Haddad projeta crescimento de quase 3% e diz que será melhor índice desde FHC

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (4) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve encerrar o atual mandato com um crescimento médio de 2,8% ao ano. Segundo ele, esse resultado representaria o melhor desempenho econômico desde o governo Fernando Henrique Cardoso e só ficaria atrás dos dois primeiros mandatos de Lula. As declarações foram feitas durante entrevista repercutida pelo Estadão Conteúdo.

Haddad citou projeções do Banco Central e estimativas de instituições do mercado financeiro como base para o cálculo. O ministro tem defendido que a análise dos indicadores econômicos precisa considerar a trajetória de médio prazo e não apenas resultados pontuais, especialmente em um cenário em que o governo busca consolidar políticas de estímulo à produtividade, ao investimento e ao emprego.

Projeções indicam consolidação do crescimento

A estimativa de crescimento médio de 2,8% reflete dados já observados em 2023 e 2024 e projeções para 2025 e 2026. Para o ministro, o comportamento da atividade econômica até agora demonstra resiliência em meio a desafios domésticos e externos.

Nos últimos meses, indicadores divulgados pelo IBGE e pelo Banco Central mostram aceleração do mercado de trabalho, queda no desemprego, aumento da massa salarial e desempenho positivo de setores como serviços, indústria de transformação e agropecuária. O governo avalia que a soma desses fatores sustenta uma tendência de expansão consistente.

Apesar disso, Haddad reconhece que a economia ainda enfrenta incertezas, incluindo pressões fiscais, volatilidade nos indicadores globais e a necessidade de aprovar reformas estruturais no Congresso.

Críticas como ferramenta de aperfeiçoamento

Durante a entrevista, o ministro também defendeu a importância de acompanhar análises externas e críticas dirigidas à gestão econômica. Segundo ele, observar diagnósticos divergentes é essencial para corrigir rumos e aprimorar o trabalho da equipe.

“Acho importante ler crítica porque a gente vai tentando melhorar o trabalho da gente”, afirmou. O ministro disse que governos com índices elevados de aprovação não podem deixar de considerar avaliações técnicas e alertas provenientes de pesquisadores, agentes de mercado e órgãos de controle.

Haddad destacou que a receptividade a críticas contribui para aumentar a credibilidade da política econômica e permite calibrar programas, especialmente aqueles que dependem de articulação entre o Executivo, o Legislativo e o setor privado.

Otimismo como estratégia de articulação com os Poderes

O ministro da Fazenda ponderou que, além de ajustes técnicos, é necessário manter uma postura considerada construtiva para avançar na agenda econômica. Para ele, transmitir confiança para investidores, parlamentares, magistrados e consumidores é parte central do processo político e institucional.

“Para a gente ter força de avançar e convencer Congresso, Judiciário, empresários e consumidores, é preciso vender otimismo”, disse. Haddad argumentou que a percepção de estabilidade é decisiva para destravar pautas legislativas, atrair investimentos e sustentar o consumo interno.

A fala se insere em um momento em que o governo tenta recompor a relação com o Congresso após votações adversas, inclusive em temas fiscais e ambientais. Nos últimos meses, pautas como o licenciamento ambiental, mudanças previdenciárias e a reforma tributária avançaram de forma lenta ou com alterações significativas em relação ao texto original do Executivo.

Indicadores econômicos recentes reforçam discurso do Ministério da Fazenda

As declarações de Haddad ocorrem em meio à divulgação de novos indicadores econômicos que reforçam o cenário de crescimento apontado pelo governo.

O mercado de trabalho tem apresentado resultados positivos. Dados da PNAD Contínua mostram que a taxa de desemprego caiu para 5,4% no trimestre encerrado em outubro de 2025, o menor nível da série histórica iniciada em 2012. O número de trabalhadores com carteira assinada chegou a 39,182 milhões, recorde da série.

Além disso, o Caged registrou a criação de 1,8 milhão de vagas formais entre janeiro e outubro. Todas as unidades da Federação apresentaram saldo positivo, e o total de vínculos ativos alcançou quase 49 milhões.

No setor financeiro, o Ibovespa voltou a bater recorde histórico e acumulou alta de mais de 30% em 2025. O dólar registra queda superior a 13% no acumulado do ano, influenciado pelo fluxo internacional e pela percepção de estabilidade doméstica.

O governo avalia que esses dados reforçam o ambiente de confiança defendido por Haddad e ajudam a sustentar a expectativa de crescimento médio em torno de 2,8%.

Desafios fiscais continuam no horizonte

Apesar do otimismo, a área econômica admite que há obstáculos significativos para a manutenção do ritmo de crescimento. Entre eles estão a necessidade de recompor receitas, revisar subsídios tributários e avançar na regulamentação das novas fases da reforma tributária.

O Ministério da Fazenda também trabalha para controlar o déficit público após judicializações, mudanças legislativas e quedas de arrecadação em setores específicos. O governo tenta equilibrar o discurso de responsabilidade fiscal com medidas de estímulo ao investimento e programas sociais.

Haddad tem afirmado que o desafio fiscal precisa ser enfrentado sem repetir modelos anteriores que, segundo ele, concentraram ajustes nas camadas mais pobres da população.

Expectativa é consolidar ambiente estável até 2026

Com dois anos restantes de mandato, a equipe econômica considera que a previsibilidade é um dos fatores mais importantes para manter o desempenho da atividade. O governo aposta que a combinação entre um mercado de trabalho aquecido, inflação controlada e expansão de investimentos pode sustentar o crescimento projetado até o fim de 2026.

Haddad reiterou que a estratégia do Ministério da Fazenda é trabalhar em conjunto com outras pastas e com o Congresso para garantir que as políticas estruturais sejam implementadas dentro do prazo. Ele também reforçou que avaliações externas continuarão sendo utilizadas como parâmetro para decisões internas.


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