No último e mais marcante discurso do ato em defesa da Venezuela ocorrido nesta sábado (13), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta iniciou sua fala afirmando que a promessa do presidente norte-americano Donald Trump de pôr fim às guerras estrangeiras contrasta de forma brutal com a realidade atual na América Latina. Ele falou que o envio de navios de guerra para o Mar do Caribe é a “maior operação militar na América Latina desde a ocupação do Panamá em 1989”. Esse movimento, segundo Pimenta, não é uma exceção, mas a manifestação de um imperialismo acuado por seus próprios fracassos.

O orador citou uma série de revezes globais que fragilizaram a dominação imperialista: a “derrota catastrófica no Afeganistão”, a operação militar russa que “colocou em xeque a ordem estabelecida pela OTAN na Europa” e, de forma particularmente enfática, a “audaciosa e heróica iniciativa do Hamas e da Resistência Palestina”. Esta última, para ele, é a prova de que uma força irregular pode desafiar um dos exércitos mais poderosos do mundo, o que ele descreve como a “maior crise que o imperialismo já enfrentou até hoje”.

Pimenta, então, desfez o que chamou de “ilusão” de que essa crise levará a uma “ordem multipolar” mais pacífica. Ao contrário, ele sustentou que o que se avizinha é uma “manifestação de agressividade sem precedentes contra todos os povos do mundo”, exemplificada pela “selvageria sionista em Gaza”.

A Venezuela, na visão de Pimenta, se tornou o principal alvo na América Latina porque é a vanguarda da luta anti-imperialista na América do Sul. Ele destacou o sucesso do país em desmantelar seu “exército reacionário” e estabelecer um “exército bolivariano” que é genuinamente nacional e independente do imperialismo. Essa autonomia, aliada à riqueza em petróleo e às alianças com países como China, Rússia e Irã, faz da Venezuela um desafio central para a dominação dos Estados Unidos.

Pimenta traça a evolução da política imperialista na América Latina, passando por “golpes que foram relativamente pacíficos” em países como Honduras, Paraguai e Brasil, para, na Venezuela, entrar em uma “etapa abertamente violenta”. Ele argumenta que a estrutura do regime venezuelano torna um golpe de Estado tradicional mais difícil, forçando o imperialismo a uma ofensiva militar mais direta para “disciplinar os países do continente americano”. Para Pimenta, a derrota da Venezuela é uma “questão chave para o imperialismo” no esforço de reafirmar seu poder.

Rui Costa Pimenta conectou a defesa da Venezuela à luta política interna no Brasil. Ele identificou o bolsonarismo como um inimigo interno, cuja propaganda é totalmente contrária à Venezuela e que, com sua base popular significativa, representa uma força a ser enfrentada. Pimenta criticou duramente o que ele chama de “grande ilusão da esquerda nacional” que, em sua visão, superestima o impacto de ações judiciais e subestima a força ideológica da extrema direita.

Para ele, a prisão de figuras como Bolsonaro “não muda absolutamente nada” no cenário político. A verdadeira luta, ele defende, deve ser travada no campo das ideias e da mobilização popular. A arma dos brasileiros, ele diz, é a capacidade de “convencer a população, é mobilizar o povo, é esclarecer o que está acontecendo”. A defesa da Venezuela, portanto, não é apenas um ato de solidariedade internacional, mas uma parte decisiva da luta política nacional.

Em crítica a alguns setores da esquerda brasileira, Pimenta rejeitou a ideia de que a luta anti-imperialista é separada da luta do proletariado contra a burguesia, afirmando que “a burguesia mundial é o imperialismo”. Para Pimenta, a derrota do imperialismo é a própria derrota da burguesia.

Ele faz um apelo à unidade de diferentes setores da esquerda brasileira, convidando “companheiros do PT, do PCdoB, do PSOL” a se juntarem na construção de um “forte movimento contra o imperialismo”, com a defesa “incondicional” da Venezuela como seu eixo central.

Leia o discurso de Rui Costa Pimenta na íntegra

Donald Trump foi eleito prometendo ao seu eleitorado acabar com as guerras estrangeiras do Império Norte-Americano. E o que nós estamos vendo neste momento? A maior operação militar na América Latina desde a ocupação do Panamá em 1989. Este é um fenômeno que temos que compreender bem porque ele tem um significado muito grande para todos os países da América Latina e para as nossas vidas enquanto brasileiros e enquanto militantes de esquerda, enquanto militantes anti-imperialistas.

