Conversa de botequim. Já estou ficando com pena do Coiso, disse o jovem lulista, sensibilizado com o impacto da condenação a mais de 27 anos de prisão do ex-capitão. A resposta rápida do amigo chocou. Prefiro algo primitivo, tipo “chibata malaia” (açoite público), de preferência na Praça da Sé (São Paulo), Cinelândia (Rio de Janeiro) ou Esplanada dos Ministérios em Brasília. Ira popular não tem partido!
O diálogo traz a marca dos ressentimentos e poderia partir de qualquer parente de uma das quase 700 mil vítimas da pandemia da Covid-19. Poderia advir também de qualquer um que não gostaria de ser pesado em arroba e/ou que nunca esqueceu a expressão: “E daí? Eu não sou coveiro”, ou qualquer outra igualmente insensível, ofensiva e sádica, protagonizada pelo ex-presidente da República, hoje condenado.
O fato é que a empáfia, a arrogância e o destemor dos durões golpistas tornaram-se ridículos e farsantes, quando do cair das máscaras. Os hipermasculinos duvidosos de suas próprias virilidades deram o tom da opereta bufa dos golpistas. O piripaque do filho Zero Um do ex-capitão, durante um debate pela prefeitura do Rio de Janeiro, nas eleições passadas, exibiu esse lado xendengue e mofino.
Também não dá para esquecer que um simples “toc-toc” da Polícia Federal nas portas golpistas provocou o desmaio de um tenente-coronel. Um outro militar, ajudante de ordem do ex-presidente, chorou no transcorrer de sua colaboração premiada. Em ambos os casos, mais que Freud, o falecido sambista Bezerra da Silva descrevia bem esse perfil de bicho feroz apenas quando com a arma na mão.
Os golpistas com arma e cartão corporativo na mão tentavam esconder fragilidades humanas, das quais costumavam tripudiar. Não só de mais fracos, mas sobretudo dos que preliminarmente rotulavam como tais, aqui incluídas as mulheres e pessoas de orientação sexual diversa da ortodoxia sexual binária. No fundo, movidos por insegurança, fragilidades psíquicas, psicopatias (não tão) raras.
Os machos alfas da tentativa de golpe estão colocando o STF em maus lençóis, o qual se vê obrigado a ceder às pressões humanitárias. É visível o choque entre a verdade formal e verdade real, no todo ou em parte. É cristalino o superdimensionamento de feridas reais que ocultam chagas morais. À revelia de médicos, atestados escondem a falsa fé e vigor de militares e civis agoiabados.
Numa das aulas-espetáculo do saudoso Ariano Suassuna, com perfil anedótico, um brasileiro prega uma mentira contra um suíço e o caso foi parar na Justiça. Diz Ariano, se fosse entre dois brasileiros, tudo acabaria bem, com uma simples frase: “Eu sei que ele está mentindo e ele sabe que eu sei que ele está mentindo, mas tudo bem”. Entretanto, o jogo teatral no STF comporta visão mais crítica e apurada.
O STF sabe que os advogados do ex-presidente estão formalmente mentindo. Os médicos que atestam sabem que seus laudos, no mínimo, darão suporte à meia verdade. O STF sabe que mentem, eles sabem que o STF sabe, mas precisa se comportar conforme a regra moral da democracia, gerir o drama da conjugação da verdade formal X verdade real. Pesos e contrapesos de uma democracia ameaçada.
A anulação do processo e/ou anistia acabaria com soluços, refluxos, diarreias físicas e mentais do ex-capitão e seus asseclas. Teriam o mesmo papel de uma garrafada da Feira de Mangaio, uma bênção do “Malacraia”, quiçá algodão na testa de um bebê para curar soluço. Revigorado, o sacripanta voltaria a pregar golpe, espalhar ódio, corroer famílias e o patrimônio público junto com Tarcísio de Freitas, claro!
Sorte dos primatas serem julgados pelas regras da civilização das quais tripudiam. Seus destinos estão sendo definidos pela régua humanista, e não pelas regras do “bandido bom é bandido morto”. Do contrário, “soldados, quase todos pretos” dariam “porrada na nuca de malandros pretos… outros quase brancos tratados como pretos” (Caetano Veloso). Todos pobres, claro! Afinal, cadáveres e sangue dão votos.
Nesse GGN ficou o pretérito registro do episódio do bispo neurótico e fascista que chutou a imagem de uma santa. A imagem tinha valor nenhum. Do mesmo modo que os primatas “bolsofascistas” não reconhecem os valores ínsitos na Constituição vigente. Ao mesmo tempo em que a atacam, buscam proteção nos valores eleitos como bem maior, inclusive para defender o cidadão contra a tirania do Estado.
Chibata Malaia? Exagero. Peninha? Nenhuma. Mas, ver os cuecões de couro chorando, e pit bulls virando Lassies não tem preço! Baixa o pano!
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
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