O dólar fechou a sexta-feira (11) em R$ 5,3537, no menor valor em 15 meses, acumulando queda de 13,36% no ano. O movimento contrasta com a valorização da moeda norte-americana no mercado global e reflete uma combinação de fatores domésticos e internacionais: a manutenção da Selic em 15%, expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) e a ausência de retaliações imediatas dos Estados Unidos após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O peso dos juros

No curto prazo, a diferença entre os juros dos EUA e do Brasil segue como principal motor da valorização do real. A Selic em 15% mantém o país atrativo para investidores estrangeiros, que buscam rentabilidade em um ambiente global de expectativas de cortes pelo Fed.

Esse diferencial de juros amplia a entrada de dólares no país, fortalecendo o real. Porém, especialistas alertam que o movimento também carrega riscos: juros tão altos têm efeito recessivo sobre a economia doméstica, pressionam empresas e consumidores já endividados e podem frear a atividade econômica, como mostram os dados recentes de inadimplência.

Política e incertezas externas

A política também atua como variável de risco. A condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses pelo STF elevou a tensão nas relações entre Brasília e Washington. O presidente dos EUA, Donald Trump, já havia imposto uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros em julho, citando o julgamento de seu aliado como justificativa.

Embora nenhuma nova medida tenha sido anunciada nesta semana, declarações do secretário de Estado, Marco Rubio, de que os EUA “responderão adequadamente à caça às bruxas” mantêm os mercados em alerta.

Efeitos da valorização do real

A queda do dólar traz benefícios imediatos para consumidores e para o combate à inflação, ao baratear produtos importados e insumos industriais. Também ajuda a reduzir os custos de empresas dependentes de componentes externos, além de melhorar a previsibilidade de preços em setores como combustíveis e tecnologia.

Mas, ao mesmo tempo, há desvantagens significativas:

  • Exportadores brasileiros perdem competitividade em mercados internacionais, já que recebem menos em reais por cada dólar exportado.
  • O agronegócio, responsável por boa parte do superávit comercial, pode ver margens de lucro comprimidas.
  • A indústria nacional enfrenta maior concorrência de produtos importados mais baratos, o que pode comprometer a produção doméstica e o emprego.

Banco Central em campo

O Banco Central atuou nesta sexta-feira com a venda de US$ 1 bilhão em leilões de linha e 40 mil contratos de swap cambial, ambos para rolagem de outubro. A operação buscou dar liquidez ao mercado, sem alterar a tendência de queda do dólar.

Perspectivas

A tendência de curto prazo, segundo analistas, é de continuidade do movimento de queda, com possibilidade de o dólar testar o piso de R$ 5,30. Mas o cenário segue sujeito a choques externos e domésticos: Um corte de juros antes do esperado pelo Fed pode acelerar a desvalorização do dólar no Brasil.

Por outro lado, novas retaliações comerciais de Trump ou um agravamento da crise política interna podem inverter rapidamente a trajetória.

A valorização do real, portanto, é sintoma de um equilíbrio frágil: ao mesmo tempo em que reduz pressões inflacionárias, expõe a economia às vulnerabilidades de juros altos, tensões políticas e dependência das exportações.

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Last Update: 13/09/2025