Como foi dito aqui várias vezes, o imperialismo está sendo acuado pelo desenvolvimento político mundial, pela crise capitalista. Ele tem sofrido vários revezes. Nós tivemos a derrota catastrófica no Afeganistão, tivemos a operação russa que colocou em xeque a ordem estabelecida pela OTAN na Europa e tivemos também a audaciosa e heróica iniciativa do Hamas e da Resistência Palestina, que no próximo dia 7 de outubro, vai completar dois anos.

Uma força irregular, em uma região cercada por todos os lados, colocou em xeque o poderio de um dos mais bem armados exércitos do mundo, que é o exército sionista, apoiado por todo o imperialismo mundial. Isso é uma crise inegável, não há dúvida nenhuma de que estamos diante do que provavelmente seja a maior crise que o imperialismo já enfrentou até hoje.

Agora, contrariamente a muitas pessoas que falam que estamos caminhando para uma ordem mais civilizada, mais estável — a “ordem multipolar”, que seria uma espécie de diluição do poder do imperialismo —, nós estamos nos encaminhando para o oposto. Estamos caminhando para uma manifestação de agressividade sem precedentes contra todos os povos do mundo. O que estamos vendo na Palestina é uma demonstração do nível de selvageria que o imperialismo é capaz de colocar em movimento contra os povos do mundo.

Nós estamos vivendo uma situação em que nós caminhamos para um acirramento da luta, e não para uma pacificação. Nós temos que ter claro isso quando a gente analisa a situação que nós temos agora na América do Sul, com a Venezuela. A Venezuela, como foi dito aqui, foi o ponto mais alto das mobilizações revolucionárias que aconteceram a partir do ano 2000 aproximadamente na América Latina.

O exército reacionário anterior foi desestruturado. O exército bolivariano é um exército nacional, ao contrário de todos os exércitos da América Latina, que são controlados pelo imperialismo. Estabeleceu-se um regime que é, na medida do possível, independente do imperialismo, e o imperialismo vê o problema da Venezuela da seguinte maneira: para enfrentar o desafio mundial — Rússia, China e Irã —, é preciso não só enfrentar o poderio militar de determinados países, mas a própria mobilização popular — porque o que está acossando o imperialismo não é só a ação de determinados Estados que atuam com independência do imperialismo. O medo maior do imperialismo é que esses conflitos deem lugar a uma onda revolucionária, como está acontecendo na Palestina, pois o que nós temos na Palestina não é uma guerra entre Estados, é uma revolução. O imperialismo tem medo dessa situação. Ele se prepara para enfrentar com extrema violência essa situação crítica. Para o imperialismo, é uma situação de vida ou morte.

Nesse sentido, o imperialismo precisa, em primeiro lugar, botar aquilo que ele considera o que é o seu território, em ordem. Disciplinar os países do continente americano. Nós estamos vivendo essa realidade há muito tempo. Nós tivemos golpe em Honduras, tivemos golpe no Paraguai, tivemos golpe no Equador, no Peru, no Brasil, felizmente o golpe foi derrotado na Venezuela. Estamos nesta etapa, em que há um esforço contínuo do imperialismo para disciplinar os países do continente americano.

Com a mobilização militar contra a Venezuela, nós começamos a entrar em um novo período, porque até agora nós tivemos golpes que foram relativamente pacíficos: o golpe contra Dilma, mobilização, imprensa, parlamento, aquela coisa toda. Agora estamos entrando em uma etapa abertamente violenta, que foi anunciada pela selvageria sionista em Gaza. E a Venezuela precisa ser enfrentada.

Os demais países, o imperialismo vai enfrentar com novos golpes de Estado. Os golpes de Estado se multiplicam pelo mundo inteiro. Na Venezuela, o golpe de Estado é mais difícil, devido ao caráter das instituições do regime venezuelano. Para conseguir disciplinar o continente, é preciso derrotar a Venezuela, é uma questão chave para o imperialismo. É um desafio muito grande também pelo seguinte: a Venezuela é um país que aliado da China, da Rússia, do Irã. Se os Estados Unidos conseguiram conviver com Cuba, foi porque Cuba é um país muito pobre, muito pequeno e praticamente nenhuma capacidade de expansão fora da mobilização revolucionária que houve depois da Revolução Cubana, mas a Venezuela não é assim. A Venezuela é um país rico, um país que tem muito petróleo. A maior jazida de petróleo do mundo.

Nós estamos enfrentando aqui uma etapa nova e complexa da crise entre o imperialismo e os povos da América Latina. Essa mobilização é tanto mais significativa quando nós sabemos que o Trump prometeu não fazer isso aí para o seu próprio eleitorado, o que mostra que isso não é uma coisa acidental. Não é uma coisa que não tenha um propósito geral. Não. O secretário de Estado do Trump, o Marco Rubio, apesar de se declarar trumpista, é um falcão do aparato norte-americano, e eles estão levando adiante essa política, independentemente daquilo que o governo quer.

