Luis Fernando Verissimo, que morreu aos 88 anos neste sábado. Foto: reprodução

Entre 1970 e 1985, o escritor Luis Fernando Verissimo foi alvo de intensa vigilância dos órgãos de inteligência da ditadura militar. Relatórios e dossiês guardados no Arquivo Nacional o classificavam como integrante da “esquerda festiva”, de “linha esquerdista e contestatória”, destacando sua colaboração em jornais alternativos e críticas irônicas ao regime. Verissimo, criador da Família Brasil, morreu em 30 de agosto de 2025, aos 88 anos, em Porto Alegre. As informações são da BBC.

No mais antigo documento encontrado, de 1970, agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) afirmavam que suas crônicas, publicadas na Folha da Manhã, ridicularizavam o governo. Textos oficiais o descreviam como “um marxista em potencial”, que usava o futebol como recurso para inserir críticas políticas. Até mesmo charges esportivas foram interpretadas como sátiras contra ministros, como no caso de uma tirinha de 1977 que comparava o time do Internacional ao gabinete federal.

Os relatórios apontavam ainda a participação de Verissimo em jornais da chamada imprensa alternativa, como o periódico Risco, da L&PM Editores. Para os agentes, esse ambiente reunia “a maior concentração de comunistas, esquerdistas e anarquistas do jornalismo gaúcho”. Em 1976, sua entrada como colunista na revista IstoÉ, ao lado de nomes como Millôr Fernandes e Plínio Marcos, também foi registrada como sinal de alinhamento oposicionista.

O escritor Luis Fernando Verissimo. Foto: Reprodução

A vigilância chegava a extremos considerados banais. Um informe do SNI de 1977, por exemplo, criticava o fato de Verissimo trabalhar em campanhas publicitárias da Rhodia, acusando-o de ser contraditório por criticar o regime e, ao mesmo tempo, produzir para uma multinacional. Para especialistas, esse monitoramento constante demonstra a perseguição que humoristas e cronistas sofreram durante o regime.

Segundo o escritor Márcio Pinheiro, a censura via no humor uma ameaça direta por sua capacidade de crítica popular. Mesmo assim, Verissimo construiu um estilo mais refinado e delicado, que lhe permitiu relacionar temas como futebol e política de forma irônica, mantendo uma marca distinta dentro da imprensa nanica e dos grandes veículos.

Companheiro de Verissimo na Folha da Manhã, o cartunista Edgar Vasques também foi alvo da repressão, chegando a responder processo na Polícia Federal por uma charge no Pasquim. Vasques lembra que, apesar do cerco, Verissimo não demonstrava preocupação pública com a vigilância, consolidando-se como uma das vozes mais originais contra o autoritarismo.

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Last Update: 13/09/2025