Protesto contra decisão dos EUA de reduzir significativamente as ações da Usaid, em Washington — Foto: Drew Angerer / AFP

O governo do presidente estadunidense Donald Trump determinou a destruição de cerca de R$ 52 milhões em contraceptivos adquiridos pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). O material incluía pílulas, dispositivos intrauterinos e implantes hormonais destinados a programas de saúde em países de baixa renda, mas acabou incinerado após meses de armazenamento em um depósito na Bélgica. A ordem partiu do Departamento de Estado, que alegou que a contracepção não era “vital” e não seria mais financiada.

Documentos obtidos pelo New York Times mostram que organizações internacionais como a Fundação Gates e a Fundação CIFF ofereceram-se para comprar ou receber como doação os contraceptivos, o que evitaria prejuízo aos cofres públicos. Mesmo assim, a Casa Branca optou pela destruição, a um custo adicional de quase R$ 900 mil. O porta-voz da Usaid alegou falsamente que os métodos eram “abortivos”, embora a própria agência seja proibida por lei de adquirir esse tipo de produto.

Segundo especialistas em saúde global, nenhum dos itens destruídos tinha relação com aborto. Os métodos listados, como implantes hormonais, atuam apenas na prevenção da ovulação e da fertilização. O posicionamento do governo gerou críticas de entidades internacionais, que consideraram a decisão “um ato de crueldade” com impacto direto na vida de milhões de pessoas em países pobres.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Carlos Barria/Reuters

Beth Schlachter, diretora da MSI Reproductive Choices, afirmou que a medida vai custar vidas e atrasar o progresso em saúde reprodutiva. “Privar milhões de pessoas das ferramentas básicas para planejar famílias e proteger sua saúde é um ato ultrajante”, disse. A destruição também foi alvo de protestos diplomáticos da Bélgica, que tentou barrar a incineração por meio de proibições legais à queima de produtos médicos utilizáveis.

A decisão foi tomada em junho por Jeremy Lewin, alto funcionário do Departamento de Estado responsável por assistência externa. Em e-mail interno, ele descreveu a incineração como “a opção mais barata” e mais alinhada às “preocupações significativas do governo com o financiamento dessas atividades”. Autoridades belgas tentaram intervir até julho, mas não conseguiram impedir a execução.

O episódio se soma ao desmonte da Usaid promovido pela gestão Trump, que transferiu contratos de ajuda externa ao Departamento de Estado e anunciou o fechamento definitivo da agência. Para analistas, o caso simboliza a guinada ideológica da política externa estadunidense e representa um duro golpe para iniciativas globais de saúde e planejamento familiar.

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Last Update: 13/09/2025