O Trump, logicamente, se coloca na posição de representante do imperialismo, ele não tem outra opção, o que é uma coisa bastante assustadora, porque mostra o poderio e a agressividade do imperialismo neste momento. Esse fenômeno da Venezuela aqui está muito longe de ser um caso isolado, de ser um caso excepcional. Nós temos que ver como parte de um processo que se agudiza neste momento.

As pessoas que têm a ilusão de que nós estamos fortalecendo a democracia, que nós vamos superar a dominação unilateral do imperialismo, estão semeando ilusões. O que nós temos pela frente é uma crise de grandes proporções. Logicamente, isso não depende apenas dos governos, vai depender muito do povo, da mobilização popular. No Brasil, sem dúvida nenhuma, nós vamos enfrentar, nas eleições de 2026, um desafio extraordinário. Se os planos que a burguesia montou forem bem sucedidos, eles vão transformar o Brasil em uma Argentina. Isso vai ser um desastre colossal. Tem que ser enfrentado pela mobilização popular.

Quando nós falamos que o imperialismo vai se tornar mais agressivo, nós não estamos dizendo que isso daqui é uma causa perdida. Muito pelo contrário. A situação se desenvolve através da oposição entre contrários. Por exemplo, vocês viram aqui o discurso do presidente Maduro, e vocês podem sentir a dialética da história em movimento: o imperialismo coloca as tropas no Mar do Caribe, a Venezuela mobiliza o povo venezuelano para enfrentar o imperialismo. Cresce a polarização, de um lado e de outro.

Os regimes europeus estão todos em crise. Existem alternativas que são alternativas anti-imperialistas, como na Inglaterra, por exemplo. E nós, no Brasil, temos que apostar na mobilização popular. Neste momento aqui, o País está em uma espécie de sonolência política, apesar de tudo. Mas isso vai mudar, não vai ficar assim. Vai haver mobilização popular. Os trabalhadores vão se colocar em movimento, como está acontecendo em todo o mundo. O caso da Venezuela mostra a possibilidade.

O caso do Irã já havia mostrado isso. O imperialismo atacou o Irã, cresceu o movimento anti-imperialista no Irã. A mesma coisa a gente está vendo em vários lugares do mundo. Nós caminhamos para uma etapa de uma luta intensa entre a revolução e a contrarrevolução.

Os governos que se opõem ao imperialismo e os trabalhadores do mundo são aliados. Nós não devemos duvidar disso. Nós podemos dizer que os governos têm defeitos, mas o fato principal é que um regime político como o da Venezuela é um importantíssimo, talvez o maior aliado dos trabalhadores latino-americanos neste momento. É nossa obrigação apoiar o povo da Venezuela, que se mobiliza, e apoiar o governo Maduro, que está sendo ameaçado pela agressão imperialista.

Nós estamos pela vitória da Venezuela contra o imperialismo. Nós estamos pela vitória do regime político venezuelano na luta contra o imperialismo.

Este ato ato público, a importância dele é que é o único ato que levantou a questão da Venezuela até o momento. A nossa expectativa é que este seja o primeiro ato público. As tropas norte-americanas estão lá, as coisas vão se desenvolver. É difícil prever o que vai acontecer na Venezuela. Nós podemos especular sobre se o governo Trump está fazendo uma demonstração, que é um jogo de cena, ou se ele tem intenções de maior porte. Se eles vão estabelecer um bloqueio total à Venezuela, se eles vão invadir o território venezuelano. Mas nós devemos dizer claramente: tudo é possível.

Essa mobilização aqui hoje tem que ser o ponto de partido de uma campanha enérgica em defesa da Venezuela e dos povos contra o imperialismo.

Na defesa da Venezuela, nós temos que enfrentar um inimigo dentro de casa. Na última eleição, o bolsonarismo teve quase 50% do eleitorado. A propaganda do bolsonarismo é toda contra a Venezuela. Então, essa luta dos venezuelanos é uma luta aqui também. Contra a extrema direita, contra a burguesia, porque não é só a extrema direita: a burguesia que o pessoal chama de “limpinha e cheirosa” também é contra a Venezuela. Nós temos que enfrentar essa coligação, que, diferentemente de outros momentos, tem uma base popular. Até agora, a esquerda brasileira tem subestimado este fenômeno político. É preciso dividir as forças da direita, é preciso diminuir a base popular da extrema direita, o que só pode ser feito através da luta política, que não vai ser realizado por medidas judiciais.

