Em números absolutos, a aprovação supera o total de votos que elegeu o presidente em 2022.
O Brasil tem hoje cerca de 158,6 milhões de eleitores aptos a votar. Segundo a pesquisa Datafolha de setembro de 2025, realizada nos dias 8 e 9, 48% deles aprovam o governo Lula. Isso corresponde a aproximadamente 76 milhões de brasileiros que consideram positiva a atual gestão — um contingente maior do que os 60,3 milhões de votos recebidos pelo presidente no segundo turno de 2022. Essa diferença se explica por alguns fatores: o eleitorado cresceu desde 2022, somando cerca de dois milhões de novos votantes; o Datafolha mede o conjunto de eleitores, incluindo os que se abstêm, votam em branco ou nulo; e há sinais de que parte do eleitorado que antes apoiava Bolsonaro pode hoje avaliar positivamente o atual governo. Para se ter dimensão, esse número de apoiadores de Lula equivale ao eleitorado somado de países como França, Suécia, Dinamarca e Noruega.
Na disputa de narrativas, em que manifestações de rua são tomadas como medida de apoio popular, fala-se em dezenas ou centenas de milhares de pessoas. A maior manifestação já registrada pelo bolsonarismo na Avenida Paulista, em 7 de setembro de 2021, reuniu entre 125 mil e 140 mil pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar e do Grupo de Estudos de Política em Segurança da USP. Essas mobilizações são importantes expressões democráticas e não devem jamais ser diminuídas. Mas é preciso considerar também a escala do eleitorado brasileiro: mesmo atos massivos, contra ou a favor de um governo, têm impacto limitado diante do peso de dezenas de milhões de cidadãos que expressam sua posição nas urnas e nas pesquisas.
Se ampliarmos a lente histórica, veremos com mais clareza o peso político de Lula. Getúlio Vargas, no auge de sua popularidade, elegeu-se presidente em 1950 com 3,8 milhões de votos. Hoje, Lula tem a aprovação de 76 milhões de brasileiros, após dois anos e oito meses de governo. Esses números devem ser levados em conta por quem pretende avaliar a importância das grandes lideranças políticas da história do país.

O presidente é especialmente bem avaliado entre os eleitores de baixa renda.
Entre as famílias mais pobres, com renda de até dois salários mínimos, o presidente Lula mantém seu maior prestígio. Em setembro de 2025, 57% desse grupo declararam aprovação ao governo, o que corresponde a quase 39 milhões de eleitores. Esse índice mostra uma recuperação expressiva em relação a abril deste ano, quando a aprovação havia caído para 50%, no momento mais difícil do governo. De lá para cá, a queda na inflação de alimentos e energia ajudou a reconstruir a confiança dessa base social, que historicamente é o alicerce do lulismo. Quatro em cada dez eleitores brasileiros fazem parte dessa faixa de renda, o que reforça sua centralidade na política nacional.

O grande desafio estratégico, porém, está na classe média. No grupo de dois a cinco salários mínimos, que reúne 41 milhões de eleitores, 17 milhões aprovam Lula, enquanto 23 milhões desaprovam. É um segmento numeroso, de forte peso cultural e político, que concentra parte decisiva da disputa pelo debate público.
Acima dessa faixa, entre os que recebem de cinco a dez salários mínimos, estão cerca de 11 milhões de eleitores. A divisão segue desfavorável ao governo, com pouco mais de quatro milhões de aprovadores contra seis milhões de desaprovadores.
Na camada mais alta, com renda acima de dez salários mínimos, encontram-se aproximadamente 8 milhões de brasileiros, o que equivale a 5% do eleitorado total. Desses, três milhões apoiam Lula, enquanto cinco milhões rejeitam sua gestão.
Embora numericamente menores, esses grupos de renda mais alta têm relevância simbólica e política. Abrangem elites econômicas e acadêmicas, além de setores que moldam tendências culturais. Não se trata de um eleitorado a ser ignorado: mobilizá-lo pode significar ganhar pontes estratégicas e até reduzir resistências vindas das próprias elites. Esse nicho de “lulistas de alta renda” equivale, em tamanho, ao eleitorado de alguns países europeus — e, mais importante, influencia diretamente o rumo do debate público.

Uma análise mais ampla dos dados históricos revela uma estabilidade notável quando se observa a aprovação do governo a longo prazo. Desde março de 2023, considerando margens de erro, a proporção de aprovação e rejeição entre diferentes grupos sociais tem oscilado pouco. Entre os mais pobres, o apoio se mantém sólido; já nas classes médias, o cenário segue sendo o principal ponto de tensão política.

Aprovação por faixa etária
A pesquisa de setembro também traz dados reveladores quando se olha a idade dos eleitores.
Entre os jovens de 16 a 24 anos, são 21 milhões de brasileiros. Nesse grupo, 9,7 milhões aprovam Lula e 11,3 milhões desaprovam. Trata-se de um eleitorado disputado, mas em que o presidente mantém apoio expressivo. Além disso, é o segmento mais volátil, com maior propensão a mudanças rápidas de opinião.
Na faixa de 25 a 34 anos, que soma 27 milhões de eleitores, o equilíbrio é mais desfavorável: pouco mais de 11 milhões aprovam o governo, enquanto cerca de 15 milhões o desaprovam.
Entre os eleitores de 35 a 44 anos, são 31 milhões no total. Aproximadamente 14 milhões aprovam Lula e 16,5 milhões rejeitam sua gestão.
No grupo de 45 a 59 anos, que reúne 42 milhões de brasileiros, há maior equilíbrio. Cerca de 19 milhões aprovam o governo e 22 milhões o desaprovam.
Já entre os 60 anos ou mais, Lula encontra seu terreno mais sólido. São 37 milhões de eleitores nessa faixa, dos quais 18,5 milhões aprovam o governo e 17,9 milhões o desaprovam. Além de numeroso, esse grupo é o que menos se abstém de votar, o que lhe dá peso estratégico nas eleições.

Comparação com Bolsonaro
O Datafolha também permite uma comparação histórica. Em setembro de 2025, Lula tinha 33% de avaliação “ótimo/bom” e 35% de “ruim/péssimo”. No mesmo mês de 2021, Bolsonaro registrava 22% de “ótimo/bom” e 53% de “ruim/péssimo”.
Ou seja, Lula governa em posição muito mais confortável do que Bolsonaro em período equivalente de mandato. Além disso, tem vantagens estruturais importantes. Lula desfruta de prestígio internacional que Bolsonaro nunca alcançou. Está entregando indicadores econômicos consistentes e, segundo a maioria das projeções, a economia deve se manter sólida tanto no fim de 2025 quanto em 2026.
O chamado “tarifaço” já foi assimilado pela economia e não deve causar grandes impactos. Ele foi parcialmente neutralizado pelas exceções abertas por Donald Trump, que continuam sendo ampliadas. As últimas beneficiaram setores de celulose e ferro-níquel. Ao contrário, as agressões do ex-presidente americano despertaram um sentimento nacionalista que fortalece o governo e o ajuda a reconstruir a frente ampla que lhe garantiu a vitória em 2022. Naquele momento, a unidade se baseava sobretudo na defesa da democracia. Agora, soma-se a ela a defesa da soberania diante de ataques vindos de uma potência estrangeira, liderada por um governo cada vez mais autoritário e acusado de adotar práticas de viés fascista.