O governo do México anunciou nesta quarta-feira (3) um aumento de 13% para o salário mínimo a partir de janeiro de 2026, elevando o valor de 278,80 pesos por dia (R$ 80,90) para 315 pesos por dia (R$ 91,45), o equivalente a 9.582 pesos mensais (R$ 2.785).
O acordo foi concluído na Comissão Nacional de Salários Mínimos (Conasami) com participação do governo, do setor patronal e das centrais sindicais. Trata-se do maior nível real da remuneração mínima desde 1980, segundo dados da Secretaria do Trabalho.
Na Zona Livre da Fronteira Norte, o reajuste será de 5%, com o piso passando de 419,88 pesos diários (R$122,00) para 440 pesos diários (R$128,00). A medida cumpre a meta estabelecida pelo governo de garantir o equivalente a duas cestas básicas na região.
O ministério do Trabalho informou que, também na fronteira norte, o valor ultrapassa o recorde histórico registrado em 1976.
A presidenta Claudia Sheinbaum afirmou que o acordo entre governo, trabalhadores e empresariado “é uma notícia muito boa para todos os mexicanos” e rechaçou qualquer impacto inflacionário da medida.
Segundo ela, a elevação nominal não afeta os preços internos e ocorre num contexto de inflação dentro da meta do banco central, de 3% com margem de um ponto percentual. Sheinbaum também rebateu críticas de que os reajustes poderiam afastar investimentos.
“Ao contrário do que se dizia, há mais investimento estrangeiro”, declarou.
O secretário do Trabalho, Marath Bolaños, classificou o novo piso como a maior recuperação do poder de compra em mais de quatro décadas.
Em termos reais, o novo salário mínimo supera o processo de corrosão da renda acumulado ao longo do período neoliberal, ciclo que se estendeu de 1982 a 2018 e abrangeu os governos de Miguel de la Madrid, Carlos Salinas de Gortari, Ernesto Zedillo, Vicente Fox, Felipe Calderón e Enrique Peña Nieto, marcado por privatizações, abertura comercial acelerada e estagnação dos rendimentos.
Bolaños explicou que o mínimo geral acumula uma recuperação de 154,2% desde 2018. A pasta estima que 8,5 milhões de trabalhadores sejam diretamente beneficiados.
A equipe econômica informou que o novo valor amplia a capacidade de compra de alimentos essenciais.
Com o piso reajustado, um trabalhador poderá adquirir 7,1 quilos de feijão, 6,5 quilos de ovos e 14,8 quilos de tortillas, segundo as contas da Cidade do México. O governo sustenta que essa política, combinada ao pacote anti-inflação e ao acordo para limitar o preço da gasolina, contribuiu para retirar 13,5 milhões de pessoas da pobreza desde o início do ciclo político da transformação, em 2018.
As autoridades lembram que, desde 2018, os trabalhadores de menor renda tiveram aumentos acumulados de 204% na fronteira norte e de 115% no restante do país. Esses números são frequentemente citados pelo governo como evidência de uma mudança no modelo trabalhista e distributivo.
O anúncio contou com a presença de lideranças empresariais e sindicais, como o Congresso do Trabalho, a Coparmex, a Conasami e a Confederação das Câmaras Industriais.
Francisco Cervantes, presidente do Conselho Coordenador Empresarial, enfatizou que a negociação ocorreu de maneira institucional.
Para ele, o diálogo se deu “dentro dos canais do estado de direito e do respeito aos pilares da economia mexicana”, entre os quais citou o emprego formal, os direitos dos trabalhadores e a segurança jurídica para empresas e investimentos.
O governo interpreta esse posicionamento como sinal de acomodação entre capital e trabalho num período de desaceleração econômica.
O México registrou queda de 0,3% no PIB do terceiro trimestre, influenciada pelo ambiente global adverso e pelas ameaças tarifárias do governo Donald Trump nos Estados Unidos.
A equipe econômica de Sheinbaum sustenta que a política de reajustes fortalece a demanda interna e compensa o efeito de choques externos, sobretudo num país que ainda lidera o ranking da OCDE em horas trabalhadas por pessoa ao ano.
No mesmo anúncio, Sheinbaum confirmou o envio ao Congresso de um projeto de redução gradual da jornada de trabalho, que passará de 48 para 40 horas semanais até 2030.
A proposta prevê diminuições de duas horas por ano a partir de 2027 e depende de aprovação em 2026, quando o Legislativo terá maioria governista. A decisão foi apresentada como continuidade das reformas trabalhistas recentes, que ampliaram férias de seis para 12 dias e estenderam direitos a trabalhadores de plataformas digitais.
Segundo o governo, a mudança pretende aproximar o México de padrões internacionais. Sheinbaum mencionou experiências nórdicas que reduziram a jornada para até 36 horas, associando a prática a ganhos de produtividade.
Bolaños reforçou que a transição mexicana será gradual para evitar custos abruptos às empresas e permitir adaptações no setor de serviços. A estimativa oficial é de que 13,4 milhões de trabalhadores sejam beneficiados pela redução.