Os negócios da J&F, de Joesley Batista, na Venezuela

Joesley Batista durante coletiva na sede da J&F. Foto: Reprodução

A presença de Joesley Batista em Caracas no fim de novembro colocou de volta em evidência as ligações comerciais entre o grupo J&F e o governo de Nicolás Maduro. A ida ocorreu no dia 23, quando o empresário buscou convencer o líder venezuelano a aceitar um pedido de Donald Trump para deixar o cargo e abrir caminho para uma transição política. Ou seja, aceitar um golpe. A movimentação foi revelada pela Bloomberg.

Cerca de dez anos atrás, a JBS fechou um acordo de US$ 2,1 bilhões com o governo venezuelano para envio de carne bovina e frango em volume suficiente para cobrir quase metade da demanda por carne e uma parte relevante do consumo de frango do país. A operação ocorreu num período de hiperinflação, falta de produtos básicos e crise logística. A negociação teve a participação de Diosdado Cabello, hoje ministro do Interior.

O vínculo não ficou restrito ao setor de alimentos. A Âmbar Energia, outra empresa da J&F, avançou em tratativas para importar energia da Venezuela e abastecer Roraima, único Estado fora do Sistema Interligado Nacional. A informação foi publicada pela revista Piauí.

Âmbar Energia, empresa do grupo J&F, dos Batistas. Foto: Divulgação

Como já noticiado pelo Estadão, representantes da Âmbar estiveram 17 vezes no Ministério de Minas e Energia fora da agenda pública, em encontros que antecederam a edição de uma medida provisória que favoreceu um negócio da empresa e repassou custos aos consumidores.

O ministério divulgou só cinco reuniões oficiais com a Âmbar e a J&F, entre junho de 2023 e fevereiro deste ano, sobre exportação de energia para a Argentina e importação da Venezuela. A operação não saiu do papel por falta de infraestrutura, mas a Âmbar permanece habilitada para tentar o fornecimento.

Em março, o ministro Alexandre Silveira voltou a defender maior integração elétrica na região e citou Guiana e Venezuela como prioridades.

No passado, a J&F também avaliou entrar no setor de petróleo venezuelano, analisando ativos que haviam pertencido à ConocoPhillips e foram estatizados por Hugo Chávez em 2007, segundo a Bloomberg.

Paralelamente, Joesley ampliou sua atuação nos Estados Unidos. A JBS controla a Pilgrim’s Pride, importante empresa avícola no Colorado e responsável por uma doação de US$ 5 milhões ao comitê de posse de Donald Trump — a maior contribuição individual do evento.

Neste ano, Joesley esteve com Trump para defender a redução de tarifas sobre carne bovina e ajudar a aliviar atritos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A JBS emprega mais de 70 mil pessoas no país.

Em outubro, Lula cumprimentou Joesley e Wesley Batista na Malásia logo após seu encontro com Trump. O registro foi feito pelo Estadão. Segundo Joesley, Lula trata bem todos os empresários. O executivo atuou diretamente na mediação que permitiu reaproximação entre os dois presidentes.

A história da família Batista, que transformou o açougue fundado pelo pai nos anos 1950 na maior produtora de proteína animal do planeta, inclui forte expansão apoiada por financiamentos do BNDES e participação ativa no cenário político. Em 2014, a JBS foi a maior financiadora de campanhas eleitorais no Brasil.

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