Simon Kofe, ministro das Relações Exteriores, da Justiça e das Comunicações de Tuvalu. Foto: Divulgação

O arquipélago de Tuvalu, no Pacífico, voltou a lançar um alerta dramático sobre os riscos das mudanças climáticas. O ministro do Clima do país, Maina Talia, afirmou em entrevista à agência AFP que a ação contra o aquecimento global é uma “responsabilidade moral” das nações ricas e poluidoras.

Segundo ele, a falta de ambição de países desenvolvidos ameaça acelerar a transformação da pequena nação insular em território inabitável ainda neste século, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam reduzidas. Tuvalu, que já enfrenta inundações frequentes e infiltração de água salgada no solo, firmou um acordo inédito de migração climática com a Austrália.

O pacto garante que cidadãos tuvaluanos possam viver e estudar em território australiano, em uma espécie de rota de escape para a população mais vulnerável. Ainda assim, o governo da ilha insiste que não pretende transferir seu país para outro território, mas apenas garantir um “caminho migratório administrável” caso a situação se agrave.

O impacto da crise já é visível na capital Funafuti, onde marés altas fazem a água avançar até mesmo sobre áreas centrais do atol. Em resposta, moradores vêm cultivando jardins suspensos para manter a produção de alimentos. Paralelamente, o governo começou a mapear em 3D todo o território restante, parte de um projeto para criar a primeira “nação digital” do mundo, preservando de forma virtual o espaço físico que corre risco de desaparecer.

Outra iniciativa é o pedido para que a paisagem cultural das ilhas, com tradições orais, locais sagrados e espaços comunitários, seja reconhecida como Patrimônio Mundial da ONU. O processo deve levar anos, mas é visto como fundamental para garantir que a identidade de Tuvalu não se torne apenas uma lembrança. “Não queremos que Tuvalu vire memória”, disse Talia, ressaltando a importância da preservação cultural.

Imagem aérea do ponto sul da ilha de Funafuti, localizada em Tuvalu. Foto: Divulgação

Apesar do acordo com Camberra, o ministro destacou que o plano de migração não pode ser usado como justificativa para a Austrália continuar ampliando a exploração de combustíveis fósseis. O país é um dos maiores exportadores de carvão do planeta e, ao mesmo tempo, tenta liderar discussões climáticas internacionais. “Não deve ser uma desculpa para a Austrália”, afirmou Talia.

Na visão do ministro, a contradição entre o discurso ambiental e a prática de países desenvolvidos mostra o tamanho da lacuna entre promessas e ações. Ele criticou a exploração de novos combustíveis fósseis por governos que, ao mesmo tempo, se apresentam como líderes no combate à crise climática. “Deveria ser uma responsabilidade moral e deveríamos responsabilizá-los”, declarou.

As Nações Unidas pediram que todos os países apresentem até o fim do mês suas metas de redução de emissões para 2035 e os planos detalhados para alcançar os cortes prometidos. Até agora, grandes poluidores como China, Índia e União Europeia não entregaram os compromissos, considerados cruciais para medir a seriedade das políticas climáticas.

Enquanto isso, Tuvalu tenta manter sua sobrevivência diante da ameaça existencial. “Para nós, tuvaluanos, o desaparecimento não faz parte de quem somos. A resiliência está em nosso DNA”, disse Talia. Mas o ministro fez questão de destacar que, diferentemente das potências, sua nação não trata a questão como disputa de números ou metas: “Para Tuvalu, trata-se da nossa própria sobrevivência”.

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Last Update: 13/09/2025