SUS reage à epidemia das ‘bets’ com teleatendimento

Em uma resposta contundente ao crescimento vertiginoso do vício em jogos eletrônicos no país, o Governo Federal anunciou, nesta quarta-feira dia (3) um pacote inédito de medidas que une saúde mental e tecnologia. A iniciativa conjunta dos Ministérios da Saúde e da Fazenda surge em um cenário alarmante, onde os atendimentos no SUS por transtornos relacionados a jogos saltaram de 2.262 em 2023 para quase 3.500 em 2024, com prejuízos socioeconômicos estimados em R$ 38,8 bilhões anuais. Para conter essa sangria social, o governo aposta em duas frentes principais: um serviço de teleatendimento especializado e uma plataforma nacional de autoexclusão.

A ferramenta de bloqueio, que estará disponível já a partir de 10 de dezembro, permite que qualquer cidadão com conta gov.br (nível prata ou ouro) impeça o uso do próprio CPF em todas as casas de apostas regulamentadas no Brasil, seja por um mês ou por tempo indeterminado. Para a doutoranda em Psicologia pela UFRGS e especialista no tema, Indianara Sehaparini, essa medida funciona como uma barreira externa vital que complementa o tratamento psicológico. Segundo ela, ao bloquear o CPF, o usuário reduz drasticamente a exposição aos estímulos que reforçam o vício, como a publicidade agressiva e a facilidade de acesso às plataformas, criando um freio necessário para o comportamento compulsivo.

Além da restrição tecnológica, o SUS passará a oferecer, a partir de fevereiro de 2026, um serviço de teleatendimento em saúde mental. A operação, realizada em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, prevê 450 atendimentos mensais integrados à rede pública. Sehaparini avalia que a digitalização do cuidado é estratégica para vencer o estigma. A especialista destaca que o serviço online cria um ambiente protetivo para jogadores que, muitas vezes, estão em situação de isolamento social e sentem vergonha de buscar ajuda presencial. Além disso, o uso da tecnologia via celular democratiza o acesso, permitindo que o tratamento chegue a áreas distantes onde a presença de especialistas é escassa.

No entanto, a implementação desse sistema impõe desafios estruturais significativos. A criação do Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas busca integrar dados para identificar padrões de risco, mas a especialista alerta que “o sucesso do programa depende de uma capacitação capilarizada”. Para Sehaparini, é crucial treinar profissionais nas UBSs e CAPS para que a informação chegue à ponta, além de garantir infraestrutura tecnológica robusta para evitar falhas no atendimento remoto.

O cenário desenhado pelos novos dados exige essa mobilização rápida. Embora estudos internacionais indiquem uma prevalência maior de homens viciados em apostas esportivas, a especialista nota uma mudança de perfil com o crescimento da participação feminina, especialmente em cassinos online. Diante disso, o consenso é que as medidas restritivas e de tratamento devem vir acompanhadas de um amplo diálogo educacional com escolas e famílias, visto que a exposição a esses jogos traz riscos de adição que independem de gênero ou classe social.

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