Nós estamos vivendo um momento de grande ilusão da esquerda nacional, todo mundo comemorando a prisão de Bolsonaro, mas isso não muda absolutamente nada. O bolsonarismo continua sendo uma força. É preciso um trabalho grande na luta de ideias em defesa da Venzeuela. Os venezuelanos estão pegando em armas. A nossa arma, no Brasil, é a palavra. É convencer a população, é mobilizar o povo, é esclarecer o que está acontecendo. É uma luta internacional, internacionalista, mas também nacional.

Diferentemente de outros setores da esquerda, não podemos subestimar a extrema direita. Todo mundo fala que a extrema direita é um perigo e tudo mais, mas ela é subestimada porque as pessoas acreditam que, se você colocar o Bolsonaro na cadeia, você via destruir a extrema direita, que é uma força que tem um fundamento ideológico, que tem ideias políticas, que tem propaganda política. Nós temos que enfrentar esse desafio. Nós temos que fazer uma campanha nacional, chamar outros atos, em outros estados do País. Logo mais à frente, chamar um novo ato em defesa da Venezuela. Nós estamos propondo juntar essa iniciativa com o 7 de outubro, nós precisamos fazer um ato grande no 7 de outubro. Nós temos que conceber essa campanha como uma campanha de longo fôlego, a não ser que o imperialismo amanhã abandone toda essa operação, pelas suas contradições internas, o que não parece ser o que vai acontecer.

Nós podemos vencer, apesar das dificuldades? Sem dúvida nenhuma. A mobilização que está acontecendo na Venezuela neste momento é uma demonstração de que nós podemos vencer. Assim como a resistência palestina vem enfrentando o imperialismo há dois anos, nós podemos vencer na América Latina, nós podemos modificar o quadro político na América Latina e nós temos que fazer isso através da mobilização popular. Nós temos que criar uma consciência em defesa da luta anti-imperialista, em defesa dos países agredidos pelo imperialismo. Nós colocamos vários ali na convocatória do ato, mas tem mais gente sendo agredida pelo imperialismo. O Líbano, por exemplo, está sendo agredido pelo imperialismo. A Síria está sendo agredida pelo imperialismo. O Iêmen está sendo agredido pelo imperialismo. São muitos os países que estão sendo agredidos pelo imperialismo.

Nós chamamos para este ato inúmeros setores políticos. Eu acho que nós conseguimos uma certa confluência de vários setores. Nós temos que levar essa luta adiante e ir ampliando. Chamar os companheiros do PT, do PCdoB, do PSOL, das outras organizações políticas, a criar um forte movimento contra o imperialismo.

Uma coisa que nós temos notado é que há uma incompreensão profunda de um setor da esquerda brasileira. Quando nós falamos em luta contra o imperialismo, eles pensam que a luta contra o imperialismo é uma luta diferente da classe operária contra a burguesia. Não. A luta contra o imperialismo é a luta contra a burguesia.

A burguesia mundial é o imperialismo. A burguesia brasileira, na melhor das hipóteses, é um sócio ultra-minoritário do imperialismo. Quem manda no Brasil não é a burguesia brasileira. Quem tem a fatia maior do poder no Brasil é o imperialismo. Nós temos visto isso sistematicamente. Para nós, a luta anti-imperialista é a luta de classes entre o proletariado e a burguesia. E aqueles países onde a burguesia ainda não foi expropriada são aliados da classe operária na luta contra a burguesia. É importante esclarecer essa questão, porque eu vejo muita gente dizendo que “não é a luta anti-imperialista, isso aí é a divisão do mundo em dois campos”. Não, isso é a luta de classes. Não existe nenhuma burguesia importante no mundo que não seja o imperialismo. A derrota do imperialismo é a derrota da burguesia.

A crise do imperialismo que nós estamos vivendo é a crise do capitalismo. É uma crise revolucionária. Nós temos que ter plena consciência disso. Nós não podemos nos desviar nenhum momento disso, porque é cair na confusão e ficar a reboque de alguma ala do imperialismo, de algum setor do imperialismo. Nós temos que apoiar a Venezuela e nós apoiamos a Venezuela incondicionalmente.

Para nós, a luta da Venezuela neste momento é uma coisa central na luta da classe operária e do povo brasileiro. Então, nós temos que sair daqui com a convicção de que quaisquer que sejam as dificuldades, nós temos que nos esforçar, ir atrás e criar um movimento grande contra o imperialismo, e, neste momento, o movimento contra o imperialismo tem como eixo a defesa incondicional da Venezuela, do povo venezuelano e do governo da Venezuela. Esta é a nossa política, esta é a nossa obrigação, este é o nosso dever, enquanto partido da revolução proletária, da luta de classes. E eu tenho certeza que a Venezuela vai vencer, o povo venezuelano vai vencer.

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Last Update: 13/09/2025