Deputados do PT apontam enriquecimento suspeito e facilidades do governo Bolsonaro em esquema de descontos de aposentadorias do INSS
Parlamentares do PT elevaram o tom, nesta quinta-feira (4), ao denunciar o rápido enriquecimento e a atuação de Américo Monte Júnior — apontado como um dos líderes do esquema de descontos irregulares em aposentadorias do INSS. Em uma sessão marcada por fortes declarações, os petistas afirmaram que o empresário só conseguiu se tornar multimilionário graças a brechas abertas pelo governo Bolsonaro e detalharam como associações controladas pelo grupo dos “Golden Boys” teriam movimentado centenas de milhões de reais em prejuízo de aposentados.
O deputado Rogério Correia (PT-MG), autor do requerimento que convocou Américo Monte Júnior, presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), afirmou que as informações sobre o rápido enriquecimento do dirigente — apontado como integrante do grupo conhecido como “Golden Boys” — são “espantosas”.
“São quatro entidades que recolheram dos aposentados R$ 30, R$ 40 e R$ 50, de milhões de aposentados, que resultou em quase R$ 1 bilhão para as quatro entidades, Amar Brasil, Master Prev, ANDAPP e AASAP. Essas entidades, que não prestavam serviço nenhum, recolhiam esse dinheiro junto ao INSS e lavavam em outras empresas do próprio grupo”, declarou.
Correia também destacou que, em apenas um dia, após receber R$ 18 milhões do INSS em descontos associativos, a Amar Brasil pulverizou R$ 13 milhões em depósitos a empresas do núcleo dos “Golden Boys”. Para ele, é fundamental avançar nas apurações sobre as fintechs utilizadas para movimentar os valores.
“As fintechs são instrumentos de lavagem de dinheiro. […] Como não são registradas diretamente no Banco Central, não existe fiscalização. Agora a Polícia Federal começou a investigar. Foi assim na Operação Carbono Oculto, que descobriu fintechs que operavam os fundos do PCC, afirmou Correia.”
Entidades fantasmas

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou que o enriquecimento de Américo Monte Júnior só foi possível graças a medidas tomadas pelo governo Bolsonaro. “Esse senhor Américo Monte Júnior só se tornou multimilionário, um dos ‘Golden Boys’, por conta do decreto 10.537, de 28 de outubro de 2020, assinado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni. Se não fosse esse decreto, que permitiu que as entidades fantasmas pudessem ser criadas para roubar os aposentados, esse esquema não existiria”, enfatizou.
Pimenta explicou que o decreto abriu brechas para transformar associações sem qualquer representatividade em máquinas de arrecadação por meio de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS. Ele lembrou que foi esse instrumento que permitiu a metamorfose da entidade Andap, antes dedicada ao setor automotivo, em associação voltada a aposentados; e da Kronos Clube de Benefícios em AASAP, ambas envolvidas no esquema.
O deputado ainda citou publicações nas redes sociais feitas pelos envolvidos: “Talvez por isso vocês tenham feito uma com a foto do ex-presidente Bolsonaro com as palavras: ‘Este é o presidente que escolhi para governar a nossa nação’. […] O sócio dele agradeceu depositando R$ 60 mil na conta do Onyx Lorenzoni, curiosamente um dos que assinaram o decreto que permitiu que eles roubassem os aposentados e pensionistas”.
Gangue dentro do INSS

O deputado Alencar Santana (PT-SP) reforçou que todas as entidades ligadas a Américo Monte Júnior surgiram ou prosperaram graças às facilidades criadas durante o governo Bolsonaro. “A Amar Brasil foi criada em 2020, e como disse o relator da CPMI, foi criada para roubar aposentado, e recebeu o ACT do então ministro José Carlos Oliveira, em 2022. A MasterPrev foi criada em 2021, a AASAP também. O senhor Américo e os outros ‘Golden Boys’ começaram a atuar com gangue dentro do INSS no governo Bolsonaro”.
Ele ressaltou que as investigações e o bloqueio do esquema só ocorreram no governo Lula. “Qual o governo está investigando o esquema? Qual Polícia Federal está apurando? Em qual gestão a Controladoria-Geral da União apurou a irregularidade e repassou as informações para a Polícia Federal? Tudo isso ocorreu no governo Lula, que mandou cessar os descontos, mandou devolver o dinheiro, vai recuperar o patrimônio e colocar essa turma na cadeia, frisou”.
Quem é Américo Júnior e seu papel no esquema dos consignados
Apontado pela CPMI e pela Polícia Federal como um dos articuladores do esquema de descontos irregulares em benefícios previdenciários, Américo Monte Júnior integra o grupo dos “Golden Boys” — formado por Anderson Cordeiro, Felipe Macedo Gomes, Igor Delecrode e o próprio Américo — que controlava quatro associações responsáveis por movimentar cerca de R$ 700 milhões: Amar Brasil, Master Prev, ANDAPP e AASAP.
Embora formalmente comandadas por aposentados de baixa renda, as entidades eram operadas por empresários do setor de seguros e clubes de benefícios. A Amar Brasil, por exemplo, saltou de R$ 2,4 milhões de faturamento em janeiro de 2023 para mais de R$ 10 milhões mensais, acumulando R$ 104 milhões no ano — ao mesmo tempo em que enfrentava mais de 4 mil ações judiciais de aposentados contestando cobranças.
Investigações apontam que empresas ligadas à família de Américo — como a Meu Bem Protegido, registrada em nome de sua enteada — aparecem em apurações por suposta falsificação de assinaturas de idosos em contratos.
A PF identificou também o crescimento explosivo do patrimônio de Américo: de R$ 11 mil em 2023 para R$ 7,78 milhões em 2024, impulsionado por mais de R$ 8,4 milhões em lucros e dividendos de uma empresa criada em 2022, a AMJ Serviços Administrativos, que teria recebido R$ 25,7 milhões da Amar Brasil.
Os investigadores afirmam que o conjunto de movimentações financeiras, a evolução patrimonial incompatível e os fluxos internos entre empresas do grupo reforçam a suspeita de um esquema de ocultação e lavagem de dinheiro proveniente dos descontos irregulares aplicados a aposentados do INSS.
Héber Carvalho